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Foto horrível, filme bonito: Por que ‘Buffett de Londrina’ compra ação que derrete 40% no ano

17 nov 2024, 16:00 - atualizado em 17 nov 2024, 16:12
Queda
(Imagem: iStock/coffeekai)

Comprar na baixa e vender na alta é um mantra de muitos investidores, principalmente os focados no longo prazo. Porém, é preciso ter paciência e uma dose de sangue de frio. Que o diga Cesar Paiva, também conhecido por Warren Buffett de Londrina pelo histórico da sua rentabilidade.

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Em evento do Bradesco Asset, ocorrido na última quarta em São Paulo, o gestor da Real Investidor, com mais de R$ 8 bilhões sob gestão, disse que está comprando ações da MRV (MRVE3), construtora que tem um ano sofrível. A ação acumula queda de 40% e negocia nas mínimas dos últimos 5 anos.

De acordo com o Paiva, “foto da companhia é horrível, mas o filme é bonito”. Ele recorda que em 2019, a companhia estava preparada para fazer 100 mil unidades, em meio ao crescimento econômico do Brasil. Porém, a pandemia pausou todo o planejamento.

“Eles olharam e pensaram: “ferrou, estávamos preparados para um volume grande, quem vai comprar imóvel agora durante a pandemia?”

Segundo o gestor, a companhia tomou uma das piores decisões ao baixar os preços para vender o máximo possível.

“Conseguiram melhorar ano de vendas da história da MRV em 2020, vendendo apartamentos que precisariam entregar nos próximos três anos com desconto. Começaram a construir, mas então veio uma inflação de INCC e GPM de 30%. O que foi vendido com desconto acabou custando muito mais do que o esperado”.

No meio do caminho, explica, a empresa se endividou, e a taxa de juros foi para 13,75%, o que piorou a situação.

“Eles haviam investido nos Estados Unidos na Résia, uma operação que fazia sentido com juros longos e baratos nos EUA, mas quando o juro subiu para 5%, o cenário se tornou um desastre. Agora estão tentando resolver esses problemas”, afirma.

Apesar disso, já em 2023 a companhia vez um ano bom, 2024 está sendo “maravilhoso” e 2025 deve ser “muito bom”.

“A empresa já deu um guidance para o mercado, não que eu acredite, mas para ilustrar os números deles: eles imaginam que vão entregar um lucro de R$ 1,5 bilhão em 2026. Atualmente, estão negociando a R$ 3,9 bilhões, o que daria uma relação preço-lucro de 3,1 vezes”.

Em sua visão, talvez a MRV esteja negociando a quatro vezes o lucro. Além disso, sinalizou que dará um fim para a Résia, seja vendendo ou buscando outra alternativa.

“Portanto, é aquele momento de comprar uma empresa que, embora no momento a foto seja feia, pode ser uma boa oportunidade, pois você paga bem barato, mas o futuro (o “filme”) pode ser muito melhor. A Résia, inclusive, é uma boa ideia, mas a empresa é sólida e confiável”.

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MRV volta a tombar com resultados

A saga do papel continua. Na última quinta, MRV fechou em queda 7,07%, a R$ 6,44, após reportar prejuízo consolidado de R$ 12,7 milhões no terceiro trimestre de 2024 (3T24) — menor que a perda de R$ 136,5 milhões apurados na mesma etapa de 2023.

Desconsiderando os impactos extraordinários, o resultado foi um lucro líquido ajustado de R$ 17,3 milhões, reversão do prejuízo de R$ 20,9 milhões de um ano antes.

Na avaliação do BTG Pactual, a construtora apresentou resultados fracos no terceiro trimestre, com uma “leve decepção” no lucro final devido a despesas de juros acima do esperado (menor capitalização de despesas financeiras, pois os projetos da Resia estão sendo entregues) e despesas gerais e administrativas (G&A) também acima do previsto.

Por outro lado, os analistas do banco a avaliam que a MRV gerou um fluxo de caixa livre sólido de R$ 178 milhões, proveniente de R$ 70 milhões nas operações no Brasil (MCMV, nicho de média renda, loteamento e multifamily), impulsionadas por securitizações (entradas líquidas de R$ 428 milhões), e R$ 107 milhões na Resia (operações multifamiliares nos EUA), graças à venda do projeto Old Cutler.

“O turnaround da MRV está demorando mais que o previsto inicialmente, mas acreditamos que as margens brutas estão melhorando no programa MCMV. E, uma vez que os projetos da Resia forem vendidos, a alavancagem deve diminuir”, pondera o BTG.

Genial Investimentos, por sua vez, destaca que a situação operacional da companhia segue melhorando, mas entendem que os impactos financeiros ainda são insuficientes para trazer conforto de uma desalavancagem suave.

“No entanto, ressaltamos alguns riscos adicionais que nos incomodam e vêm sendo adicionados à tese de turn around, dentre eles a recuperação ainda lenta, especialmente quando comparado à Tenda, por exemplo, e risco de aumento nos custos de produção de imóveis no sul dos EUA (onde a Resia atua) devido a uma possível mudança nas políticas de imigração do presidente-eleito Donald Trump”, explicam os analistas.

Com Juliana Caveiro