Ford oferece dividendos atraentes, mas será que são seguros?
Uma das marcas mais confiáveis dos EUA — a Ford Motor Company (F) — vem caindo há vários anos. As ações da segunda maior fabricante de automóveis apresentaram resultados negativos nos últimos cinco anos, ficando de fora do forte rali dos mercados acionários, que fez disparar os papéis de diversas empresas do setor de consumo.
A ação estava sendo negociada a US$ 8,78 no fechamento de sexta-feira, uma queda de quase 21% em relação aos US$ 10,86 registrados há um ano. No entanto, o que chama a atenção nesse prolongado ciclo de baixa é o dividend yield extremamente atraente da Ford, que agora está perto de 7%. Para colocar esse número em contexto, basta compará-lo ao rendimento médio do S&P 500 de 1,93%.
Mas, será que esse dividendo é seguro? Geralmente, quando uma empresa oferece um retorno maior do que a média do mercado, é sinal de perigo. Os investidores buscam um desconto para adquirir uma ação que é considerada mais arriscada. Por isso, para os investidores que querem obter uma renda estável proveniente de dividendos, faz sentido apostar nas ações da Ford?
Grandes mudanças em andamento
O caminho da Ford tem sido difícil. Depois de anos de crescimento de vendas, graças à robustez da economia global e da demanda dos consumidores, a fabricante de automóveis está agora enfrentando grandes adversidades: a companhia está realizando uma reestruturação de US$ 11 bilhões, depois de o seu lucro líquido ter caído mais que a metade no ano passado, com a redução da demanda de seus sedãs. A reestruturação prevê o fechamento de milhares de postos de trabalho, incluindo fábricas em outros países, e a capacidade de fabricar veículos elétricos e autônomos.
A companhia está saindo de mercados automotivos menores e focando em SUVs e picapes nos EUA, ao mesmo tempo em que acelera seus esforços para rapidamente ingressar nos mercados de veículos elétricos e autônomos. No mês passado, a empresa anunciou que gastará US$ 900 milhões para construir carros elétricos e sem motorista em sua planta de Flat Rock, no sul de Detroit.
Os investidores não deram muita fé a esse enorme esforço de reestruturação que a Ford está fazendo para melhorar sua lucratividade nessa nova era. A ação vem sendo negociada abaixo de US$ 10 desde meados do ano passado, em meio a preocupações com a sustentabilidade do seu generoso dividendo trimestral de US$ 0,15 por ação.
Analistas já trabalham com um possível cenário de corte de dividendos e rebaixamento da nota de crédito da Ford em breve, se o plano de reestruturação da companhia não der resultado. A relutância da empresa em fornecer um prognóstico de desempenho para 2019 está alimentando ainda mais esses temores.
“Sem dúvida é possível encontrar valor nas ações da Ford, mas não temos pressa em adquiri-las em vista da elevada incerteza do mercado (evidenciada pela relutância da gerência em fornecer um prognóstico específico) e do trabalho pesado necessário para remover as barreiras para um desempenho melhor”, afirmou Richard Carlson, do Banco de Montreal, depois que a companhia divulgou seus resultados do 1T no final do mês passado. O executivo disse ainda:
“Continuamos cautelosos com as ações, pois acreditamos que o dinheiro novo destinado ao setor automotivo deve ser injetado em empresas que já apresentam bons resultados”.
Apesar da séria tentativa da Ford de acompanhar as mudanças nas tendências dos consumidores e na tecnologia, está ficando difícil se animar com seu dividend yieldelevado. Acreditamos que a estratégia da companhia de financiar sua transformação para uma fabricante automotiva moderna através da venda de SUVs e picapes grandes é arriscada.
Os consumidores evitarão rapidamente esses veículos de alto preço se a economia azedar ou os preços dos combustíveis continuarem subindo nas bombas. Uma combinação similar forçou a Ford a cortar sua distribuição de dividendos em 2006, que só foi retomada em 2012, quando foi a única fabricante de automóveis de Detroit a sair da recessão global sem recorrer a uma recuperação financiada pelo governo.
Outra razão que torna as fabricantes de automóveis tradicionais menos atraentes como opção de investimento, em nossa visão, é a crescente tendência dos consumidores de usar o compartilhamento de corridas por aplicativo, que acaba com a necessidade de ter um carro próprio.
O mercado avaliou a Lyft Inc. (LYFT), segundo maior serviço de contratação de motoristas particulares dos EUA, não tão atrás da Ford em seu IPO da semana passada. O entusiasmo dos investidores com a Lyft, que não possui grandes fábricas de automóveis, é um grande indicativo de onde o futuro está.
Resumo
É difícil de ver uma retomada do crescimento para a Ford no curto prazo. A indústria automotiva está enfrentando enormes desafios, que continuam pressionando os resultados da empresa, seu fluxo de caixa livre e os preços das suas ações. Para investidores de longo prazo, é melhor ficar de fora e monitorar como se dará sua recuperação.