Fundos puxam cotações do café e podem espantar compradores já bem abastecidos
Na visão de alguns participantes do setor de café, não há fundamentos técnicos que sustentem as cotações nos patamares de hoje em Nova York, nos futuros do arábica, apesar de que a safra brasileira não deverá atingir a produção esperada.
O mercado está sendo movimentado pela ponta financeira, onde os fundos estão reforçando posições compradas e isso pode não ser bom. A movimentação é técnica, como foram as altas do início da semana e, na sequência, duas sessões de realizações de lucros.
Mesmo que essa demanda financeira eleve as cotações, pela lógica, como se observa o contrato de dezembro acima de 134 centavos de dólar por libra-peso (mais 2,87% ao redor das 13h20, de Brasília), “me deixa extremamente preocupado porque puxa o mercado e atrasa os comerciais”, diz Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé.
Os compradores estão bem abastecidos e podem sair do balcão. “O comerciante, que já está muito comprado, não tem necessidade de comprar mais e já vai ficando sem fôlego financeiro”, completa. Ou seja, o caixa das empresas não vai suportar as altas e elas saem de novas aquisições.
Essa variável também implica, junto com a desvalorização cambial, em pressão nos preços dos produtores.
O executivo da maior cooperativa exportadora lembra também que segunda (7) é feriado no Brasil e Estados Unidos, o que ajuda, ao lado do câmbio, a expansão dos preços na ICE Futures.
E, ainda, pode entrar na precificação, na próxima semana, o fator clima.
Se ficar visível algum prejuízo às lavouras do Sul de Minas, sob muito pouca chuva em 100 dias, aí, sim, entra um fundamento, dando suporte para 140 c/lp, ou até um pouco mais, pensa Lúcio Dias. Ele espera 7,1 milhões de sacas sendo recebidas pela cooperativa na atual safra praticamente em fim de colheita.
Oferta e demanda
O mercado também testa a queda nos estoques de cafés certificados na ICE, por pressão de consumo maior nos lares durante a pandemia. E, na virada da quinzena de setembro sairá o Green Coffee Association, mostrando dados dos estoques americanos de café verde.
Em ano no qual a bianualidade da cultura cafeeira favoreceria a produção maior, o veranico do começo de 2020, e, depois, novas condições prejudiciais, tiraram a capacidade prevista de poder chegar a 62 milhões de sacas. A Conab chegou a falar em até 67 milhões.
“Se chegar a 60 milhões será um milagre”, comenta Jânio Zeferino, da AgroEasy.
Junto com o maior consumo, o analista viu pressão positiva para o café, assim como para outras commodities sob a ótica dos fundos investidores mais estimulados pelo risco.
“Mas o produtor não deve ficar esperando mais, tem que vender porque os preços agrícolas têm muita volatilidade”, pontua.