Fundos captam R$ 131 bi no 1º semestre e reúne 16,4 milhões de contas
Os fundos de investimento fecharam o primeiro semestre com aplicações líquidas de R$ 130,8 bilhões, 186,5% a mais que no mesmo período do ano passado. O valor foi inflado por um fundo específico de recebíveis (Fidc) de uma grande empresa, que recebeu uma aplicação de R$ 49,8 bilhões. Sem essa operação, o valor ainda seria bem superior, R$ 85,2 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Para Carlos André, vice-presidente da Anbima, mesmo sem o Fidc de R$ 50 milhões. o número de captação do semestre deste ano supera a média do período desde 2015, de R$ 75 bilhões. “A tendência é apresentar números de captação representativos, superando a média, com crescimento dos fundos de ações, até porque eles partem de uma base menor”, diz.
Já os multimercados, que apresentaram menor crescimento neste semestre, tendem a voltar a acelerar. Já a renda fixa, com crédito privado, vem ganhando espaço, especialmente nos fundos de títulos corporativos. Fundos imobiliários também tem espaço para capturar o crescimento do segmento.
Total de R$ 5 trilhões
Com a captação do primeiro semestre, o total investido em fundos de investimento atingiu R$ 5 trilhões em junho. O total de contas em fundos também cresceu, de 15,7 milhões em dezembro para R$ 16,4 milhões em junho, um aumento de 4,6%. O total de gestores de recursos também cresceu, de 632 em dezembro para 652, com 20 novas casas. O número de fundos também aumentou, de 17.190 para 17.950, ou 760 novos fundos.
A parcela aplicada em fundos de ações subiu no total de fundos, de 6,6% em dezembro para 7,3%, reflexo dos ganhos que atraíram maior número de investidores. Os fundos de ações captaram R$ 23,5 bilhões no primeiro semestre, superando os multimercados, que captaram R$ 17,6 bilhões, previdência, com R$ 15,3 bilhões e R$ 13,4 bilhões de renda fixa.
O interesse por ações reflete a rentabilidade no período. No primeiro semestre, os fundos Ações Índice Ativo, que buscam superar o Ibovespa e outros indicadores, renderam em média 18%, e os fundos ações livre, 16,1%. Os multimercados macro renderam em média 6,3%. Na renda fixa, o destaque foram os fundos de longo prazo (duração alta) soberano, com 11,5%, por conta do impacto da queda dos juros nos papéis do governo de longo prazo.
Cresce interesse por fundos de ações em todos os segmentos
O maior interesse por ações fica claro olhando o comportamento dos investidores por segmento nos últimos seis anos de janeiro a junho. Nos anos de 2015 2016, houve resgates dos fundos de ações no primeiro semestre em todos os segmentos, deste institucionais, fundos de pensão, private e varejo.
A partir de 2017, só varejo e poder público ficam negativos, mas a captação dos demais segmentos ainda é baixa, somando R$ 600 milhões positivos no total. Já em 2018, os volumes investidos em fundos de ações crescem, chegando a R$ 13 bilhões apenas no private banking, e R$ 1,3 bilhão no varejo, somando R$ 21 bilhões no total dos investidores.
E, em 2019, o private diminuiu para R$ 4,8 bilhões, mas o varejo sobe para R$ 4,2 bilhões e o total investido atinge R$ 20 bilhões até maio.
Mais ações e crédito privado
Os fundos aumentaram as aplicações em títulos privados e renda variável e reduziram em títulos públicos. A parcela de títulos públicos ainda é a maior, 47,2%, mas caiu em relação aos 49,6% de dezembro do ano passado. Já os papéis privados passaram de 8,7% para 10,1%. A renda variável passou de 10,3% para 10,8%.
O ambiente faz com que investimentos mais tradicionais entreguem rendimentos menores. “O investidor também tem acesso a mais informações e percebe de forma mais clara seu perfil e objetivos e faz alocação melhor dos recursos, o que leva a mais aplicações em ações e multimercados”, diz Carlos André. Nesse ambiente de juro mais baixo, é mais importante ter capacidade de diversificação. “No mínimo, no segundo semestre, ritmo deve continuar”.
Para ele, a aprovação da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara terá desdobramentos no mercado e no setor de fundos. “São eventos importantes, o país dá um passo importante”, afirma.
Ele lembra que o mercado acompanha com atenção o processo da reforma, apesar de ela não ser “a bala de prata” que vai resolver todos os problemas do país. “Mas é condição essencial para caminhar na trajetória positiva para desenvolvimento”, diz.
A aprovação da reforma tende a reforçar expectativa mais positiva de desempenho dos mercados. “Mas fundamental para termos uma leitura do cenário é perceber melhor o que vai acontecer com a atividade econômica”, diz. “Com relação a inflação, juros, temos visibilidade melhor quanto ao comportamento dos indicadores”, explica. Os mercados devem reagir positivamente com os desdobramentos positivos da reforma, “mas será preciso olhar o resto”.
André vê a tendência de crescimento do crédito privado continuando com empresas captando recursos para refinanciar dívidas com custos e prazos mais baixos ou para financiar projetos. Por isso, as ofertas de debêntures de infraestrutura podem crescer. “Juros baixos são fator essencial para definir volumes e alongamento de prazos”, diz.
Ele acredita que as debêntures não devem concorrer tanto com os fundos de investimentos. “A oferta de debêntures tem foco maior em investidor qualificado, das plataformas de family offices e private banks, enquanto os fundos tem um espectro mais amplo e podem oferecer mais opções para diversos públicos”.
Sobre a tendência de crescimento das plataformas de investimento, André diz que é preciso acompanhar o desdobramento da reação dos bancos, que estão se adaptando para concorrer com as corretoras.