Banco Central

Indicação de Gabriel Galípolo é positiva para o mercado? Os desafios do futuro presidente do Banco Central

28 ago 2024, 19:05 - atualizado em 28 ago 2024, 19:05
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O atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é indicado para assumir a presidência do Banco Central em 2025 (Imagem: LinkedIn)

A espera acabou e sem “surpresas”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a indicação do atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, para a presidência do Banco Central, em um anúncio rápido no final da tarde desta quarta-feira (28).

Ele assume o cargo a partir de 2025, quando acaba o mandato de Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro.

Mesmo sendo um nome já esperado pelo mercado, a reação foi imediata. O Ibovespa, que oscilava entre os 136 mil e 137 mil pontos, acelerou os ganhos na reta final do pregão e renovou o recorde de fechamento, em termos nominais, aos 137.343,96 pontos. 

O dólar também ampliou o ritmo de ganhos e subiu a R$ 5,55.

Mas o movimento mais intenso foi sentido na curva de juros, com a renovação das máximas intradiárias em todos os vértices. Em destaque, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DIs) para janeiro de 2025 alcançou 10,95% ante 10,88% do fechamento anterior. A taxa para janeiro de 2033 subiu a 11,75%, de 11,60% no ajuste anterior.

Apesar das movimentações, a indicação de Galípolo à presidência do BC é considerada positiva pelo mercado, segundo analistas e economistas consultados pelo Money Times.

O que esperar de Gabriel Galípolo no BC

Entre as expectativas sobre a gestão do novo presidente da autoridade monetária, “o mercado espera que Galípolo se dissocie das pressões políticas e continue a conduzir a política monetária com o mesmo desprendimento de Campos Neto, que subiu juros em ano eleitoral”, diz Felipe Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Para Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo Investimentos, não se esperam grandes volatilidades ou surpresas no curto prazo.

“Acredito que, por ter sido diretor, Galípolo não provocará tanta volatilidade quanto teria sido o caso o Banco Central não fosse independente e ele fosse indicado logo no início do mandato de Lula”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Com destaque para postura técnica e já testado em suas opiniões sobre a política monetária, Galípolo também dissipou as incertezas de possível interferência política nos juros — suscitada em meados de maio quando houve um divergência sobre o corte dos juros entre os diretores do Copom indicados por Lula e os indicados pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro — , principalmente considerando os últimos discursos, que ajudaram a reafirmar o compromisso do Banco Central com a meta de inflação.

“Galípolo demonstrou uma postura coerente com o mandato da instituição quando lhe foi demandado, mostrando uma postura um pouco mais dura em relação à condução da política monetária quando as expectativas de mercado passaram por uma desancoragem maior”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

Já Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, considera que o nome indicado pelo governo “tem uma visão abrangente e plural a respeito do desenvolvimento econômico e da estrutura da economia brasileira”.

“Ele vai se sair bem e atuará de maneira técnica, ouvindo a burocracia permanente da autoridade monetária, que é de primeiríssima qualidade. Também prevejo uma boa relação entre a gestão dele, no Banco Central, e o governo. A habilidade para conduzir a política monetária, creditícia e cambial também passa por mostrar ao Poder Executivo os rumos que estão sendo tomados, prestar contas e fazer o que precisa ser feito”, acrescenta Salto, da Warren. 

A próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) também será considerado um indicativo da postura de Galípolo no comando da autoridade monetária.

“A partir de agora, o mercado deve dar um foco maior às decisões no Copom, é natural que Galípolo ganhe maior influência nas decisões do comitê. A próxima reunião deve ser um divisor de águas, pois deve ficar mais claro o direcionamento de Galípolo para a política monetária local”, diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

O encontro acontece entre os dias 17 e 18 de setembro e já existem apostas no mercado de alta de 25 pontos-base na taxa básica de juros, que levaria a Selic a 10,75% ao ano.

Os desafios de Galípolo à frente

Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, Galípolo já indicou que está comprometido com o controle da inflação.

Mas, segundo ele, o atual diretor de Política Monetária deve assumir a presidência do BC em uma “situação desconfortável”, com inflação corrente acima do centro da meta e expectativas desancoradas.

“Ele terá o desafio de tentar controlar a inflação numa economia que se expande, com a taxa de câmbio relativamente desvalorizada e o mercado de trabalho bastante apertado com expansão de de gasto público, o que não é uma tarefa fácil”, diz Gala.

Já para Gustavo Cruz, da RB Investimentos, “Galípolo pode ter a oportunidade de manter a inflação mais próxima do limite superior da meta, o que, considerando o histórico recente, não seria necessariamente negativo”.

Isso porque o novo presidente do BC “lidará com futuros ajustes nas metas de inflação e como conduzirá o ciclo de corte de juros, dado que estamos em um período de juros restritivos que eventualmente precisarão ser reduzidos. Precisaremos ver como ele comunicará essas mudanças ao mercado e se o mercado será receptivo a uma taxa mais baixa”.

Além disso, “resta entender como Galípolo abordará questões como a interferência no câmbio”,, acrescenta Cruz. “O ministro Haddad e sua equipe política criticaram Campos Neto por permitir uma valorização excessiva do câmbio sem suavizar o movimento.”

Os próximos passos até a presidência

A confirmação da indicação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central é o primeiro passo do processo. O nome ainda precisa passar pelo crivo dos senadores para então assumir o cargo em janeiro de 2025.

Segundo o ministério de Relações Institucionais, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deve marcar a sabatina de Galípolo na semana do dia 9 de setembro.

Em nota, o atual presidente do BC, Campos Neto, afirmou que “a transição dos mandatos será feita da maneira mais suave possível, preservando a missão da instituição”.

O governo também ainda indicará três novos nomes para a diretoria do BC, que, segundo Haddad, devem ser anunciados até o final do ano.

 

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Jornalista formada pela PUC-SP. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
liliane.santos@moneytimes.com.br
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