Money Times Entrevista

Sem apostas contra Bradesco (BBDC4) e ‘bola de neve’ em BB (BBAS3); as visões de gestor da Mantaro sobre bancos

29 maio 2025, 10:35 - atualizado em 30 maio 2025, 10:43
bancos-empresas-acoes
No período, o lucro dos quatro bancos somados subiram 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Alos Ayta (Imagem: Freepik)

Os bancos tiveram um primeiro trimestre com fortes emoções. Todas as ações reagiram aos balanços, com Bradesco (BBDC4) disparando 14%, Santander (SANB11) 8% e Itaú (ITUB4) 5%. Já o Banco do Brasil (BBAS3) foi o patinho feio da temporada, com tombo de 12%.

No período, os lucros dos quatro bancos somados subiram 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Elos Ayta. Só o Itaú atingiu o maior lucro já registrado por um banco brasileiro listado na B3 para um primeiro trimestre: R$ 10,5 bilhões, alta de 9,6%.

Apesar disso, o lucro das instituições teve queda de 4,1% frente ao quarto trimestre, quando o lucro somado dos quatro grandes bancos chegou a R$ 28,01 bilhões.

Segundo o gestor da Mantaro, Pedro Gonzaga, em entrevista ao Money Times, o mercado esperava resultados mais fracos, já que havia uma preocupação com a forma, que foi a implementação da Resolução 4966 do Conselho Monetário Nacional.

“Tinha um temor grande sobre o impacto disso nos números — o que isso exigiria em provisões adicionais, que outros efeitos teriam em linhas de receita, como tarifas, e quanto isso poderia mostrar um desempenho pior dos bancos em comparação ao padrão contábil antigo”.

Porém, não foi exatamente o que aconteceu, com exceção do Banco do Brasil. Na entrevista, o gestor explica o grande erro e como o banco pode estar ‘jogando’ o problema para frente.

Além disso, Gonzaga também falou sobre o Bradesco. Apesar de não ter o banco na carteira, diz que não ‘apostaria contra’ a ação nesse momento.

Entre apostas do gestor, destaque para Itaú e também BTG (BPAC11), “que de fato está em um momento muito positivo”.

“Além deles, temos uma posição menor no Inter (INBR32), que é mais voltado para o varejo digital. Gostamos também de algumas fintechs. Uma posição que temos hoje é na Stone, que está no setor de adquirência, mas que, como outras empresas do setor financeiro, vem ampliando seu escopo de atuação”.

Veja a entrevista abaixo:

Money Times: O mercado estava muito pessimista com bancos e os resultados surpreenderam? Itaú, Bradesco e Santander dispararam. O que estava desregulado nas expectativas?

Pedro Gonzaga: Acho que temos várias peças móveis para endereçar. Primeiro, questões de forma e conteúdo.

Havia uma preocupação com a forma, que foi a implementação da Resolução 496 do Conselho Monetário Nacional. Essa resolução muda as normas contábeis aplicadas às instituições financeiras em vários aspectos.

Na primeira leitura, esse temor foi um pouco apaziguado — salvo o caso do Banco do Brasil, que tem um contexto um pouco diferente.

Mas é uma “primeira impressão” porque a norma ainda é nova, e analistas e investidores ainda estão aprendendo como avaliar melhor a qualidade dos números sob esse novo regime. Mesmo assim, a primeira leitura foi positiva.

Outro ponto de atenção era a qualidade da carteira. Havia um receio de deterioração do crédito por causa do aperto monetário recente. Mas o que se viu, de forma geral, foi uma boa qualidade de carteira, com bons sinais nos três grandes bancos privados.

Money Times: E, na sua avaliação, quem entregou o melhor resultado?

Pedro Gonzaga: Em termos absolutos, foi o Itaú. Mas como já se espera muito do Itaú, não foi uma surpresa tão grande. A maior surpresa veio do Bradesco, sem dúvida.

Então, nesse sentido, foi o melhor resultado. Mas, repito, em termos absolutos ainda está distante do Itaú — o ROE é bem mais baixo, o balanço é menos robusto, com menos colchões e salvaguardas.

Mas considerando a diferença entre expectativa e entrega, o Bradesco teve o melhor resultado.

Money Times: E falando do Banco do Brasil, você acha que o banco errou ao focar tanto no agronegócio? 

Pedro Gonzaga: Eu não diria que foi um erro estratégico focar no agro. Isso faz parte da essência do Banco do Brasil como banco estatal.

É uma das fortalezas dele — atuar como agente das políticas públicas para o setor, com o Plano Safra e outras iniciativas. Historicamente, o produtor rural é um bom tomador de crédito, fiel ao Banco do Brasil.

O que me parece ter sido um erro foi a política de crédito adotada em determinado momento — menos conservadora do que deveria.

Houve uma sequência de safras muito boas, com a renda do produtor atingindo níveis recordes. E o problema de um ciclo de bonança é que ele leva a decisões de crédito mais frouxas, baseadas num momento muito positivo.

