Franqueamento de áreas de cana ajudou deixar Atvos atraente, diz grande arrendatário
Quando os problemas da Atvos se avolumaram na esteira do comprometimento do Grupo Odebrecht nas investigações da Lava Jato, em simultâneo à crise do setor sucroenergético, a gestão das usinas intensificou a política de fatiar grandes áreas para fornecedores profissionais de cana. E isso teria sido um dos fatores que melhoraram o perfil operacional e do passivo das nove unidades que tiveram a Recuperação Judicial (RJ) homologada há dois dias.
Essa é a opinião de um dos grandes arrendatários, que ficou com 8 mil hectares e desde três anos para cá não tem tido problemas com os créditos pela matéria-prima entregue na usina de Cachoeira Alta (GO). Esse sistema, que também é conhecido no meio quase como franquia, ganhou volume nos últimos anos.
“A empresa desonerou o seu capital, em alguns casos entregando metade da área, já que os fornecedores ficaram com os investimentos, e a entrega de cana com qualidade ficou garantida, mantendo as condições operacionais”, diz Gustavo Chavaglia, produtor tradicional do Norte de São Paulo e do Triângulo Mineiro, e presidente da Aprosoja SP.
Chama a atenção também que as áreas arrendadas, fora de São Paulo, são em regiões de terras mais baratas.
Ele afirma não falar pelos demais fornecedores e parceiros agrícolas, mas até onde sabe não vê registros de problemas graves, uma vez que não se observou manifestações oficiais dessa classe de credores nos últimos anos.
E com a Justiça acatando o pedido, o planejamento fica mais previsível, diz Chavaglia, membro da Comissão de Cana da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo e da diretoria da Canaoeste.
Na RJ, cuja oficialização foi em maio de 2019, a Atvos destaca que “a prioridade é o pagamento dos créditos de fornecedores e parceiros agrícolas. Os pagamentos serão realizados em parcela única, no prazo de 90 dias (para os credores que optarem por receber até R$ 50 mil), ou em três parcelas anuais com primeiro pagamento um ano após a homologação do plano aprovado hoje”.
Não houve manifestação da Atvos, ex-Odebrecht Agroindustrial, quanto ao número de produtores parceiros, entre fornecedores de cana e fornecedores arrendatários, como Gustavo Chavaglia. Nem sobre a participação dessa classe no total ventilado de R$ 15 bilhões em dívidas totais, sendo que os principais credores financeiros são BNDES e Banco do Brasil.
Em paralelo a esse perfil de gestão dos canaviais, que é o calcanhar de Aquiles de muitas usinas em dificuldades – baixa produtividade por falta de investimentos – o arrendatário da Atvos em Goiás também enxerga que os ativos industriais são bons.
“Todas as usinas são modernas”, complementa ele sobre as unidades espalhadas por Goiás (3), São Paulo (2), Mato Grosso do Sul (3) e Mato Grosso (1), com capacidade somadas de 36 milhões de toneladas de cana, 700 mil/t de açúcar, 3,7 bilhões/l de etanol e 3,1 mil GWh de cogeração de energia.
Desde esta quarta circula informação de interesse do fundo Mubadala, de Abu Dhabi, de entrar no negócio, injetando capital novo, mas pedindo desconto para os credores. Não houve confirmação de nenhuma das partes ainda.
Mas dado o perfil da empresa e com a homologação da RJ, quando ainda há no setor várias unidades que não tiveram aprovação, Gustavo Chavaglia acredita que os interessados vão começar a surgir.