Mercados

Fundo de ex-tesoureiro do Credit Suisse vence pares em eleição

07 nov 2022, 14:18 - atualizado em 07 nov 2022, 14:18
Lula
“Lula deve ser pragmático, e não ideológico”, disse Salomão. “Se ele perde a economia, não consegue fazer as políticas sociais” (Imagem: REUTERS/Mariana Greif)

Um fundo criado perto do auge da pandemia de coronavírus no Brasil foi o grande vencedor do período eleitoral.

O Norte Long Bias, fundo multimercado com foco em ações com R$ 1,3 bilhão sob gestão, superou 205 pares com um retorno de 17% descontadas as taxas desde o início da campanha eleitoral, em 16 de agosto, até 31 de outubro, o dia seguinte à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição.

A Norte Asset Management, que faz a gestão do fundo, foi montada por Gustavo Salomão, um engenheiro de computação que passou cerca de duas décadas no Credit Suisse e assumiu a tesouraria do banco no Brasil em 2010, e Rafael Furlan, ex-executivo da unidade de gestão de ativos do HSBC no Brasil.

Os dois corretamente previram um rali nas ações da Sabesp, a empresa de saneamento básico controlada pelo governo do estado de São Paulo que foi impulsionada pelas perspectivas para a corrida para governador. Eles também esperavam que as construtoras focadas em baixa renda Direcional e Cury subissem independentemente do resultado.

“Esse foi um ciclo diferente dos outros, quando sempre havia um candidato que era de longe o preferido”, disse Salomão, em entrevista. “Havia uma preferência na margem por Bolsonaro, mas o mercado estava muito mais dividido”.

Embora Bolsonaro e Lula divergissem em temas como o papel das empresas estatais, a expectativa era de que nenhum deles colocasse em risco as contas públicas do país no curto prazo. Muitos investidores esperavam que o Brasil se destacasse entre os seus principais pares dado que alguns mercados emergentes sofriam com questões como inflação fora do controle, importações mais caras e até mesmo exclusão de índices.

Ganhos com ações de Arezzo, Hypera, 3R Petroleum, PetroRio e Intelbras também estiveram entre as principais contribuições, segundo Furlan.

O fundo esperava que a corrida eleitoral fosse mais competitiva do que as pesquisas de opinião mostravam, e comprou “calls” — opções que dão o direito de compra sobre determinado ativo — de Petrobras antes do primeiro turno.

À medida que o segundo turno foi se aproximando, o fundo passou a comprar “puts” — opções de venda –, buscando proteção para o caso de algum eventual desfecho negativo para o papel. O fundo segue apostando em uma queda adicional das ações da Petrobras.

Salomão e Furlan estiveram no grupo de executivos que montaram suas próprias gestoras independentes no Brasil, beneficiando-se de um período de juros na mínima histórica e maior apetite de investidores locais por produtos mais arriscados.

O fundo geralmente roda com cerca de 70% do risco alocado em ações, mas também negocia ativos como moedas e juros.

Na verdade, uma posição vendida em gilts, apostando em alta das taxas no Reino Unido, também foi vencedora nos últimos meses. Em ações, o fundo está com uma visão mais negativa com o mercado internacional, e comprado em Brasil.

“Lula deve ser pragmático, e não ideológico”, disse Salomão. “Se ele perde a economia, não consegue fazer as políticas sociais.”

Completando a lista dos três melhores fundos durante o período eleitoral estão o Solana Equity Hedge e o Mar Absoluto. Os dois subiram 13% e 10% após taxas, respectivamente, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Os dados incluem apenas os fundos com a casca “multimercado” com mais de R$ 500 milhões em ativos e excluem aqueles com apenas um cotista. No geral, o desempenho médio do grupo foi positivo, com um retorno total de 3,5% antes de taxas no período.

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