Geopolítica comercial chinesa é uma no cravo e outra na ferradura, sai carne australiana, entra americana
Quando se trata de se defender comercialmente, a China esquece a geopolítica. Ou, melhor, dá uma no cravo e outra na ferradura em nome do pragmatismo comercial milenar.
O exemplo mais acabado é que enquanto foi diminuindo suas importações de carne bovina da Austrália, foi aumentando as compras do produto dos Estados Unidos.
Pequim tenta punir os australianos, que abriu investigação contra a origem do coronavírus na China, certamente sob influência desde ainda o governo Trump, e agora entra na disputa quanto ao domínio marítimo e territorial na região Indo-Pacífico. Os EUA e a Grã-Bretanha vão armar a Austrália com submarinos nucleares.
Retalia o mentorado, mas não o mentor, porque precisa da carne dele para compor as necessidades da população, sem aumentar mais ainda a dependência do Brasil. E carne mais cara que a dos outros dois.
Até julho, as compras originadas nos EUA cresceram 1.000% sobre o mesmo período de 2020. E no acumulado até setembro está chegando a 140 mil toneladas, sem contar Hong Kong, segundo dados do USDA compilados pelas mídias americanas especializadas, como o The Cattle Site.
E de janeiro a agosto, os australianos perderam metade das exportações consolidadas nos mesmos oito meses do ano passado. Ficaram em 96 mil/t.
Os frigoríficos americanos já são os principais fornecedores de carne de boi criado a grãos, em confinamento.
E se houver problemas de abastecimento no mercado local, encarecendo a carne a partir da diminuição do rebanho – como o governo já alertou -, os americanos manobram muito bem seu pragmatismo comercial, adquirindo mais do Brasil. A Marfrig (MRFG3), inclusive, está com mais duas novas plantas habilitadas exportando para lá.