Fusão Eneva-AES Tietê: para quem recebe dividendos da AES, valor pode ser baixo
Há vários argumentos para sustentar a oferta que a Eneva (ENEV3) apresentou para se fundir à AES Tietê (TIET11), por meio de uma operação de troca de ações. Mas, para a Ágora Investimentos, este é o momento de fazer a pergunta mais básica: os acionistas da geradora paulista concordarão?
E a resposta não é tão simples.
Francisco Navarrete e Ricardo França, que assinam o relatório da Ágora, lembram que a base de acionistas da AES Tietê é bastante diversificada, o que significa, na prática, que os investidores estão na companhia por motivos distintos.
O grupo americano AES é o controlador, com 64% das ações ordinárias, mas apenas 24% do capital total.
O BNDESPar, braço de participações do BNDES, detém 28%, seguida pela Eletrobras, com 8%, e pelos minoritários, com 39%. A dupla de analistas acrescenta que, por ser listada no Nível 2 de governança corporativa da B3, as ações preferenciais têm o mesmo poder de voto que as ordinárias.
Assim, a americana AES, na prática, não pode decidir nada sozinha.
E é aí que entram os interesses de um grupo de investidores que pode ser decisivo para o desfecho da oferta: aqueles que estão na AES Tietê sobretudo para lucrar com dividendos.
A geradora paulista, aliás, costuma figurar com frequência nas carteiras recomendadas por bancos, gestoras e casas de análise para quem busca boas pagadoras de dividendos.
Em fevereiro, por exemplo, ela foi citada por quatro de 18 relatórios de dividendos analisados pelo Money Times, ficando em sexto lugar nas recomendações.
“Do ponto de vista dos acionistas da AES Tietê, acreditamos que o negócio pode ser atraente, mas a questão será que a base de acionistas é formada por investidores que buscam renda”, explica a Ágora.
Pode melhorar
A gestora do Bradesco observa que os lucros líquidos estimados para 2020 e 2021 são, respectivamente, de R$ 500 milhões e R$ 550 milhões. Isso implica, nas contas dos analistas, num dividend yield de 7% a 8%, versus uma taxa básica de juros (Selic) de 4,25% ao ano.
“Alguns podem argumentar que [a AES Tietê] poderia exigir que a Eneva pague um preço mais alto”, dizem os analistas. O contra-argumento é que as concessões da AES Tietê expiram em 2029 e, portanto, não há como calcular a perpetuidade dos dividendos.
A Ágora enxerga poucas chances de que a iniciativa da Eneva cause uma guerra de ofertas pela AES Tietê. A Engie (EGIE3) está mais focada em concluir seus projetos de gasodutos e em encontrar uma solução para a hidrelétrica de Jirau.
A CESP (CESP6) está preocupada em se preparar para uma possível privatização.
O estatuto da Ômega (OMGE3) proíbe a aquisição de ativos em construção – caso de alguns projetos da AES Tietê. Sobrariam os chineses da State Grid, que já controla a CPFL; CTG, que já tem uma atuação relevante no país; e SPIC.