Opinião

Forte rali da Apple é sustentável diante dos riscos comerciais da China?

26 jun 2019, 11:51 - atualizado em 26 jun 2019, 11:58
Computador da Apple
Apple está mostrando uma forte resiliência apesar dos riscos constantes da guerra comercial entre EUA e China (Imagem: Pixabay)

Por Haris Anwar/Investing.com

A Apple (AAPL) está mostrando uma forte resiliência apesar dos riscos constantes da guerra comercial entre EUA e China. Seus papéis se valorizaram cerca de 11% nas últimas quatro semanas, apesar de terem caído levemente nos últimos dois pregões, fechando ontem a US$ 198,58. Essa recente disparada aumenta ainda mais a potência do rali que impulsionou a alta das suas ações em mais de 27% neste ano.

Mas a grande questão daqui para frente é se essa tendência de alta é sustentável e se este é o momento certo para apostar na compra das ações da Apple. Os riscos para a fabricante dos iPhones são vários e sérios. O maior deles é a interrupção da enorme cadeia de fornecimento da companhia – uma ampla rede de fornecedores de baixo custo – se a disputa comercial entre EUA e China se intensificar.

Gráfico Apple
Gráfico Apple

Em uma carta ao governo na semana passada, a Apple enfatizou os riscos significativos a seus negócios se o presidente dos EUA, Donald Trump, impuser tarifas de 25% a um novo grupo de produtos importados da China. Essa iniciativa, de acordo com a Apple, prejudicaria vários dos seus produtos mais vendidos, como iPhones, iPads, MacBooks e Apple Watches.

Apple declarou na carta endereçada ao Representante de Comércio dos EUA que as tarifas “resultariam em uma redução da competitividade global e da contribuição econômica da Apple aos EUA” (Imagem: Facebook oficial de Donald Trump)

A Apple declarou na carta endereçada ao Representante de Comércio dos EUA que as tarifas “resultariam em uma redução da competitividade global e da contribuição econômica da Apple aos EUA”. O alerta da Apple foi feito às vésperas da importantíssima reunião deste fim de semana entre o presidente Trump e o líder chinês Xi Jinping, no Japão, onde tentarão chegar a um acordo sobre o futuro do comércio entre as duas maiores economias do planeta.

Mais exposta à China

Ao longo dos anos, a Apple construiu uma grande rede de fornecedores na China, a fim de reduzir custos, o que fez com que se tornasse uma das empresas mais expostas ao país asiático. A gigante da tecnologia emprega cerca de dois milhões de pessoas em sua cadeia de fornecimento, além de um número similar de profissionais de tecnologia que se dedicam ao desenvolvimento de aplicativos Apple. A companhia projeta e vende a maioria dos seus produtos nos EUA, mas os importa da China após a montagem.

Além do risco chinês, a Apple também está em meio a uma reestruturação de longo prazo para fazer frente à queda das vendas dos seus principais modelos de iPhones, que correspondem a cerca de 60% da sua receita total. A gigante da tecnologia de Cupertino, Califórnia, está oferecendo novos serviços a mais de 1,4 bilhão de usuários do seu hardware, como um novo serviço de vídeos por assinatura, um cartão de crédito Apple e um serviço de jogos por assinatura com acesso a mais de 100 games exclusivos.

Esses desafios, sem dúvida, não são de nenhuma forma insignificantes e podem continuar gerando ciclos de alta e baixa nas ações da Apple no curto prazo. Mas, em nossa visão, a companhia tem tudo para combater seus três principais desafios e ainda sair vencedora no longo prazo.

A ameaça chinesa: a Apple está em uma excelente posição para resistir a essa tormenta se os EUA e a China não conseguirem resolver suas diferenças e seguirem em frente com seus planos tarifários. A Apple possui mais de 1,4 bilhão de base de usuários instalada, uma forte presença global e uma reserva de caixa de US$ 225 bilhões. Essa força permitirá que a companhia repasse custos adicionais à sua base fiel de clientes, ao contrário de pequenos players que podem não ter recursos suficientes para continuar no jogo.

Retaliação: a China não deve atingir a Apple em sua retaliação após o governo Trump colocar a Huawei Technologies em sua lista negra, por causa da enorme contribuição da Apple à sua economia. Em uma recente nota aos clientes, o analista do Bank of America, Wamsi Mohan, disse que é pouco provável um cenário em que a Apple seja pega no fogo cruzado entre EUA e China. “Consideramos que os riscos relacionados às tarifas da China estão precificados”, escreveu. “Acreditamos que é baixa a probabilidade de uma grande retaliação contra a Apple.”

Reestruturação: a Apple parece estar tendo sucesso em seu plano de reativar o crescimento das vendas e diversificar sua receita além de iPhones. Os serviços da companhia, que incluem Apple Music, aluguéis de filmes e downloads de aplicativos, tiveram um crescimento de 33% no ano passado, e as vendas atingiram US$ 40 bilhões, respondendo por cerca de 15% das vendas totais de US$ 265,6 bilhões da companhia.

Essa contribuição sem dúvida acelerará assim que a nova linha de serviços da companhia – streaming de vídeo, Apple Pay e jogos – começar a gerar dinheiro. Essa contribuição para a receita total da Apple, de acordo com uma estimativa do Morgan Stanley (NYSE:MS), continuará crescendo e pode gerar cerca de 60% do faturamento da Apple nos próximos cinco anos.

Resumo

As próximas semanas serão cruciais para a sustentabilidade do rali da ação no curto prazo. Não é segredo para ninguém que um resultado negativo nas tratativas comerciais entre EUA e China prejudicará as ações de tecnologia de alto crescimento, como a Apple. Mas qualquer queda nos papéis da Apple deve ser considerada como uma oportunidade de compra, graças à forte marca global da companhia, posição de caixa e seu ímpeto de diversificação de receitas.

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