Fundo soberano de Cingapura alerta para volatilidade de mercados
Um dos maiores fundos soberanos do mundo alerta que os mercados globais devem se tornar ainda mais voláteis, aumentando a pressão sobre os retornos em meio aos crescentes casos de coronavírus e às contínuas tensões EUA-China.
Executivos do GIC listaram uma série de fatores imprevisíveis que se avolumam na mente de investidores, desde o fechamento de estabelecimentos comerciais e do setor de hospitalidade pela pandemia até altos valuations alimentados por dívidas captadas a taxas de juros historicamente baixas.
Os comentários pessimistas do GIC reforçam o tom de cautela de outros grandes investidores que despejam um balde de água fria na esperança de uma rápida recuperação em forma de V.
Na terça-feira, a Fitch Ratings alertou que as consequências econômicas da Covid-19 podem durar anos devido ao aumento do desemprego e redução dos investimentos corporativos.
“O momento e a forma da recuperação são altamente obscuros, em parte por causa da taxa de infecções”, disse o CEO do GIC, Lim Chow Kiat, acrescentando que a desaceleração da globalização e o impacto das medidas de estímulo dos governos foram fatores complicadores.
“A economia continua enfrentando muitos ventos contrários.”
O fundo soberano de Cingapura divulgou retorno real anualizado de 20 anos de 2,7% na terça-feira, abaixo dos 3,4% no ano passado e o pior desempenho segundo essa métrica desde 2009, quando perdeu mais de 20% do valor em um único ano. O GIC não divulga números de desempenho de um ano.
Mas a empresa disse que foi a bolha da Internet no final da década de 1990, que saiu da janela de investimento de 20 anos, e não a turbulência do mercado em março, que causou a maior parte do declínio no período, porque o fundo já havia se tornado mais defensivo.
O GIC, sob a liderança de Lim, tem repetidamente alertado sobre retornos decrescentes causados por tensões geopolíticas e valuations instáveis.
Embora o GIC administre oficialmente “mais de US$ 100 bilhões” em ativos e não forneça um valor exato, o Instituto de Fundos Soberanos estima que suas posições sejam de cerca de US$ 440 bilhões.
Nos últimos três anos, o GIC reduziu a porcentagem de ativos que investe em ações de mercados desenvolvidos de 27% para 15% da carteira em 31 de março de 2020; títulos nominais e dinheiro agora compõem 44%. O retorno anualizado do GIC em um período de cinco anos também caiu para 3,9% contra 4,9% no ano passado.
Ainda assim, os efeitos da pandemia nos mercados globais obrigam o fundo a reavaliar grande parte de seu universo de investimentos.
Um dos focos principais é o setor imobiliário, porque o GIC é um dos maiores investidores do segmento no mundo.
Embora logística e data centers continuem sendo perspectivas sólidas, o diretor de Investimentos do fundo, Jeffrey Jaensubhakij, disse que o GIC está revendo as estratégias de longo prazo de segmentos mais vulneráveis.
Escritórios, hotéis
“Estamos olhando com muito cuidado, em ordem crescente de preocupação, para escritórios, hotéis e shopping centers com residências para estudantes em algum lugar entre shopping centers e hotéis, e perguntando o que provavelmente será um dano permanente versus cíclico”, disse o executivo durante conferência virtual em Cingapura na segunda-feira. “Mesmo no final da recessão, pode haver danos permanentes.”