Frigol confia em crescimento, vai precisar de dinheiro e não descarta nada, bancos, debêntures ou IPO
O grupo Frigol, o quarto maior frigorífico de bovinos do Brasil, está convicto que vai crescer mais. E quando se fala em crescimento acima da capacidade operacional, está se falando em expansão física, para a qual só o dinheiro do caixa não dá conta.
A empresa de Lençóis Paulista (SP), que saiu da recuperação judicial (outubro de 2019), com louvor, como o mercado financeiro comenta, vai para a praça atrás de dinheiro novo.
E todas as opções estão na mesa, como deixa claro o CEO Eduardo Miron. Pode ser com bancos, debêntures, notas promissoras e, até, uma eventual Oferta Pública Inicial (IPO) de ações. S/A a Frigol já é.
“O mercado está cada vez mais sofisticado e não podemos descartar nenhuma das opções de como financiar esse crescimento”, diz Miron, ex-conselheiro e CEO desde dezembro.
Com jeito de “empresa pública”, seguindo padrões de conselho independente e controles internos terceirizados, passivo de curto prazo casado com ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) e caminhando para o alongamento cada vez maior, o timing da companhia para tomada de novos recursos privados pode ser até curto, deixa antever o gestor da companhia.
Já está em planejamento um “Frigol Day” para 2022. Se acontecer ainda no primeiro trimestre, o mercado vai conhecer, em mais detalhes, os números de 2021 que estão sendo finalizados, daí que o executivo é cauteloso: R$ 3 bilhões em faturamento (R$ 2,4 em 2020), Ebitda acima de 4% e alavancagem de 1,3 vezes, praticamente iguais a ano anterior.
O que vem pela frente, contudo, é o que vai valer mais.
Capacidade
Miron lembra que a utilização da capacidade das três plantas – de Lençóis e as duas paraenses (Água Azul do Norte e São Félix do Zingu) -, só não foi maior que os acima de 74% de 2021 porque a China ficou fora das compras 3,5 meses (até 15 de dezembro), após os episódios de vaca louca, que abalaram o setor.
Mas, com a unidade de São Félix na lista brasileira para habilitação de exportação à China, e à espera das auditorias do governo brasileiro e americano para aprovação de exportações aos Estados Unidos, além da consolidação dos 60 destinos externos atuais, a contagem está aberta.
Em abril do ano passado, a Frigol fechou a planta goiana de Cachoeira Alta por resultados que poderiam comprometer o caixa.
Ainda assim, abateu 400 mil bois, acima de 2020, e se prepara para abater mais 17% este ano.
Ou seja, só com o que a Frigol já tem de mercado externo, com 38% no ano passado (também levemente achatado no período com a China fora das compras), e caminhando para chegar aos 50%, destaca Miron, já encostaria nos 90% de uso das três plantas.
Para os portos chineses, a média de participação girou entre 75% e 80%.
Sim, mercado interno não conta muito nos planos de alicerçar o avanço.
Eduardo Miron, naturalmente, não pode contar com o humor de Pequim em liberar uma nova lista de frigoríficos brasileiros, e nem se sua planta paraense vai estar no meio, e menos ainda com a expectativa de habilitação aos EUA, mas nunca se sabe.
Até uma possível liberação, pelos chineses, para o Brasil exportar carne com osso, coisa que só argentinos e uruguaios podem na América do Sul, que demandaria mais mercado, está no rol de possibilidades, apesar da demora do maior comprador global da proteína brasileira em aceitar essa reivindicação.
Tudo isso em jogo, a Frigol tem só dois caminhos para usar os recursos que terão que entrar.
Não é preciso Miron explicar. Ou cresce organicamente, abrindo do zero outras unidades, ou sai às compras.
Alguns ensaios discretos o grupo frigorífico paulista já vem fazendo. O CEO pontua que está terceirizando o abate de animais angus – por enquanto destinado ao mercado interno de nicho, mas claro que de olho no mercado americano no futuro – para não atrapalhar as operações de outras plantas.
O Frigol também tem uma pequena planta de suínos, em Lençóis Paulista, proteína com a qual os irmãos Gonzaga, controladores, começaram, mas sem planos de crescimento, daí que é outra história.