Money Times Entrevista

Gestor da Rio Bravo não descarta nova alta da Selic, com eleições nos EUA e outra preocupação no radar; veja

29 jul 2024, 15:04 - atualizado em 30 jul 2024, 9:43
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Gestor da Rio Bravo não descarta nova alta da Selic (Imagem: Reprodução/Rio Bravo)

A inflação corrente brasileira e as eleições dos Estados Unidos (EUA) são questões determinantes para o rumo da taxa Selic, afirma o gestor da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini.

O gestor diz que “muitas razões” dificultam o controle do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos próximos meses. A avaliação vem após uma prévia da inflação acima das expectativas em julho.

“Nós esperamos que o IPCA feche perto de 4% este ano, mas os serviços têm que cair para a inflação estabilizar”, afirmou em entrevista ao Money Times.

Quanto ao cenário externo, Buccini destaca que uma eventual eleição de Donald Trump pode pressionar o fiscal norte-americano e, consequentemente, impactar o Brasil. “Pode ser um gatilho para um cenário ruim e o Banco Central brasileiro eventualmente tem que subir os juros no final do ano”, diz.

O mercado, inclusive, precifica uma alta da Selic ainda em 2024 na curva de juros, mas o Focus não vê alterações na taxa até o final do ano.

Para a reunião desta semana, o gestor, assim como a maioria do mercado, espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha os juros brasileiros no patamar de 10,50%. A decisão será divulgada na quarta-feira (31), após o fechamento do mercado. 

Confira a entrevista com o gestor Evandro Buccini, da Rio Bravo

Money Times: O mercado já está convencido sobre a manutenção da Selic na reunião desta semana. Mas o que esperar do tom do comunicado?

Evandro Buccini: Depois da volatilidade por conta da votação divida, o Copom precisou explicar muita coisa no último comunicado.

Para reunião desta semana, o mercado não mudou muito e, internamente, não esperamos grandes divisões. Eles vão acabar repetindo muita coisa tanto do statement quanto da ata da reunião anterior.

Na minha opinião, é isso que eles realmente devem fazer para evitar volatilidade. Não tem nenhuma vantagem para o Banco Central começar a trazer assuntos futuros por hora.

Money Times: Por que o mercado precifica novas altas da Selic na curva de juros?

Evandro Buccini: É uma combinação. Tem prêmio de risco, que é fruto dos ruídos internos, mas há também a visão de que existe, de fato, uma probabilidade de a taxa de juros ter que subir.

Para essas altas sumirem, é preciso tanto reduzir o prêmio de risco quanto melhorar o cenário para minar a probabilidade de alta. Essa probabilidade de alta vem do cenário interno e do externo, que é o que me preocupa mais.

O doméstico está mais ou menos igual e o externo está bem melhor, com um cenário mais previsível, mas a eleição dos Estados Unidos é um assunto bem importante. Eu não descartaria uma alta por conta das eleições.

Money Times: O IPCA-15 de julho veio acima das expectativas. A inflação corrente pode voltar a preocupar o Banco Central? E as expectativas?

Evandro Buccini: As expectativas estão estáveis, mas em um patamar de desancoragem. No longo prazo, a expectativa da inflação está muito longe da meta, por conta do prêmio de risco. Eu não vejo esse prêmio cedendo tão cedo.

Já em relação à inflação corrente, é uma questão relevante — talvez a mais relevante para o Brasil. O IPCA-15 de julho foi bem ruim, com alguns itens de serviço, principalmente, surpreendendo para cima. Tem que ficar com o radar ligado mesmo.

O câmbio onde está, o mercado de trabalho super apertado, o impulso fiscal positivo… há muitas razões para que essa inflação se mostre difícil de jogar para baixo nos próximos meses. Por isso, não achamos que tem espaço para cortar juros.

Nós esperamos que o IPCA feche perto de 4% este ano, então fica mais ou menos estável. No entanto, os serviços têm que cair para a inflação estabilizar.

Money Times: O fiscal deve continuar pressionando o cenário brasileiro?

Evandro Buccini: O fiscal aqui no Brasil, obviamente, é o que tem deixado as pessoas mais preocupadas, mas não deve ter grandes surpresas até o final do ano. O governo vai continuar empurrando com a barriga. Só que empurrar com a barriga dentro de um cenário externo benigno é bom.

Se o cenário externo continuar a atuar com mais previsibilidade, com a inflação revertendo e a eleição não preocupando, é capaz do Federal Reserve conseguir cortar juros este ano. Isso vai ser ótimo para o Brasil, mesmo sem resolver nada do fiscal.

No entanto, em caso de um cenário maligno no exterior, aqui também pode piorar. O dólar vai estressar e tudo vai começar a ficar mais agudo.

Money Times: O que esperar dos juros dos EUA?

Evandro Buccini: Nós acreditamos que dá para cortar os juros norte-americanos uma vez, mas mais para o final deste ano. Nas reuniões de julho e setembro, eu acho muito cedo. 

Os EUA não teriam muito a perder se esperassem novembro para cortar juros, após as eleições. Deve ficar para novembro ou dezembro. 

O cenário alternativo é o Federal Reserve não conseguir cortar, por conta da eleição, mesmo com os dados melhores da inflação.

Money Times: Eleição nos EUA preocupa para o cenário brasileiro?

Evandro Buccini: Se o Trump ganhar falando que vai cortar impostos e subir gastos, podemos esperar uma reação parecida com o que foi na eleição de 2016, quando o mercado estressou. Esse déficit pode ser um gatilho para um cenário ruim e o Banco Central brasileiro eventualmente precisar subir os juros no final do ano. 

Se Trump for moderado, o que sabemos que não é o seu forte, dá para escapar desse cenário pior. Já em um cenário de vitória dos democratas, é mais neutro.

Money Times: A volta dos cortes da Selic saiu do radar?

Evandro Buccini: Este ano, acredito que sim. Consigo construir um cenário benigno que dê para cortar os juros uma vez em 2024, mas a probabilidade de acontecer é baixíssima. Esse cenário dependeria dos EUA se concretizando, do dólar caindo bem, do governo diminuindo o ruído e indicando um presidente do Banco Central que tenha credibilidade.

Se ele indicar um cara hawkish para o BC, automaticamente, o mercado vai tranquilizar e é capaz do Campos Neto mesmo voltar a cortar os juros. No entanto, isso depende do governo diminuir as tensões, coisa que não parece que vai acontecer no curto prazo.

Todas as sinalizações de política fiscal não indicam grandes reformas. [A contenção orçamentária de R$ 15 bilhões] não é um corte de gasto estrutural, é só continha para fechar o ano.

Para o ano que vem, vejo um cenário mais benigno, com dois cortes de 0,50 ponto percentual na Selic. Se o exterior permitir e o governo fizer algum corte crível, tem espaço.

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