Gafisa (GFSA3): O que está em jogo e até onde vai a forte valorização da ação?
A Gafisa (GFSA3) vem chamando a atenção no mercado financeiro nas últimas semanas. Sobretudo, desde o apagar das luzes de 2022. Apesar de ter liderado a queda da Bolsa brasileira no pregão de sexta-feira (6), ao tombar 25,08%, a construtora e incorporadora descolou-se das mais de 450 empresas listadas e encerrou a semana com um salto de 132,3%.
Considerando o período entre 28 de dezembro, quando os papéis da companhia iniciaram seu disparate, e 6 de janeiro, a valorização acumulada é de 259,37%. Em um único pregão, no dia 3, a ação avançou 50,42%. Contudo, no acumulado de 2022 até 27 de dezembro, a Gafisa acumulava desvalorização de 64,21%.
Do dia 28 do mês passado até sexta-feira, o preço da ação saiu da mínima de R$ 6,19 para máxima perto de R$ 34, considerando a oscilação intradiária. Além disso, vem exibindo um forte e atípico volume de negócios. Toda essa movimentação “fora do normal”, mais de uma vez questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tem motivos.
As ações da Gafisa e o ‘short squeeze’
As analistas da XP, Jennie Li e Rebecca Nossig, comentam que a Gafisa era o papel mais “shorteado” do mercado até 29 de dezembro, com 22,9% das ações tomadas em posições vendidas – quando investidores apostam em queda. Segundo elas, a forte valorização recente dos papéis pode ser atribuída ao “short squeeze”.
“É o movimento no qual a valorização de uma ação obriga investidores que estão ‘vendidos a descoberto’, ou seja, apostando na queda, a encerrarem as suas posições”, explicam, reforçando que a perspectiva para a ação era negativa, à espera de queda no futuro.
“Quando acontece o oposto, o preço da ação sobe, o potencial de perda é infinito porque o valor pode subir sem limites. Para evitar perdas na valorização, investidores com posições vendidas fecham a posição comprando mais ações, impulsionando o preço para cima e gerando essas valorizações impressionantes”, acrescentam.
Li e Nossig destacam que a valorização de uma ação em um “short squeeze” é especulativa e não é sustentada por fundamentos. Portanto, a alta volatilidade desse tipo de operação representa um risco elevado para investidores.
Pano de fundo é embate entre acionistas
Tudo começou no segundo semestre do ano passado, quando a Gafisa, por meio de fato relevante divulgado ao mercado, anunciou que faria uma oferta pública primária de ações (OPA) para realizar um aumento de capital privado de R$ 150 milhões.
Tal movimento, porém, resultou na insatisfação de acionistas minoritários, entre eles a Esh Capital, gestora do fundo de investimentos Esh Theta. Diante da possibilidade de ter a sua participação na companhia diluída, a gestora solicitou a convocação de uma assembleia geral extraordinária (AGE) para 2 de janeiro, enquanto a Gafisa marcou para 9 de janeiro – pauta que envolveu até o Tribunal de Justiça de São Paulo.
No dia 4 deste mês, a Gafisa comunicou ao mercado que o seu conselho de administração homologou parcialmente o aumento de capital para R$ 78 milhões, com a emissão de 13,2 milhões de ações ordinárias, por R$ 5,89 por papel.
Visto que a disputa entre a Gafisa e a Esh continua nesta segunda-feira, os papéis podem sofrer ainda mais volatilidade à medida que a história se desenrola, ponderam as analistas da XP.
Composição do controle da Gafisa
O último formulário de referência (FRE) publicado pela companhia na CVM, em 16 de dezembro do ano passado, apontava que a gestora de investimentos MAM Asset detinha 14,9% das ações ordinárias, seguida da Esh, com fatia de 5,34%, J.P. Morgan, com 4,73%, e a corretora Planner, com participação de 4,47%. Os outros demais acionistas compunham um bloco de 70,47% dos papéis da empresa.
Entretanto, em meio à queda de braços entre acionistas e a repentina valorização das ações, a Esh Capital elevou sua posição acionária na companhia para 15,1%, em 29 de dezembro, passando a deter mais de 5,7 milhões de papéis, além de mais de 1 milhão de bônus de subscrição emitidos pela Gafisa. Uma semana depois, em 6 de janeiro, a MAM Asset elevou sua participação para 15,41%.
A MAM, controladora da Gafisa, é a gestora onde o empresário Nelson Tanure, velha e conhecida figura do mercado financeiro, tem veículos de investimento. Tanure ainda tem participações na Prio (PRIO3) e na rede de medicina diagnóstica Alliar (AALR3).
Aliás, Tanure começou a ser investigado pela CVM no ano passado por potencial “insider trading” (operações de mercado realizadas com informações não públicas) de veículos de investimentos ligados a ele durante o conturbado processo de aquisição da Alliar, em novembro de 2021.