GAP Asset zera aplicação no Ibovespa e investe na queda da Selic
Grande parte do noticiário financeiro provém de relatórios de analistas de corretoras, bancos e casas independentes – chamados, genericamente, de “sell side”.
Mas, como alguém já disse no mercado, há uma diferença entre quem acredita, e quem acredita mesmo numa recomendação e aposta seu dinheiro nela. Quem faz isso é o chamado “buy side”, que envolve as gestoras responsáveis por administrar o patrimônio de seus clientes.
Por isso, quem vive arriscando seu pescoço, ao zelar pelo dinheiro de terceiros, nem sempre tem a mesma visão daquele que apenas recomenda uma aplicação – e não será cobrado por isso.
Um exemplo de como o lado “buy side” está se movimentando, em tempos de coronavírus, é a GAP Asset, que mantém quatro fundos em seu portfólio.
Fora da Bolsa
No relatório enviado aos clientes, a GAP afirma que as incertezas decorrentes da pandemia a levaram a zerar sua posição no Ibovespa. E, mais, alerta para o risco de se expor à renda variável nesse momento.
“Até consideramos os níveis atuais de preços [das ações] atrativos, mas diante da evolução provável da epidemia nas próximas semanas, preferimos não alocar risco relevante nesses ativos no momento”, afirma a carta aos clientes.
A GAP reconhece que ainda detém uma “posição pequena” em ações brasileira, mas afirma se tratar de “cases específicos e com uma gestão bastante ativa”.
A maior aposta da gestora, nesse momento, é na queda da taxa básica de juros (Selic), no curto prazo. No cenário traçado pela GAP, o coronavírus jogará o mundo numa grande recessão. Não haverá pressão inflacionária, já que a queda da demanda falará mais alto que a alta do dólar ou falência de empresas (o que enxugará a oferta).
A asset acredita que os governos de todo o mundo usarão a política fiscal (aumento de gastos públicos, afrouxamento de impostos, etc.) para salvar sua economia. Os países em desenvolvimento sofrerão mais, pois não têm condições fiscais de combater os efeitos econômicos do coronavírus.
No foco
Tudo somado, a GAP afirma que tem “posições aplicadas em taxas de juros curtas do Brasil e do México”. A gestora acrescenta que “a maior exposição atual é no Brasil, onde a revisão drástica de crescimento e inflação abre espaço para uma flexibilização mais agressiva da política monetária”.
Basta lembrar que, no início do ano, o mercado e o governo esperavam que o PIB cresceria mais de 2% neste ano. Após a eclosão da pandemia, o Boletim Focus, do Banco Central, já aponta para uma recessão de 1,18%.
O mesmo Focus mostra que a inflação será abatida pela retração do PIB. Há quatro semanas, o boletim indicava uma expectativa de 3,20% para o IPCA – o índice oficial de inflação. Agora, o número já baixou para 2,72%.
Tendência
Tudo isso desemboca numa aposta do mercado – incluindo a GAP – de que o Banco Central cortará ainda mais os juros. O Focus, por exemplo, já estima que a Selic fechará o ano em 3,25% ao ano, o que representa um corte de mais 0,50 ponto percentual em relação à taxa atual.
O aumento dos gastos públicos, um conhecido fator inflacionário, contudo, não deve preocupar no curto prazo, de acordo com a GAP.
“A frágil situação das contas públicas do país é um fator de risco e exige monitoramento, mas até o momento, os sinais são de que o afrouxamento fiscal será temporário e não deverá comprometer a queda estrutural da taxa de juros”, diz.
No acumulado do ano, enquanto o Ibovespa viveu seu pior primeiro trimestre da história, o GAP Yield, o fundo da gestora que aplica mais de 75% de seus recursos em títulos públicos, acumula uma leve alta de 0,88%.