Gafisa (GFSA3): Suspensão de direitos, Twitter bloqueado, processos criminais – até onde irá a briga Tanure x Timerman, da Esh?
Sabe aquela série de TV ou da plataforma de streaming que você sempre ouve falar que terá mais uma temporada e vai acumulando episódios e episódios? A disputa entre a Gafisa (GFSA3) e a Esh Capital tem tantos desdobramentos que pode ser comparada a um seriado.
O episódio mais recente saiu na terça-feira, 28 de março, e poderá ter desfecho em um capítulo a ser exibido em 28 de abril, na assembleia geral ordinária e extraordinária (AGOE) da companhia.
Em fato relevante, a Gafisa disse que seus acionistas vão deliberar dois pedidos do fundo de investimentos Estocolmo que, segundo o comunicado, detém mais de 27% do capital votante.
O primeiro é a proposta de uma ação indenizatória por abuso de direito e o segundo é suspensão dos direitos políticos da Esh em razão da conduta de abuso de direito.
No entanto, o último formulário de referência (FRE) da companhia, divulgado em 15 de fevereiro, aponta que a Esh Capital, por meio do fundo de investimentos Esh Theta, tem participação de 15,78% no capital da Gafisa.
Já o fundo Estocolmo não aparece nessa relação de investidores relevantes. Entretanto, a fatia detida por “outros” investidores somava 45,08% na data do documento.
Onde começou o embate Gafisa x Esh Capital?
Tudo começou no segundo semestre de 2022, quando a Gafisa anunciou que faria uma oferta pública primária de ações (OPA) para realizar um aumento de capital privado de R$ 150 milhões. Porém, tal movimento resultou na insatisfação de acionistas minoritários, entre eles a Esh Capital.
Diante da possibilidade de ter a sua participação na companhia diluída, a gestora solicitou a convocação de uma assembleia geral extraordinária (AGE) para 2 de janeiro deste ano, enquanto a Gafisa marcou o encontro para 9 de janeiro. A disputa foi parar no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Contudo, o imbróglio entre acionistas fez as ações da Gafisa dispararem entre a última semana do ano passado e os primeiros dias de janeiro. De 28 de dezembro a 6 de janeiro, os papéis deram salto de 259,37%. Passada a AGE, as ações entraram em rota de queda e devem fechar o primeiro trimestre com desvalorização próxima de 40%.
A disputa não é bem entre a Gafisa e o fundo Esh Theta, e sim entre o gestor da Esh Capital, Vladimir Timerman, e o controlador da construtora e incorporadora, o empresário Nelson Tanure.
A queda de braço entre Timerman e Tanure
Segundo uma das fontes ouvidas pelo Money Times, Timerman é conhecido no mercado por dedicar um bom tempo de sua rotina para “ler fato relevante e procurar coisa que está esquisita”. Outra pessoa consultada pela reportagem completa que o gestor baseia sua tese de investimentos em “empresas que têm um desconto por questão de governança”. “E Nelson Tanure é conhecido por ser o oposto de governança corporativa”, diz essa mesma fonte.
Tanure passou a deter 30% do comando da Gafisa em 2019, enquanto Timerman comprou as primeiras ações em 2017. Porém, os dois tiveram alguns capítulos de embates em outra temporada, a da disputa pelo controle da Alliar (AALR3).
Tudo começou com a Alliar, em 2021
No segundo semestre de 2021, a rede de medicina diagnóstica esteve no centro de uma disputa. Tanure fez uma oferta ao bloco controlador da Alliar para adquirir os 52,79% que esse grupo detinha na empresa.
À época, o fundo Pátria vendeu toda a sua participação, de mais de 20%, para o fundo de investimento Fonte de Saúde, gerido pela MAM Asset Management, de Nelson Tanure.
Segundo pessoas que acompanharam o caso, Timerman começou a montar posição na Alliar antes de Tanure e elevou a posição quando o Pátria vendeu as ações, que passaram a despencar na Bolsa brasileira.
Ainda assim, em abril de 2022, Tanure assumiu o controle, passando a deter participação de 63,28% na companhia. Além disso, ele desembolsou R$ 1,25 bilhão pela empresa do segmento de saúde.