Com a reversão da renda do produtor — especialmente soja e milho —, muitos desses financiamentos deixaram de caber no fluxo de caixa.

O Banco do Brasil ainda está lidando com isso. A falha, portanto, foi ter concedido crédito em excesso no pico do ciclo e, agora, empurrar o problema para frente, prorrogando dívidas em vez de enfrentá-las. Isso me preocupa, porque pode se tornar uma bola de neve.

Money Times: E você acredita que o ROE do Banco do Brasil vai ficar abaixo de 20% nos próximos trimestres?

Pedro Gonzaga: Acredito que sim. Na verdade, de forma realista, ele já estaria abaixo de 20% se a provisão estivesse no nível adequado.

O banco fez 20% no último trimestre, mas se tivesse provisionado o que realmente precisa, o número já seria mais baixo.

Agora, é difícil cravar isso porque os bancos têm certa flexibilidade contábil para suavizar o resultado — seja com reconhecimento ou reversão de provisões.

Mas se isso for levado ao limite, uma hora o banco terá que reconhecer tudo de uma vez — o que geraria um resultado pior lá na frente. A dinâmica atual indica deterioração nos próximos trimestres.

Money Times: E pensando no ano que vem, com eleições, você vê risco de interferência política no Banco do Brasil?

Pedro Gonzaga: Acho que é um ponto importante. Tem que separar fundamento e reação de preço.

Do lado da ação, o mercado pode antecipar uma melhora com a expectativa de uma gestão mais pró-mercado. Isso pode gerar uma reprecificação positiva. Mas depende do nível de preço e de como os resultados evoluírem até lá.

No fundamento, até que uma nova gestão assuma (caso aconteça), há preocupação com decisões que priorizem interesses do governo em vez da saúde do banco.

Pode haver concessão de crédito mais agressiva para estimular a economia ou agradar públicos específicos.

Também há a questão do pagamento de dividendos: o governo pode pressionar para distribuição máxima visando o resultado primário, mesmo que isso aumente o risco de alavancagem do banco.

Money Times: Você acha que o Bradesco se provou nesse trimestre? Dá para acreditar em continuidade? Ou foi mais um trimestre atípico, como vimos no ano passado?

Pedro Gonzaga: Não tenho uma opinião muito forte ainda, mas acho que, se for voo de galinha, ao menos será um voo mais longo que o do ano passado.

A surpresa veio em várias frentes — a margem financeira surpreendeu positivamente com a redução no custo de captação, e isso é sustentável, especialmente em um cenário de juros ainda altos.

Também tem o controle de inadimplência, que segue dando sinais positivos. Então, a receita de crédito pode continuar forte, com provisões sob controle. O desafio está no que vem adiante: como o ciclo de crédito vai evoluir.

No segmento de PMEs, por exemplo, o próprio Itaú já disse esperar aumento da inadimplência à frente, porque hoje está artificialmente baixa por causa de garantias públicas (FGO, Pronampe etc.). E o Bradesco cresceu muito nessas linhas.

Na pessoa física, o desafio é maior: o Bradesco é muito exposto à baixa renda, que é mais sensível à deterioração macroeconômica.

O banco precisa melhorar o modelo de concessão e o custo de servir esse público. Por enquanto, os sinais são positivos.

Não apostaria contra o Bradesco hoje, mas também ainda não apostaria com firmeza a favor.

Money Times: E o Santander? Também vem se recuperando, subindo bem no ano. Ele está na mesma cesta do Bradesco ou já está em outro estágio?

Pedro Gonzaga: Ele está mais avançado no processo. O Santander já vem há mais tempo entregando ROE em crescimento — ou ao menos estável — trimestre após trimestre. A carteira já foi ajustada, a inadimplência está sob controle, e o banco já apresentou resultados consistentes, o que gera mais confiança.

O Bradesco deu agora o primeiro sinal. Se mantiver esse ritmo, também pode gerar essa mesma confiança. Mas o Santander já parece ter virado a página.

Money Times: Qual é o teto do Itaú? Todo trimestre ele entrega mais

Pedro Gonzaga: O desafio do Itaú é justamente esse: ele já é tão bom que fica difícil melhorar muito mais. Ainda assim, há alguns vetores. A rentabilidade consolidada continua muito alta, e há histórias diferentes dentro do banco. Houve um tempo em que o varejo ia mal e o atacado, muito bem. Agora, o varejo está melhorando, enquanto o atacado segue forte.

Ainda há espaço para o varejo melhorar, especialmente em carteira de crédito e controle de custos. Isso pode gerar incrementos de rentabilidade.

Além disso, o Itaú é um banco capitalizado e muito lucrativo — isso dá flexibilidade para alocar capital de forma eficiente. Se surgirem oportunidades para acelerar carteira de crédito ou fazer aquisições, o Itaú está mais preparado que os concorrentes.

Por fim, há iniciativas novas, como a plataforma digital que eles estão lançando.

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Linkedin
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
Linkedin
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual — toda semana, com curadoria do Money Picks

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar