Money Times Entrevista

Fomc: ‘Não há urgência para o Fed cortar juros dos EUA’, diz economista do Inter

28 jan 2025, 16:57 - atualizado em 28 jan 2025, 16:57
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(Imagem: Divulgação/Inter)

“Não há urgência para o Federal Reserve (Fed) cortar a taxa de juros”. É o que diz o economista sênior do Inter, André Valério, ao analisar a condução da política monetária norte-americana em 2025. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve pausar o ciclo de queda dos juros, mantendo-os na faixa atual entre 4,25% e 4,50% ao ano.

O banco central dos Estados Unidos enfrenta um cenário de economia ainda robusta e inflação que dá sinais de moderação, mas permanece em monitoramento constante. Para Valério, o momento pede cautela, com decisões mais equilibradas diante de um contexto global de incertezas e de expectativas sobre o governo de Donald Trump.

Em relação às medidas de Trump, o economista diz que a postura do presidente quanto às tarifas e possíveis cortes de impostos gera volatilidade e incertezas no mercado, mas ainda não aponta para mudanças drásticas na condução da política monetária. Valério acredita que as ações devem seguir como instrumentos de negociação, com impacto limitado na inflação.

No Brasil, a política monetária do Fed também serve como referência, mas o Banco Central brasileiro enfrenta desafios próprios. O economista destaca que o Comitê de Política Monetária (Copom) precisa focar na ancoragem das expectativas inflacionárias em meio a um cenário de incertezas locais e pressões políticas.

Veja os destaques da entrevista com André Valério sobre o Fomc

Money Times: Qual a expectativa do Inter para a decisão do Fomc de janeiro?

André Valério: Nós acreditamos que o Fomc irá manter os juros estáveis nessa reunião. Já tínhamos uma visão um pouco menos otimista com o Fomc desde o início do ciclo de cortes. A nossa opinião era de que o corte inicial deveria ter sido de 25 pontos-base ao invés de 50 pontos-base. Com o passar do tempo e com os novos dados macroeconômicos que surgiram desde o início do ciclo, ficou claro que o espaço para cortes não é tão grande quanto o mercado estava imaginando.

Na última decisão, em dezembro, eles já haviam prometido cortes de 100 pontos-base ao longo de 2025 — 50 pontos iniciais e dois cortes de 25. A coletiva e as projeções dos próprios membros do Fomc deixaram claro que a decisão para esta reunião de janeiro seria manter a taxa de juros no patamar de dezembro, com possibilidade de retomar os cortes na próxima reunião em março.

Essa é também a nossa visão. O cenário não mudou significativamente. Apesar de um pequeno alívio no dado de inflação de dezembro, o mercado reagiu com mais otimismo do que o dado permitia. O núcleo da inflação veio levemente abaixo do esperado, mas foi algo marginal.

O cenário base ainda é de uma economia robusta, com atividade em ritmo forte. Esperamos que o PIB americano cresça cerca de 3,2% no quarto trimestre, o que é um ritmo muito sólido. O payroll de dezembro também foi bastante forte, acima das expectativas.

No final das contas, não há tanta urgência para o Fed cortar juros de maneira agressiva. Agora é o momento de seguirmos com cautela e avaliar o cenário, especialmente considerando as incertezas do novo governo Trump.

Money Times: Como deve ser o tom do comunicado do Fomc?

Valério: Acreditamos que o tom será de incerteza, especialmente porque Trump ainda não decidiu se vai implementar tarifas ou não. Mas o Fed deve seguir a visão de que as tarifas não demandam uma atuação proativa da política monetária. Um estudo de 2018 da autarquia mostrou que as tarifas não têm um efeito inflacionário direto — elas impactam apenas o nível de preços, e não a inflação em si.

Em relação aos próximos passos, eles não vão querer se comprometer a indicar a retomada dos cortes em março, mas também devem deixar um espaço para isso.

O que temos visto é uma economia que parece estar caminhando para o equilíbrio. Não há sinais de reaquecimento muito intenso, mas também não parece estar desacelerando de forma significativa — algo bem próximo do que o Fed gostaria, o pouso suave.

Se o dado de inflação de dezembro tivesse vindo mais forte, o Fed talvez precisasse adotar um tom mais rígido, mas o CPI deu algum alívio. Tudo indica que o cenário está dentro do esperado, sem grandes surpresas.

Money Times: Qual deve ser o efeito Trump na política monetária?

Valério: A postura de Trump tende a ser mais voltada para barganha do que para execução de medidas drásticas, como tarifas ou políticas migratórias rígidas. O impacto inflacionário dessas ações, se acontecerem, seria limitado.

Na questão das tarifas, por exemplo, Trump ameaça frequentemente, mas sem implementar. Isso foi observado no governo anterior e parece seguir na mesma linha. As tarifas têm mais efeito como ferramenta de negociação do que como medida efetiva.

No entanto, se o governo insistir em cortes de impostos, como prometido, isso pode ter algum impacto na inflação e na atividade econômica.

Money Times: O que esperar da trajetória da taxa de juros dos EUA este ano?

Valério: O Fed deve manter as portas abertas, com projeções de dois cortes neste ano — um em março e outro em junho. Depois disso, o mais provável é que eles parem e esperem.

A nossa visão é que a taxa de juros ficará próxima de 3,75% no limite superior, bem próximo de 4%, que seria o patamar de juros neutros.

Money Times: O que levaria o Fed a realizar mais cortes nos juros?

Valério: Para cortes adicionais, seria necessário um cenário de recessão, mas isso parece fora do radar no momento.

Por outro lado, uma eventual retomada de alta nos juros só aconteceria se houvesse uma piora considerável no cenário inflacionário. Ainda assim, o Fed parece confortável com uma inflação levemente acima da meta, o que é coerente com a política adotada durante a pandemia, quando buscamos um equilíbrio ao longo do tempo.

Money Times: A eventual decisão do Fed de manter os juros estáveis pressiona o Copom no Brasil?

Valério: O Brasil já está bastante descolado do ciclo internacional. O diferencial de juros entre os dois países é alto e deve aumentar ainda mais, mas não está gerando impactos significativos.

O Copom está preso a uma trajetória local, com inflação ainda aquecida, expectativas desancoradas e incertezas políticas. A política monetária americana só influenciaria significativamente se houvesse um choque externo muito forte, como uma recessão global ou alta inesperada nos juros do Fed.

O cenário base, no entanto, é o Copom seguir sua trajetória para garantir a reancoragem das expectativas.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
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