Banco Central

Galípolo no Banco Central: Jogada de mestre de Lula ou torta de climão no Copom?

08 maio 2023, 15:19 - atualizado em 08 maio 2023, 15:19
Gabriel Galipolo, Haddad
Haddad confirmou o nome do secretário-executivo Gabriel Galípolo para a cadeira de Política Monetária do Banco Central. (Imagem: Reprodução/LinkedIn Gabriel Galípolo)

O braço direito do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gabriel Galípolo está prestes a se tornar o braço direito do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Haddad confirmou os nomes indicados pelo governo para a diretoria do Banco Central. Galípolo deixará o cargo de secretário-executivo da Fazenda para assumir a cadeira de Política Monetária, enquanto Ailton Aquino assumirá a vaga de diretor de Fiscalização.

Segundo o ministro, o próprio Campos Neto chegou a citar Galípolo como uma opção e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aprova a ida do secretário-executivo para a autoridade monetária.

“O fato é que estamos nos reunindo, Fazenda e Banco Central, e entendo que esse movimento vai fortalecer ainda mais a aproximação nessa direção, de buscar uma convergência plena da política econômica e oferecer para o país as condições de crescer com inflação baixa”, disse Haddad.

O anúncio foi visto como uma jogada estratégica de Lula, já que Galípolo é considerado o segundo em comando na equipe econômica. Já a diretoria de Política Monetária é considerada a posição mais importante do BC depois da presidência.

Os nomes ainda precisam passar pela avaliação do Senado. No entanto, as primeiras reações indicam que as indicações do governo não devem ser barradas.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo, avalia a indicação de Galípolo como “excelente”. “Ele vai contribuir para harmonizar a política monetária”, disse ao Broadcast. Vale lembrar que Calheiros é titular da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, responsável pela sabatina aos indicados ao Banco Central.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também avalia como positiva a indicação. “Galípolo tem predicados próprios para ocupar essa posição”, aponta.

Técnico, pero no mucho

Galípolo é visto pelo mercado como uma opção entre o técnico e o político.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, lembra que Galípolo, além de ter atuado como presidente do Banco Fator, também tem formação e mestrado pela PUC-SP, onde lecionou, além de vários livros com Luiz Gonzaga Belluzzo. No entanto, falta experiencia com mesas de operações, uma das atribuições da diretoria do BC.

“Há um nítido peso exacerbado ao potencial voto na reunião do Copom que decide a Selic, reduzindo, por diversas vezes, as outras inúmeras atribuições do posto a ser ocupado. A pasta do Bruno Serra vai além de se ter feito parte de um Banco. Envolve todo um cotidiano e instrumentos que exigem uma experiência operacional, que fogem aos atributos de Galípolo”, afirma.

O economista também aponta que já surgem rumores de que Galípolo pode ser um sucessor do Campos Neto na presidência. Mas que nada disso garantirá ao governo uma redução da taxa Selic.

Vale lembrar que, desde que assumiu o mandato, Lula vem criticando a taxa de juros em 13,75% ao ano e já chegou a questionar a autonomia do Banco Central.

“Por enquanto, o membro ainda não tem peso suficiente para reverter a maioria coerente dos membros do Copom, mas já se fala em eventual constrangimento de outros membros mediante a presença do futuro novo chefe”, diz Étore.

Já Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e sócio-fundador da Oriz Partners, afirma que o secretário é uma escolha natural do governo para o Banco Central e que a repercussão da sua escolha dependerá dos próximos posicionamentos dele.

“Vai ser importante ouvir o que ele tem a dizer na sabatina do Senado e, em particular, qual é a posição dele sobre a execução da política monetária. Se ele professará ou não as teses da MMT [sigla em inglês para Teoria Monetária Moderna], que tem gerado mais nervosismo no mercado”, disse.

A MMT é uma teoria econômica vista com maus olhos pelos economistas ortodoxos, porque ela defende que países que emitem sua própria moeda podem imprimir mais dinheiro para pagar sua dívida. Além de resultar em uma hiperinflação, isso também poderia levar a uma trajetória de crescimento explosivo da dívida.

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, também não descarta um potencial aumento nos ruídos de comunicação, além de inquietação no Copom. “Não ficaríamos surpresos se começássemos a ver decisões divididas e visões opostas dentro do Copom a respeito do que a orientação apropriada [de política monetária] deveria ser”, diz.

Queda da Selic

A chegada de Galípolo também pode não resultar na queda imediada da Selic, sendo que as projeções do mercado ainda se baseiam na inflação e apontam para cortes no segundo semestre.

Ainda assim, Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que a indicação de Galípolo deixa claro qual o plano do governo e qual será o viés das próximas trocas de diretores. No entanto, ele aponta que o nome do secretário não deve mudar política monetária no curto prazo.

“A indicação dá uma sinalização muito clara para as próximas trocas, e para a própria troca de presidente no ano que vem, que está se caminhando para um BC mais à esquerda, pensando em quedas mais fortes de juros à frente”, diz.

Já o economista André Perfeito afirma que a escolha não fará os juros caírem antes do que a atual diretoria do Banco Central imagina como adequado, mas abre o contraditório dentro do Copom e encaminha a discussão no sentido de trazer outros elementos para a mesa do colegiado.

“Galípolo, além de ser um executivo experimentado, tem uma característica importante para este momento de transição: ele é hábil politicamente, o que irá ajudar a conciliar as rusgas entre BC e Planalto”, destaca.

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central também afirma que o provável substituto de Campos Neto terá um ano e meio para mostrar serviço.

Quem é Gabriel Galípolo?

Com passagens pelo setor público e financeiro, o economista Gabriel Galípolo será o próximo diretor de Política Monetária do Banco Central.

Mestre em Economia Política pela PUC-SP, mesma universidade onde se formou em Ciências Econômicas e já lecionou, Galípolo presidiu o Banco Fator entre 2017 e 2021. Antes disso, trabalhou na Secretaria Estadual de Economia e Planejamento de São Paulo, na gestão de José Serra.

Hoje, é o secretário executivo do Ministério da Fazenda. Além disso, atuou como professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pesquisador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

*Com BDM e Zeca Ferreira

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