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Funcionários da Nissan em Barcelona enfrentam futuro sombrio

04 jul 2020, 9:00 - atualizado em 03 jul 2020, 13:12
Nissan
A decisão da Nissan de fechar as três fábricas nos arredores de Barcelona faz parte de uma reorganização mais ampla com parceiros da aliança Renault e Mitsubishi Motors (Imagem: Reuters/Kim Kyung-Hoon)

A vida de Patricia Notario começou a desmoronar quando ouviu rumores de que a Nissan Motor fecharia suas fábricas em Barcelona.

O estado de emergência para conter o avanço do coronavírus estava em vigor na Espanha, e Patricia, de 36 anos, e seu companheiro, também funcionário da Nissan, estavam confinados em casa como milhões de pessoas.

O casal havia usado toda a poupança para dar entrada em um apartamento novo alguns meses antes e aguardava uma decisão sobre a hipoteca.

Depois que a montadora – que já fabricava veículos no local antes do nascimento de Patricia – confirmou a notícia no fim de maio, as consequências foram desastrosas.

O banco negou o pedido de empréstimo do casal, o proprietário reclamou de devolver a entrada de 40 mil euros (US$ 45 mil) e a moradia temporária que o casal alugou até que pudessem se mudar para a nova casa se transformou em um tipo de limbo.

“Nosso futuro é sombrio”, disse Patricia, olhando para uma tela de TV desligada.

Ela não está sozinha. Os meios de subsistência de cerca de 25 mil trabalhadores no polo industrial espanhol estão em risco.

É uma cena que pode se repetir em cidades automotivas do mundo todo, à medida que a crise de coronavírus acelera uma mudança estrutural na indústria automobilística, com muitos concorrentes e em rápida mudança.

A decisão da Nissan de fechar as três fábricas nos arredores de Barcelona faz parte de uma reorganização mais ampla com parceiros da aliança Renault e Mitsubishi Motors, que implica reduzir a produção global em 20%.

A medida está relacionada às tensões que o setor enfrenta em geral com a proximidade do fim da era do motor a combustão.

“A transformação da indústria automobilística é imparável, é uma nova revolução industrial, e a única alternativa é se adaptar ou morrer”, disse Tomas Diaz, funcionário da Nissan e representante do sindicato Comissions Obreres, na região da Catalunha. “Hoje é a Nissan, mas, amanhã, pode ser qualquer outra fábrica.”

As vendas de carros estão em queda, e a recuperação deve ser longa e lenta. As perspectivas para veículos tradicionais são particularmente sombrias.

As maiores economias, responsáveis por 13% das entregas mundiais de carros, se comprometeram a eliminar progressivamente motores a diesel e gasolina, algumas já em 2025.

A queda de 87% dos preços das baterias na última década e a iniciativa verde da União Europeia devem impulsionar as vendas de carros elétricos na Europa de pouco mais de meio milhão no ano passado para 2 milhões em 2025, segundo estimativas da Bloomberg NEF.

As montadoras, que há muito tempo são fonte de renda de classe média para trabalhadores de colarinho azul, estão sendo separadas em duas classes: as com futuro no mundo elétrico e as que serão descartadas mais cedo ou mais tarde.

Se nada mudar, Patricia, seu companheiro e outros 600 mil trabalhadores do setor automotivo na Espanha ficarão de fora da revolução dos empregos verdes.

Embora alguns modelos elétricos sejam montados na segunda maior fabricante de automóveis da Europa, toda a cadeia de suprimentos de carros elétricos da região está concentrada no norte do continente e na Ásia, onde as baterias são desenvolvidas.

“Dava para ver que a fábrica tinha menos produção”, disse Patricia, enquanto o filho de 11 anos jogava videogame no quarto ao lado. “Nunca tivemos a sensação de que a fábrica iria fechar.”

“Não encontramos nenhuma solução ou alternativa viável, devido à capacidade geral global e regional”, disse Gianluca de Ficchy, presidente da Nissan Europe, em comunicado à Bloomberg, acrescentando que o processo vai seguir em frente.