Fusão com EMS: Com prêmio de 17%, investir na Hypera (HYPE3) é ganho certo? Veja o que pensam analistas
A última sessão da Hypera (HYPE3) foi de fazer inveja para qualquer novela mexicana, com reviravoltas, mocinhos e vilões.
A ação, que começou o dia despencando 17% após pacote de notícias ruins, incluindo descontinuação de projeções e resultados abaixo do esperado, fechou o dia em alta de 2% após a maior farmacêutica do Brasil, a EMS, oferecer uma proposta de fusão.
Fundada em 1964, a EMS conta com um portfólio de mais de 2.500 SKUs ativos. Reportou receita líquida de R$ 8 bilhões no segundo trimestre de 2024, enquanto o Ebitda, que mede o resultado operacional, foi de R$ 2,6 bilhões no mesmo período.
- O que fazer com as ações da Hypera após proposta de fusão? Veja a opinião deste analista no Giro do Mercado ao vivo:
Se caso seguir em frente, a nova empresa nascerá com fatia de 17% do mercado, receita líquida de R$ 15,9 bilhões, Ebitda de R$ 5,5 bilhões e valor patrimonial combinado de R$ 47,5 bilhões. Hoje (22), HYPE3 terminou a sessão com alta de 7,45%, a R$ 28,11.
Pelos termos da negociação, a nova companhia permaneceria listada no segmento Novo Mercado da B3. Porém, o investidor de Hypera poderia aproveitar uma oferta pública voluntária de aquisição de até 20% das ações da HYPE3 avaliadas em R$ 30. Ou seja, de cara sairia com um prêmio de 17% em relação ao fechamento de ontem.
Os diretores devem consistir em nove membros, incluindo cinco nomeados pela EMS e quatro nomeados pela Hypera. A equipe de gestão será composta por executivos de ambas as empresas.
Conselho da Hypera pode rejeitar proposta
Apesar disso, o negócio ainda precisa de aprovação e pode esbarrar no conselho da Hypera, que atualmente não possui controlador definido. O empresário João Alves de Queiroz Filho tem a maior fatia, com 21%, seguido pela Maiorem.
Segundo Valor Econômico, os controladores da Hypera recusaram uma fusão com a EMS em 2022 porque teriam menos de 50% de participação (a proposta agora é de 40%).
No cenário do Bradesco BBI, provavelmente o conselho rejeitará a oferta, dado:
- a falta de prêmio de controle,
- o Ebitda dos últimos 12 meses da Hypera está abaixo do normalizado devido aos fracos resultados no primeiro semestre de 2024,
- a Hypera anunciou um plano de otimização de capital de giro que pode gerar valor significativo,
- a oferta à vista de R$ 30/ação está quase 40% abaixo da máxima histórica do papel, atingida em 2022.
O Itaú BBA também lembra a HYPE3 já esteve em um patamar muito mais alto “Acreditamos que não é óbvio que a oferta pública seja aceita a R$ 30/ação”.
O que os analistas acharam?
Na visão dos analistas, a nova empresa nasce com sinergias importantes. O Safra cita quatro méritos que a operação pode trazer. São eles:
- crescimento da receita – otimização do portfólio, oportunidades de crossselling e otimização de esforços comerciais e de upselling;
- custos, maior poder de compra de matéria-prima e embalagem e racionalização da produção;
- menores despesas com marketing, equipe de vendas e otimização de frete;
- ganhos de escala em capex (investimentos) e pesquisa e desenvolvimento;
O Goldman Sachs vê como ponto positivo que o crescimento do Ebitda da EMS tenha ocorrido em um ritmo sólido (17% de 2020 a 2024) e lucratividade saudável (margem Ebitda de 35%) com uma posição de liderança no mercado (9,6% de participação de mercado, ante os 8,5% da Hypera em 2023).
Por outro lado, a empresa possui participação relevante em genéricos (42%, contra 13% da Hypera) em seu mix de vendas, que possui ambiente competitivo estruturalmente acirrado com barreiras de entrada mais baixas.
Nos cálculos do BBA, a nova companhia estaria rodando com um preço sobre lucro de 10,5x para 2026, desconsiderando as sinergias, com um lucro líquido de R$ 4,7 bi em 2026.
“Em nossa visão, o acordo faz sentido de uma perspectiva operacional, pois pode criar um player líder no segmento farmacêutico com oportunidades de sinergia que podem aumentar a lucratividade da empresa combinada, poder de barganha com fornecedores e clientes e posicionamento estratégico”, diz.
Ademais, o Cade (Conselho de Administração e Defesa Econômica) não seria um grande problema, pois as empresas não parecem ter uma sobreposição de portfólio (com a EMS focada principalmente em genéricos e a Hypera em medicamentos OTC).
O Bradesco BBI, apesar de achar que a operação não vai para frente, vê a combinação como positiva dado que:
- um investidor estratégico vê o preço atual de suas ações como atraente e
- se o negócio for concluído, há um potencial significativo de upside a partir das sinergias.