Gabriel Casonato: Para o Morgan Stanley, ação da Tesla pode cair para US$ 10
Por Gabriel Casonato, editor da Agora Financial
O Morgan Stanley causou alvoroço no mercado ao cortar de US$ 97 para US$ 10 seu preço-alvo para a ação da Tesla (NASDAQ: TSLA).
Isso no chamado “worst-case scenario”…
Mesmo assim, trata-se da pior projeção já feita por um grande banco para a empresa do tão genial quanto polêmico Elon Musk.
O corte de 90% na estimativa para o cenário mais pessimista levou em consideração preocupações com o aumento da dívida e a exposição geopolítica da Tesla.
Em particular, os analistas do Morgan Stanley disseram que a revisão foi motivada pelos temores sobre a demanda chinesa pelos produtos da companhia – tanto os veículos como os componentes de armazenamento de energia.
“Nosso cenário pessimista supõe que a Tesla reduza o volume de vendas para a China pela metade, particularmente em torno de áreas de tecnologia, que acreditamos ter um alto e crescente risco de atenção governamental”, disseram em nota.
Isso poderia resultar em cerca de US$ 16,4 bilhões perdidos pela companhia americana na região, o que naturalmente teria um forte impacto negativo na ação.
No entanto, é importante destacar que se trata de um cenário improvável, conforme os próprios analistas afirmam no decorrer do relatório.
Eles acreditam que caso o preço de TSLA comece a cair demais, a probabilidade do management buscar potenciais parceiros estratégicos aumenta.
E com base em discussões com empresas automobilísticas e de tecnologia, o valor estratégico e a competência técnica da Tesla em hardware e software permanecem extremamente altos – se não em um patamar único no mundo.
Em 2019, as ações da Tesla acumulam uma forte queda de 40%, destoando da boa performance das principais companhias de tecnologia no período.
Desde o ano passado, tem sido comum revisões para baixo nas estimativas para a Tesla por parte do sell-side.
Tanto por grandes bancos como por empresas de análise menos conhecidas, como Wedbush e Baird.
O pessimismo generalizado fez com que muitos investidores desembarcassem da companhia, como foi o caso da T. Rowe Price.
Depois de passar anos como uma das maiores acionistas da Tesla, a gestora vendeu cerca de 81% de sua participação nos primeiros três meses de 2019.
Apesar do histórico de introdução de produtos inovadores, a contínua queima de caixa e os sucessivos prejuízos da empresa de Elon Musk preocupam o mercado.
No mês passado, ela reportou um dos piores resultados trimestrais de sua história, com queda de 37% na receita, de 41% nas vendas de veículos e um prejuízo de US$ 702 milhões.
Mas pior do que isso foi a previsão de Musk, que disse acreditar que a Tesla voltará a dar prejuízo entre abril e junho, lucrando novamente apenas no terceiro trimestre deste ano.
Como as estimativas dele costumam ser otimistas demais, o mercado interpretou que a companhia tem grandes chances de acabar ficando no vermelho até o final de 2019, jogando mais pressão sobre a ação.
O próprio comportamento do fundador e principal executivo da Tesla é algo que deixa os acionistas e funcionários da empresa de cabelo em pé!
Por mais genial que seja – e seus projetos e produtos são a prova disso –, Musk é imprevisível e de tempos em tempos cria polêmicas desnecessárias para a empresa.
Foi assim quando tuitou sobre um possível fechamento de capital que jamais se confirmou, em represália aos short sellers que apostam contra a Tesla.
Obviamente que nem todas as notícias envolvendo a companhia são ruins.
Com uma fábrica estabelecida na China, ela espera que o custo de produção de seus carros caia drasticamente nos próximos meses.
Com isso, a empresa poderá entregar algo entre 360 mil e 400 mil veículos em 2019, cerca de 65% a mais na comparação com 2018.
Além disso, a empresa ainda tem mais de US$ 2 bilhões em caixa, o que acaba gerando uma certa tranquilidade com relação à liquidez de curto e médio prazo.
De qualquer forma, diante de tantas incertezas, sigo com a opinião de que comprar ações da Tesla hoje continua muito arriscado, independente da queda nos últimos meses.
O carro da empresa pode ser maravilhoso, mas o papel nem tanto.