Coluna do Beto Assad

Fuga da poupança: Brasileiro abandonou o investimento mais tradicional do país?

15 out 2022, 15:00 - atualizado em 14 out 2022, 15:48
Poupança
Entenda por que você deveria ter medo de investir na poupança. Leia a coluna do Beto Assad, analista e consultor para o Kinvo. (Imagem: Pixabay/3D Animation Production Company)

A poupança sempre foi o investimento mais popular do Brasil. Com mais de 160 anos de história, ela surgiu no dia 12 de janeiro de 1861 em decreto assinado por Dom Pedro II, que estabelecia o pagamento de juros de 6% para “as pequenas economias das classes menos abastadas”.

Assim, desde a criação da poupança, o foco era oferecer um produto financeiro para pessoas e famílias que possuíam menor capacidade financeira, com garantia do governo imperial.

Com o passar dos anos e diversas mudanças em suas regras, a poupança “caiu” no gosto das pessoas, principalmente pela facilidade que ela oferecia.

Muitas contas bancárias passaram a oferecer o rendimento automático da poupança ao cliente, estimulando as pessoas a usarem o investimento como sua principal forma de rentabilizar o capital.

Afinal de contas, mesmo que o rendimento fosse baixo, era melhor do que não ganhar nada.

Medo de sair da poupança

Quando colocamos na balança que para os bancos era também uma forma fácil de captar recursos, já que a remuneração oferecida aos clientes era muito mais baixa do que as taxas praticadas pelas instituições, ficou fácil de entender o esforço praticado para que o investimento se tornasse popular.

O êxito foi tão grande que até hoje existem pessoas (e muitas, acredite!) que têm literalmente MEDO de investir em outros produtos de renda fixa.

Mas parece que a nova geração de investidores, principalmente com a velocidade com que a internet possibilita o compartilhamento de conhecimento e informações, vem saindo do casulo, da para entender que existe sim vida fora da poupança. E como existe.

Desde que a poupança teve sua última mudança nas regras de rentabilidade, em 2012, ela tem perdido constantemente para a inflação. Isso quer dizer que deixar o dinheiro parado na poupança, muitas vezes, significa perder poder de compra. Sim, você está perdendo dinheiro nesse investimento.

O último mês de setembro trouxe até algum alento para aqueles que não acordaram ainda para o novo mundo da renda fixa.

Com o IPCA indicando o terceiro mês consecutivo de deflação, a poupança voltou finalmente a render mais do que o principal índice de evolução dos preços no país.

Mas não vejo isso com uma grande notícia, já que quando olhamos o histórico de rendimentos da poupança, ela vinha perdendo poder de compra desde agosto de 2020.

Ou seja, quem deixou o dinheiro parado em alguma caderneta desde meados da pandemia, apenas agora começa a ver o dinheiro conseguindo ficar acima da inflação.

Produtos de renda fixa

Volto então a falar do novo mundo da renda fixa, que já nem é tão novo assim, mas que parece ainda novidade para muita gente ainda apegada ao “baixo risco” da poupança.

Num passado bem próximo era complicado para o pequeno investidor conseguir investir em renda fixa de maneira mais dinâmica.

Para oferecer boas rentabilidades, as instituições financeiras condicionavam a aplicação de recursos de maior valor e com grandes e com grandes períodos de vencimento. Um CDB com 100% do CDI era algo para poucos privilegiados.

Os títulos públicos também não eram de fácil acesso à pessoa física, ficando por muito tempo quase que exclusivos para fundos de investimento e grandes investidores.

Com o passar do tempo e a popularização das corretoras de valores e mais recentemente dos bancos digitais, o aumento da concorrência obrigou as instituições a flexibilizarem as formas de se investir tanto em renda fixa quanto em renda variável.

O resultado é uma guerra entre as instituições oferecendo cada vez mais produtos com ótimas rentabilidades, aportes pequenos e prazos mais interessantes de resgate.

E o próprio Tesouro Direto se transformou num grande player para a pessoa física, oferecendo seus títulos de maneira mais clara e com valores extremamente baixos para investimentos iniciais.

Parece que todo esse esforço, enfim, começa a dar resultado no trabalho de “educar” os investidores mais medrosos.

Fuga de dinheiro

A poupança vem enfrentando uma fuga de recursos de maneira ascendente, seja para quem estão utilizando os recursos numa necessidade financeira, seja para investir em outros produtos mais rentáveis e com o mesmo grau de segurança.

Em setembro, o saldo da poupança ficou negativo em R$ 5,9 bilhões, sendo o segundo maior volume de retirada líquida da história, perdendo apenas para o mesmo mês do ano passado (saldo negativo de R$ 7,72 bilhões).

No passado todo, o saldo da poupança ficou negativo em R$ 34,496 bilhões.

Esses números querem dizer que a poupança está com os seus dias contados? Longe disso. Muita gente continua usando a poupança não como investimento, mas como sua conta corrente, fazendo várias movimentações ao longo do mês.

Além do mais, levantamento do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) mostra que o saldo de depósitos com valores até R$ 5 mil cresceu 55% nos últimos meses, representando um aumento de 36% nessa faixa.

Assim, fica claro que mesmo com uma rentabilidade abaixo do que se consegue hoje em dia na renda fixa, muita gente ainda insiste na poupança, seja por falta de informação, seja por pura comodidade.

Apenas ressalto que, para quem quer ter uma carteira de investimentos mais rentável a longo prazo, a poupança (nas atuais circunstâncias) deveria passar longe das opções de escolha.

Cabe a cada um analisar o que é mais interessante para os seus objetivos. Para mim, se é para ter um investimento que pode perder poder de compra com o tempo, prefiro colocar na renda variável, já que a possibilidade de ganhos também é infinitamente superior.

Quando penso em renda fixa, aí prefiro focar em CDBs, Tesouro Direto, LCI, LCA e até debêntures. Poupança? Não, muito obrigado!

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Disclaimer

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Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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