Geadas: cana da próxima safra pode ser mais afetada; perigo é repetição do fenômeno
As geadas do final de semana que atingiram várias regiões produtoras de cana estão sendo melhor avaliadas quanto ao impacto nas lavouras. Mas, a princípio, apesar da intensidade do frio, elas foram mais acentuadas nas áreas de baixadas e nos lugares mais expostos ao vento. E, com certeza, mais visivelmente na palhada.
O potencial prejuízo do frio queimando a cana que ainda será cortada em final de safra precisa de mais alguns dias para ser verificado.
O risco maior é a freqüência com que as geadas podem ocorrer daqui para frente, mesmo que a intensidade pode não ser tão grande como foi visto nestes últimos dias.
Na região paulista de Lençóis Paulista, com 129 mil hectares registrados na Ascana, as temperatura beiraram 1 grau, e atingiu as áreas recém-colhidas, de modo que pode atrapalhar a cana da safra 19/20. Trata-se, na maioria dos casos, de cana soca, a rebrota da que foi cortada.
Já a cana que vai a corte no final de safra, de setembro/outubro em diante, Luiz Carlos Dalben, presidente da Ascana, vai esperar uns cinco dias para ver o estrago nas ponteiras, queimando a gema apical. E prejudicando o crescimento.
Aliás, com 19 graus, a cana já cessa o crescimento, apesar de que há uma melhora da qualidade da sacarose, enquanto afeta o volume de matéria-prima.
No Paraná, onde a região Noroeste detém a maior lavoura, quase todo os 600 mil hectares plantados no estado, Miguel Tranin, presidente da Alcopar, está aguardando a avaliação das usinas. Ainda há 60% da cana desta safra para irem às esteiras, sendo que a metade entra no corte no último terço. Também se espera para se avaliar o resultado nas ponteiras.
Nas baixadas e na face sul dos canaviais, da onde veio o vento, a situação é mais preocupante, pela sensação térmica maior. E na palhada, com certeza algum prejuízo terá, “já que dois dias antes das geadas houve uma chuva boa e, portanto, a umidade que ainda estava sobre a cana soca congela mais rápido”, explicou Tranin, que espera 35 milhões de toneladas de cana paranaense nesta safra.
No Mato Grosso do Sul, com vastas planícies, certamente a exposição ao vento está no radar dos produtores, que estão fazendo o levantamento. Mas para Roberto Hollanda Filho, presidente da Biosul, entidade dos produtores locais, também há áreas mais críticas nas baixadas, no entanto, como as geadas no estado são bastante comuns, ele acredita que “o povo maneja bem para colher antes”, e evitar um estrago maior.
No geral, há informações de que mesmo em regiões mais quentes, como oeste e norte de São Paulo, as geadas chegaram carregadas pelo vento.