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Fundos buscam se encaixar em pacote de estímulo dos Estados Unidos

14 abr 2020, 13:02 - atualizado em 14 abr 2020, 13:02
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O pacote de US$ 349 bilhões coordenado pela Small Business Administration fornece empréstimos para cobrir a folha de pagamento, aluguel e contas de luz e água por até oito semanas (Imagem: REUTERS/Mohamed Abd El Ghany)

Dinheiro de graça. Esse é o chamariz que hedge funds e outras empresas de trading passaram a considerar quando se deram conta de que também poderiam participar do histórico pacote de estímulos dos Estados Unidos, destinado a manter pequenas empresas abertas durante a pandemia de coronavírus.

Escritórios de advocacia têm realizado webinars e enviado alertas enquanto firmas de contabilidade estão em contato com clientes desde o início de abril, todos com o objetivo de explicar como hedge funds poderiam acessar o chamado Programa de Proteção da Folha de Pagamento.

O pacote de US$ 349 bilhões coordenado pela Small Business Administration fornece empréstimos para cobrir a folha de pagamento, aluguel e contas de luz e água por até oito semanas. Os empréstimos podem ser convertidos em subvenção se as empresas mantiverem ou recontratarem os funcionários.

Alguns hedge funds já solicitaram empréstimos com o preenchimento de formulários para demostrar que possuem menos de 500 funcionários e certificar que a “incerteza econômica atual torna esse pedido de empréstimo necessário para apoiar as operações em andamento”.

Ironicamente, os hedge funds são criados para empregar o menor número possível de pessoas para que traders não precisem compartilhar milhões de dólares em comissões. O setor recebe o nome a partir da premissa de que pode gerar ganhos mesmo quando os mercados caem.

A questão de participar ou não do programa divide a comunidade de gestão de recursos. Alguns operadores consideram o pedido de empréstimo moralmente corrupto, enquanto outros insistem que são pequenas empresas – como salões de beleza, restaurantes e lavanderias – que poderiam receber ajuda depois do colapso dos mercados globais e perdas.

Como os recursos do programa são distribuídos para quem chegar primeiro, alguns gestores foram rápidos em enviar a documentação, de acordo com os participantes do mercado, embora sua elegibilidade ainda seja incerta.

Donald Motschwiller, que comanda a First New York, uma empresa de trading que administra US$ 2,9 bilhões em ativos, disse que ainda avalia se deve solicitar empréstimo para pagar funcionários, incluindo uma recepcionista e gerente do escritório que ainda estão na folha de pagamento mas que, com todos em casa, essencialmente não têm o que fazer.

Ele buscou informações com cerca de 15 hedge funds de seu círculo, de pequenos gestores a empresas de bilhões de dólares, “e ninguém disse ‘não’” à possibilidade de pedir o empréstimo, disse.

‘Abominável’

Um gestor, que pediu para não ser identificado, disse que ficou indignado quando recebeu uma nota de seu contador analisando sua potencial elegibilidade. Por que, perguntou, um hedge fund que ganha dinheiro cobrando comissões de gestão e pode lucrar se for competente, buscaria ajuda do governo?

“É completamente abominável”, concordou Nate Koppikar, sócio da Orso Partners, uma gestora de ativos em São Francisco. Ele destacou que empresas que usarem o dinheiro podem ser posteriormente identificadas publicamente sob a Lei da Liberdade da Informação.