Meio Ambiente

Gelo de verão deve sumir do Ártico em 2035, alertam cientistas

17 ago 2020, 12:41 - atualizado em 17 ago 2020, 12:41
Ártico Groenlândia
Esta é a mais recente pesquisa entre tantas que adiantaram a data esperada para atingir o marco histórico do Ártico sem gelo (Imagem: Unsplash/@william_bossen)

Há uma imagem da Terra vista do espaço que temos em mente: vastos mares azuis, faixas verdes de florestas e placas brancas congeladas em cima e embaixo. Em meados de 2035, essa imagem pode não espelhar a realidade.

Cientistas estimam que, em apenas 15 anos, o gelo pode desaparecer durante o verão no Ártico, pela primeira vez desde que os primeiros humanos saíram da África.

“A questão é que isso vai acontecer em breve”, diz Maria-Vittoria Guarino, que modela o sistema terrestre na Pesquisa Britânica da Antártida e foi a principal autora de um estudo publicado no início deste mês na revista Nature Climate Change. “Teremos cada vez menos tempo para nos prepararmos para isso, ou menos tempo para agirmos se quisermos fazer algo a respeito.”

Esta é a mais recente pesquisa entre tantas que adiantaram a data esperada para atingir o marco histórico do Ártico sem gelo. A quantidade de gelo marinho que flutua no Oceano Ártico no final do verão vem diminuindo aproximadamente 13% por década desde 1979. Todos os 13 anos com a menor extensão de gelo registrada aconteceram nos últimos 13 anos e este verão tem tudo para ser o 14º.

A estimativa de 2035 calculada por Guarino e seus colegas se baseou no que se sabe sobre o clima passado. Cientistas reuniram evidências sobre eras passadas a partir de substâncias químicas encontradas no gelo, rochas e sedimentos.

O novo estudo do Ártico foca especificamente em um período ocorrido 130.000 anos atrás, conhecido como o Último Interglacial.

Esse período foi 4°Celsius mais quente do que a era pré-industrial — uma previsão plausível das condições que os humanos estão criando para o futuro. O aquecimento atual médio já está em torno de 1°C e o Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que o resto do planeta.

A pesquisa de Guarino se junta a um debate sobre o ritmo de aquecimento global. Alguns modelos recém-atualizados, como o que a equipe dela usou, sugerem que o aquecimento ocorrerá muito mais rápido do que se pensava. Mas cientistas ainda discordam sobre os resultados da modelagem.

Estimativas como essas vêm com muitas incertezas, que deixam em aberto a possibilidade de que o gelo possa durar mais tempo, avalia Zachary Labe, que faz pós-doutorado em ciências atmosféricas na Universidade Estadual do Colorado.

“Eu também hesitaria em focar demais no ano de 2035”, diz ele. “É desafiador prever o primeiro momento do Ártico sem gelo.”

Neste ano, cientistas da Universidade Estadual da Carolina do Norte e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA usaram um modelo diferente para chegar a uma data semelhante de 2035 para o verão ártico sem gelo.

Por “sem gelo”, os cientistas entendem uma extensão de menos de 1 milhão de km². O nível mais baixo em registro foi de 3,4 milhões de km² em 2012.