Fora do que foi travado, café de safra nova pode chegar em mercado de pouca liquidez
Um cenário que toma corpo em relação ao café é de como será a liquidez do mercado comprador quando a safra começar a partir de maio, levando-se em conta a possibilidade de continuidade da paralisação de atividades nos principais países compradores. A oferta estará entrando, daquilo que não foi travado antecipadamente, contra uma demanda reprimida.
Como a envergadura projetada do mercado é difícil de se prever – a menos aquela que já se garante, de acordo com várias análises, de queda acentuada nas economias -, a expressão de Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, resume: “Vai ser preciso muita cautela”.
É tanta a confusão que ele não está entendendo o movimento de alta forte na bolsa de Nova York, acima dos 9% nesta quarta (18). Em informe, o Escritório Carvalhaes, de Santos, também falou em ainda tentar entender a reação do mercado.
A Cooxupé, maior exportadora, tem cerca de 50% da safra já travado (em bolsas, em barter e em CPRs), e alguns agentes estimam entre 40% e 50% no cômputo da produção do tipo arábica nacional, como Jânio Zeferino, da AgroEasy.
Bebida totalmente social, o café tem forte consumo fora dos lares – especialmente na Europa – e, convenhamos, ninguém deixa de viver sem beber. Pode até entrar no grupo alimentos, mas não é ao mesmo tempo, apesar das suas propriedades importantes para a saúde.
A pandemia e o ‘fechamento’ da Europa, e os Estados Unidos no compasso de espera, deixaram as grandes torrefadoras desses países – as maiores compradoras do café arábica brasileiro – com folga nos estoques que vinham justos. Vão carregar isso para a frente e, sem amenização da situação, alguma coisa do café velho vai se juntar ao novo.
“Mas, pelo menos se espera uma mudança no escalonamento dos embarques”, diz Jânio Zeferino, da AgroEasy, lembrando ainda que está tudo parado nos portos (inclusive sem contêineres) e ainda não se sabe quando e como voltará.
Vale, contudo, a nova perspectiva do balanço de oferta global, que dificilmente será mudada. “Certamente o déficit de cerca de 3 milhões de sacas, visto pela OIC (Organização Internacional do Café), não deverá ocorrer mais”, acredita Zeferino.
Estoques atuais não sendo consumidos, consumo também menor nos próximos meses e incapacidade de retomada do fluxo normal de comércio anularam o desbalanço previsto antes.