Não satisfeito com a transação, Vladimir Timerman contestou a postura de Tanure em cima do bloco controlador da Alliar e o acusou de praticar “insider trading”. Com isso, há um ano, o empresário é investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) após essas denúncias do gestor.
À época das negociações para a venda da Alliar, o gestor da Esh usou o seu perfil no Twitter para contar sobre o processo e alegou que a operação era lesiva aos acionistas minoritários. Contudo, em agosto do ano passado, a justiça determinou que o gestor apagasse as mensagens escritas na rede social contra o empresário.
Gafisa, Twitter e notícia de crime
Essa ação judicial era só uma entre algumas que correm um contra o outro. Uma dessas fontes disse ao Money Times que Tanure move cerca de 10 processos contra Timerman, sendo alguns criminais. Um desses processos, uma notícia-crime, diz uma das fontes, acusa o gestor da Esh de “crime de extorsão”.
Por outro lado, o gestor da Esh também foi à justiça contra o empresário e uma das acusações é de injúria racial. Segundo pessoas a par da briga, em uma audiência de conciliação, Tanure disse que Timerman usa “práticas nazistas”. O gestor da Esh é judeu.
Enquanto isso, o imbróglio entre os acionistas da Gafisa prossegue. Semanas atrás, a Esh fez como o fundo Estocolmo e pediu para ser votada em AGOE uma ação de responsabilidade contra Tanure em decorrência dos prejuízos causados à Gafisa na operação de aquisição da incorporadora Bait.
A empresa foi adquirida no ano passado, por R$ 180 milhões, e Timerman questiona ser incompatível com o valor da Bait, considerando o seu patrimônio líquido negativo de R$ 17 milhões. Ele também pede que seja aprovada ação de responsabilidade em decorrência dos prejuízos causados na venda do Hotel Fasano, no fim do ano passado.
Em outro momento, o gestor da Esh pediu a suspensão dos direitos políticos de Nelson Tanure à frente da Gafisa, já que, entre os motivos, critica os sucessivos aumentos de capital realizados pela construtora.
Porém, em meio à divulgação de fatos relevantes e comunicados pela companhia, semanas atrás, a série teve mais um episódio. Vladimir Timerman perdeu o acesso à sua conta no Twitter e outras redes sociais.
Desde 14 de março, o perfil do gestor da Esh no Twitter aparece com a mensagem “a conta de @vtimerman foi retida no Brasil em resposta a uma demanda legal”.
Segundo fontes próximas à Esh Capital, Tanure moveu um processo judicial contra Timerman e, desde fevereiro, ele não pode falar sobre o caso envolvendo a disputa entre os dois na Gafisa. Essas fontes ainda afirmam que as redes sociais do gestor foram suspensas em decorrência dessa ação judicial.
No dia em que o perfil de Timerman foi bloqueado, um burburinho tomou conta no Twitter, com pessoas ligadas ao mercado financeiro ou que acompanham comentando que o gestor estava sendo “alvo de censura”.
Liberdade de expressão é fundamental. @vtimerman foi mais uma vítima dessa mania de calar o que não se quer ouvir. A moda pegou, @heliobeltrao, @lucasnephelin, @mauad_joao, @marcelvanhattem, @lnarloch. Agora, disputa societária — que corre na mais alta temperatura —também é… pic.twitter.com/iRWJkjrqKI
— Leonardo Corrêa (@LeoCorrea1974) March 13, 2023
A censura mudou de nível. Agora o judiciário cala gente que tem legítimas disputas sobre companhias listadas na bolsa. https://t.co/8kY21iytGs
— Helio Beltrão (@heliobeltrao) March 13, 2023
Tanure x Timerman: até quando?
Entre troca de acusações, processos criminais, liminares, falta de governança corporativa e disputas envolvendo a Gafisa, Vladimir Timerman mostra que não dará o braço a torcer, dizem pessoas que o conhecem.
Enquanto Tanure, um veterano no mercado financeiro e com o comando de várias empresas no currículo, parece que não aliviará a barra do gestor. Sendo assim, certamente, a série envolvendo os dois sócios da Gafisa ainda renderá muitos episódios.
Procurado, o empresário Nelson Tanure, por meio de seus advogados, disse que não irá comentar os assuntos abordados nesta matéria.