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Ganho com plantio na janela, com umidade prevista, pode compensar preços à espera da demanda chinesa mais forte

10 set 2021, 13:44 - atualizado em 10 set 2021, 14:10
Soja Agricultura
Soja bonita e com boa produtividade está nos mapas meteorológicos se as chuvas se confirmarem (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A partir de quarta (15) está liberado o plantio da soja no Brasil. A semeadura do milho de primeira safra já começou.

E há no ar um clima de otimismo, pelas condições climáticas favoráveis. Depois de tanta seca, que se arrastou desde o segundo semestre de 2020 – com breve interrupção no verão – e novamente de março em diante (aqui já impactando o milho de inverno), há que se comemorar.

Chuvas estão previstas em vários modelos climáticos. E mais: com possibilidades de recuperação, em pouco tempo, da secura do solo.

Mesmo que isso traga pressão sobre as cotações, espremidas já abaixo dos US$ 13 o bushel, como lembra o analista e trader Marlos Correa, da InSoy Commodities, por que o otimismo?

Primeiro de tudo, porque a China vai ter que recompor seus estoques, diz ele, depois de atravessar o ano comprando da mão para boca. Daí que a demanda acabará puxando os preços.

Segundo, um problema de estresse hídrico, reproduzindo a mesma situação de 2020, gera um efeito cascata de prejuízos que descompensa mais ainda, em que pese a valorização que traria para os grãos.

O milho de verão corre por fora, sem competir com a soja por área e em volume muito baixo na comparação com a crucial segunda safra. Mas um atraso no plantio da oleaginosa gera atraso na colheita e se reflete no atraso do plantio do milho de inverno de 21/22, levando a perdas como as que se registraram na colheita recém-terminada da safra 20/21.

Com tudo plantado fora das janelas ideais, há perda de produtividade e, aí, entra a torcida para que as condições climáticas sejam favoráveis por mais tempo para a recuperação do tempo perdido. E planejar clima por mais de três meses é arriscado.

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EUA no jogo

Vai, sim, pesar o relatório final do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), sobre as condições das lavouras americanas, que devem começar a ser colhidas em poucos dias, complementa Adriano Gomes, analista da AgRural. Nesta segunda (10), novo reporte deu pareceres mais favoráveis às duas culturas.

Mas, em caso de lavouras com menores prejuízos do que o mercado vinha esperando, aliado a umidade satisfatória no Brasil, sim, a tendência é de cotações acomodadas.

Quanto à China, que comandou a volatilidade dos mercados este ano, ampliando a volatilidade que a safra americana veio proporcionando nos últimos dois meses diante de incertezas, a AgRural prefere cautela para apontar um rumo via demanda a partir de janeiro.

Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, também está nesta base, vendo o mercado de preços frouxos nas próximas semanas, mas também com cautela enquanto os maiores formadores de preços internacionais não dão indicativos de compras mais elevadas.

Porém, ele arrisca dizer que se o bushel da soja descer muito próximo dos US$ 12, caso o USDA confirme perfil melhor da soja americana e o clima favorável no Brasil, também não terá vendedor nem lá, nem aqui. A China teria que mostrar as caras.

Condições climáticas

Os informes conhecidos até agora, há menos de uma semana para o término do vazio sanitário, mostram que a pluviometria será homogênea e regular na maioria das regiões, incluindo as mais sofridas em 2020 e nos primeiros meses de 2021, como o Rio Grande do Sul e o Paraná.

Para a soja, com cerca de 40 a 41 milhões de hectares em projeções de semeadura, contra os 38 milhões/ha do ciclo 20/21, as condições melhores serão um pouco mais demoradas para o Sul de Goiás e Leste do Mato Grosso.

A Geosys Brasil, que atesta que os indicativos do La Niña serão mais leves nos próximos meses, vê chuvas variando de 30 a 40 mm nos estágios iniciais da safra, podendo crescer mais à medida que novembro e dezembro se aproximam.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) reforça esse contexto a partir da segunda quinzena de setembro.

E com déficit de umidade presente nos solos entre 10% e 20%, também em média – sendo o Paraná mais próximo do teto -, essa quantidade de chuvas aguardada parece ser suficiente, segundo mapas meteorológicos analisados pela consultoria.

Para o milho, onde o peso da primeira safra está nos estados do Sul, as chuvas que chegaram antes também favorecem o plantio, que já está andando.

Estima-se em 5,5 a 6 milhões de hectares no Brasil inteiro, com crescimento sobre os 4,5 milhões/ha da temporada do verão passado.