Economia

Gestora Fama, que administra R$ 2,1 bi, alerta para impacto econômico da crise na Amazônia

28 ago 2019, 14:25 - atualizado em 28 ago 2019, 15:24
Consequências da questão da Amazônia podem incluir sanções econômicas sobre exportações, especialmente para a Europa, segundo gestora (Imagem: Leonardo Carrato/Bloomberg)

A FAMA Investimentos, gestora de recursos fundada há mais de duas décadas, diz que os atuais focos de queimada na Amazônia podem ensinar algo aos investidores brasileiros.

A FAMA, que administra cerca de R$ 2,1 bilhões em ativos, disse que a questão da Amazônia pode trazer sérias consequências econômicas, segundo uma carta enviada aos clientes.

“Foi preciso ficar à beira do abismo fiscal para que a reforma da Previdência fosse aprovada”, escreveram Fabio Alperowitch e Mauricio Levi, da FAMA. “Agora, temos que assistir a Amazônia queimando para que o tema ganhe a relevância que merece.”

O Brasil e as políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro estão sob pressão, com mais de 75.000 focos de incêndio registrados no país este ano, um aumento de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O salto provocou uma reação internacional pedindo ação imediata e uma resposta feroz do governo, com farpas trocadas com líderes de outros países – especialmente com o presidente francês Emmanuel Macron.

A FAMA diz que a questão ambiental, geralmente vista por empresas e investidores brasileiros como uma preocupação menor, pode trazer “sérias consequências econômicas ao país”, que podem incluir sanções econômicas sobre exportações, especialmente para a Europa.

“Não podemos descartar um recuo no histórico acordo entre a União Europeia e o Mercosul”, segundo a carta.

Na semana passada, Macron ameaçou bloquear o acordo comercial entre a UE e o Mercosul, dizendo que Bolsonaro havia mentido sobre seu compromisso de combater as mudanças climáticas. Na terça-feira, o governo da Noruega alertou empresas com presença no Brasil para evitar qualquer atividade relacionada ao desmatamento, enquanto o governo sueco estaria avaliando se os investimentos de fundos de pensão no país e no resto da América do Sul cumprem as metas de sustentabilidade.

O Brasil é o país pesquisado com menor preocupação dos conselhos de administração de companhias em relação ao tema de mudanças climáticas, diz a FAMA, citando um relatório do CDP, um grupo de pesquisa britânico sem fins lucrativos que coleta e classifica dados ambientais corporativos. Cerca de 50% das empresas do país dizem que seus conselhos tratam dessas questões, em comparação com 60% nos EUA e 87% na Europa, segundo o relatório, que compilou dados de 6.937 empresas.

A gestora de recursos diz que usa critérios ambientais, sociais e de governança para filtrar o universo de empresas nas quais investe. A locadora de carros Localiza, a produtora de papel e celulose Klabin e a agência de viagens CVC estão entre as principais posições do fundo, disse Alperowitch em mensagem por e-mail. O FAMA FIC FIA, o carro-chefe da empresa, teve retorno de 16,6% no acumulado do ano, comparado a um retorno de 11,1% do índice Ibovespa, usado como referência pelo fundo.