Mercados

Franklin Templeton vê bolsa barata, mas eleição limita investimento

04 set 2018, 14:10 - atualizado em 04 set 2018, 14:10

Por Angelo Pavini, da Arena do Pavini – O recente comportamento ruim do mercado acionário brasileiro não é reflexo dos fundamentos das empresas, mas da insegurança com o futuro, em especial com a eleição presidencial, avalia Frederico Sampaio, diretor de Investimentos da gestora americana Franklin Templeton. Por isso, os preços dos papéis estão muito atrativos, mas há um grande receio dos investidores em comprar pelo risco de quedas maiores mais adiante caso um candidato contrário às reformas e ao ajuste fiscal ganhe. Investidores de mais longo prazo estão adiando as compras e isso acaba também reduzindo os volumes negociados, o que favorece as oscilações dos preços.

Mas Sampaio acha exageradas as projeções de que o Índice Bovespa, hoje em 76 mil pontos, vai buscar os 45 mil pontos no cenário de vitória de um candidato contra as reformas. “O mercado hoje já embute o pior cenário e está com preços que equivalem a 10,5 vezes o lucro projetado para as empresas nos próximos 12 meses, um dos mais baixos do mundo”, diz. “Se o índice cair para 50 mil pontos, vai estar em 8,5 vezes o lucro, o que pode ser um ponto de compra e atrair investidores”, diz. Para justificar essa expectativa, ele olha os fundamentos das empresas, que têm melhorado mesmo com o crescimento medíocre da economia brasileira.

(Bloomberg e Franklin Templeton)

Dólar exagerado

Parte da queda da bolsa é também reflexo das preocupações com o cenário externo e com as economias emergentes, como Argentina e Turquia. Mas Sampaio acredita que o dólar no Brasil parece estar em um patamar exagerado acima de R$ 4,00. “O México tem um balanço de pagamentos parecido com o do Brasil e a desvalorização do peso é muito menor que a do real”, diz.

Por isso, Sampaio atribui a instabilidade do câmbio também à eleição.  “Todos os indicadores do Brasil estão estressados por conta da eleição presidencial”, diz. Mas ele lembra que as contas externas brasileiras estão excelentes e, com esse dólar nesse nível, o déficit de conta corrente tende a diminuir ainda mais com aumento das exportações e queda das importações. “Já tem muita coisa no preço”, diz.  “E, se a eleição mostrar um resultado positivo, o dólar pode desabar”, diz.

Lucro das empresas cresceu 26% sem Petrobras e Vale

Ele lembra que o lucro das empresas brasileiras na bolsa subiu 38% este ano até junho, percentual que cai para 26% sem Petrobras e Vale, melhorando a relação entre o preço das ações e o resultado das companhias. E, mesmo com a greve dos caminhoneiros paralisando o país no fim de maio, a geração de caixa das empresas subiu 20%. “Haverá impacto no resultado das empresas por conta da greve e do menor crescimento da economia, mas mesmo assim a estimativa para o aumento dos lucros este ano é de 25%”, diz.

Cenário eleitoral aberto

Apesar desse cenário positivo dos fundamentos das empresas, Sampaio diz que o cenário político totalmente aberto dificulta uma recuperação dos preços ou mesmo uma aposta mais firme na recuperação da bolsa. Apesar de quase todos os candidatos falarem em reforma da previdência, o que é um avanço em relação à eleição de 2014, quando os problemas do país foram ignorados pelos candidatos, há ainda receio com o discurso do PT contra as reformas. “Fico apavorado ouvindo o Pochman (Márcio Pochman, um dos coordenadores do programa econômico do PT) falando que não é preciso reformar a Previdência ou fazer ajuste fiscal”, diz. Ele admite que muito desse discurso é retórica de campanha, para angariar votos, “mas sempre fica a dúvida, será que é mesmo?”, questiona.

Haddad no segundo turno

E a insegurança aumenta pois as projeções de importantes analistas políticos são de que o candidato do PT, provavelmente Fernando Haddad, estará no segundo turno da eleição, contra Jair Bolsonaro, do PSL. Sampaio acredita, porém, que as projeções ainda são muito limitadas, pois a maioria da população ainda não começou a pensar na eleição. “Agora, com o horário eleitoral e a aproximação da votação é que as pessoas vão começar a pensar”, diz. “As pesquisas de setembro é que vão contar e devem confirmar esse cenário binário, de um candidato de esquerda e outro de centrou ou direita”, diz.   O mais provável, acredita, é que ocorra o que aconteceu em 2014, quando só se soube no último instante quem ia disputar com Dilma Rousseff o segundo turno. “Hoje temos também vários candidatos que podem ganhar força.”

Segundo Sampaio, o mercado trabalha hoje com dois cenários principais para a bolsa. O primeiro, de vitória de Haddad ou de Ciro Gomes, do PDT, também de esquerda, e que levaria o Índice Bovespa para 45 mil pontos. O segundo, de vitória de Bolsonaro, faria o índice subir acima dos 80 mil pontos. E o cenário mais otimista para o mercado, de vitória de Geraldo Alckmin, do PSDB, seria de um Ibovespa acima dos 90 mil pontos.

Sobre o apoio às reformas no Congresso, Sampaio acredita que  ele virá. “O problema fiscal é bastante conhecido e os parlamentares vão querer agradar ao novo presidente”, acredita.

Volume cai com incerteza política

A incerteza afetou também o volume negociado na bolsa brasileira, que recuou de R$ 12 bilhões até julho para R$ 7 bilhões em agosto. “Ninguém sabe o que vai acontecer e há essa volatilidade absurda com informações mexendo muito com os preços”, diz, lembrando que  a cada nova notícia de pesquisa há muita especulação. “E o investidor de longo prazo recua nesse cenário pois não tem muita convicção”, afirma.

Com isso, as empresas menos líquidas sofrem mais, caso das que formam o Índice de Small Caps da bolsa, que perdia 7% no ano.

Estratégia é aproveitar pechinchas, mas com proteção

A estratégia de Sampaio nesse momento de incerteza é buscar fazer hedge em todas as operações em bolsa. “Tem muita coisa barata, muita oportunidade, e apesar do risco, se vier uma mudança de cenário, se o Alckmin passa para 15% das intenções o mercado dispara”, explica. “Então temos uma bolsa a 100 pontos ou 60 pontos”, diz.

Segundo ele, há muita empresa com muita geração e caixa muito baratas, oferecendo altos dividendos. “E mesmo com crescimento menor da economia essas empresas estão crescendo os lucros”, diz. Segundo ele, até Itaú Unibanco hoje está com bom retorno em dividendos, de 7% a 8% ao ano.

Assim, a estratégia são empresas geradoras de caixa com retorno em dividendos altos e setores regulados menos sensíveis às oscilações da economia. “E tem muita coisa barata, como Energisa, Cemig, ou exportadoras, como a Vale”, diz.

Sampaio deu as informações durante o Franklin Templeton Academy Day, na semana passada, na FAAP.

Abaixo, um gráfico com a relação do preço e do lucro projetado das empresas (P/E) das ações do Ibovespa.

(Bloomberg e Franklin Templeton)

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