Gestores adiam contratações em Miami por suspensão de vistos
A corrida por talentos entre gestores de patrimônio dos Estados Unidos que apostam em dinheiro da América Latina enfrenta um obstáculo.
Empresas de consultoria que buscam se expandir em cidades com fortes vínculos com a região, como Miami, agora são obrigadas a adiar as contratações depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, suspendeu a emissão de uma série de vistos de trabalho.
A proibição começa a pesar, pois a fuga de capitais da América Latina tem aumentado com a pandemia de Covid-19 e com a instabilidade econômica e política que assolam a região.
O patrimônio pessoal na América Latina subiu para US$ 5,6 trilhões no ano passado em comparação com os US$ 2 trilhões em 2009, de acordo com o Boston Consulting Group.
Com mais dinheiro a ser administrado e mais razões para clientes do exterior buscarem gestores de patrimônio dos EUA, as contratações se tornaram essenciais.
“Você não pode simplesmente continuar recorrendo às mesmas pessoas mudando-as de lugar”, disse Dany Roizman, fundador da Brainvest Wealth Management, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Genebra e Miami.
A empresa administra R$ 9 bilhões em ativos. “Você realmente precisa de mais pessoas porque o setor está crescendo.”
Assim como empresas de tecnologia dos EUA dependem de vistos para trazer talentos do exterior, muitas firmas de patrimônio com clientes latino-americanos dizem que o recurso é fundamental.
Consultores provenientes dos mesmos países que seus clientes são mais propensos a compartilhar conexões e entender melhor seus objetivos financeiros.
Embora empresas de patrimônio estabelecidas possam contornar a decisão de Trump, outras que procuram ganhar presença nos EUA podem ficar emperradas.
Neste ano, Roizman queria contratar dois funcionários para seu escritório de quatro pessoas em Miami, a primeira unidade da empresa no mercado americano. Os planos foram adiados.
O Banco Santander, que nos EUA atende latino-americanos ricos por meio de sua unidade de private bank em Miami, está adiando algumas contratações e planeja prosseguir assim que a medida do governo americano for suspensa, segundo um porta-voz.
A ordem de Trump inclui a suspensão de vistos para transferências entre empresas e também estende a proibição anterior de novos green cards até o fim do ano. A medida não afeta trabalhadores que já possuem vistos.
Os EUA têm cerca de 3 mil consultores financeiros que trabalham principalmente em grandes corretoras e atendem clientes internacionais de alto patrimônio, de acordo com estimativa de José Salazar, responsável por vendas nos EUA da Insigneo Securities, com sede em Miami. Muitos desses consultores nasceram no exterior e têm contatos com pessoas ricas nesses países.
“O trabalhador americano comum, a menos que tenha uma rede de clientes de alto patrimônio líquido no México ou no Brasil, não terá esse conjunto de habilidades”, disse Alan Goldstein, presidente da Avior Executive Search.