Funcionários da JBS voltam a fábricas nos EUA; Casa Branca culpa Rússia por ataque
Os funcionários das unidades da JBS (JBSS3) nos Estados Unidos deverão retornar ao trabalho nesta quarta-feira, um dia após as operações de carne bovina da empresa terem sido paralisadas devido a um ataque cibernético “ramsonware”.
Um famoso grupo hacker ligado à Rússia está por trás do ataque à JBS, que interrompeu a produção de carne na América do Norte e na Austrália, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.
A brasileira JBS controla cerca de 20% da capacidade de abate de bovinos e suínos nos EUA. Dessa forma, a reabertura das fábricas deve evitar uma interrupção mais grave à cadeia de oferta local, em momento em que os consumidores já enfrentam altos preços de carnes e uma inflação generalizada de alimentos.
A JBS, maior produtora de carnes do mundo, disse na noite de terça-feira que teve avanços significativos na resolução do ataque cibernético.”
A grande maioria das unidades de carnes bovina, suína, de frango e de alimentos processados da companhia estará operacional já nesta quarta-feira, segundo comunicado.
O ataque cibernético à JBS ocorreu semanas depois de um grupo com conexões com a Rússia ter realizado um ataque semelhante à Colonial Pipeline, maior rede de oleodutos dos EUA, afetando a distribuição de combustíveis por vários dias no Sudeste norte-americano.
Este é o terceiro ataque de grandes proporções ligado à Rússia neste ano. A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse nesta quarta-feira que o ataque à JBS deverá ser discutido em uma cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, em meados de junho.
“Não estamos descartando nenhuma opção em termos de como podemos responder, mas é claro que há um processo interno de revisão política para que isso seja considerado. Também estamos em contato direto com os russos para transmitir nossas preocupações a respeito desses relatos”, afirmou Psaki.
“O presidente (Joe) Biden certamente acredita que o presidente Putin e o governo da Rússia têm um papel a ser desempenhado para interromper e evitar esses ataques”, acrescentou ela.
O grupo russo responsável pelo ataque atende pelo nome de REvil, de acordo com a fonte.
Investigadores de cibersegurança já haviam afirmado anteriormente que acreditam que alguns membros da equipe de “ramsonware” do REvil estão baseados na Rússia.
O grupo, conhecido especialmente por ter atacado uma fornecedora da Apple chamada Quanta Computer neste ano, já realizou publicações em russo em fórus de crimes cibernéticos, divulgando dados roubados.
No caso da Quanta Computer, os hackers enviaram ameaças de extorsão e exigiram o pagamento de 50 milhões de dólares para que a empresa pudesse recuperar o acesso aos seus sistemas.
A JBS, cujas operações na América do Norte estão sediadas em Greeley, no Colorado, vende carnes bovina e suína sob a marca Swift, utilizando redes varejistas como a Costco.
Os preços das proteínas bovina e suína nos EUA já vinham em alta, diante de um aumento nas importações pela China, de custos mais elevados com ração animal e da escassez de mão-de-obra em frigoríficos desde que surtos de Covid-19 resultaram no fechamento de diversas unidades no país.
A JBS também controla a produtora de carne de frango Pilgrim’s Pride, que vende frango orgânico sob a marca Just Bare.
As operações da companhia no Brasil, México e Reino Unido não foram afetadas pelo ataque, disse a JBS.
A JBS cancelou o primeiro turno em sua fábrica em Greeley nesta quarta-feira, mas o turno seguinte está programado para ocorrer normalmente, disseram representantes do sindicato United Food and Commercial Workers International Union Local 7 por e-mail.
Já uma unidade da JBS em Grand Island, no Nebraska, avisou a funcionários pelo Facebook que vai retomar sua programação normal em todos os departamentos.
Os contratos futuros de bovinos negociados na bolsa de Chicago avançaram nesta quarta-feira, após terem registrado queda na véspera, já que o fechamento de fábricas da JBS impedia produtores de entregar animais para o abate.
O “ransomware” se transformou, nos últimos anos, em uma questão urgente de segurança nacional. Diversos grupos criminosos, muitos deles se comunicando em russo, desenvolvem o software que criptografa arquivos e depois exigem pagamentos em criptomoedas em troca das chaves que permitem que os proprietários os decifrem e voltem a utilizar os sistemas.