Internacional

FMI, Argentina e Papa Francisco discutem crise de dívida em conferência no Vaticano

05 fev 2020, 17:12 - atualizado em 05 fev 2020, 17:12
Kristalina Georgieva, e Martin Guzmán Papa Francisco
Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, e ministro da Economia argentino, Martin Guzmán, cumprimentam o Papa Francisco em audiência no Vaticano (Imagem: REUTERS/Remo Casilli)

O Fundo Monetário Internacional disse nesta quarta-feira que agora é um “momento muito importante” para a Argentina aprovar políticas de reestruturação da dívida, enquanto o Papa Francisco alertou que soluções indiferentes podem prejudicar a sociedade.

Francisco, que é argentino, fez uma aparição não programada em uma conferência na Cidade do Vaticano em que os dois principais participantes eram a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, e o ministro da Economia da Argentina, Martin Guzmán.

“É um momento muito importante para a Argentina implementar políticas que vão estabilizar a economia, levar a uma reestruturação bem-sucedida da dívida e responder às expectativas das pessoas de que os mais vulneráveis ​​não sejam deixados de fora”, disse Georgieva à Reuters na conferência sobre solidariedade econômica.

Georgieva e Guzmán mantiveram o que ambos disseram ter sido duas horas e meia de conversas construtivas sobre a crise da dívida argentina na noite de terça-feira, véspera da conferência.

A Argentina precisa reestruturar 100 bilhões de dólares em dívida soberana com credores, incluindo o FMI, em meio a uma recessão acentuada com inflação acima de 50%.

O Papa, que não mencionou especificamente a atual crise argentina, pediu “novas formas de solidariedade” para ajudar os países endividados, dizendo que “não estamos condenados à desigualdade universal”.

“As pessoas pobres em países altamente endividados suportam encargos tributários enormes e cortes nos serviços sociais conforme seus governos pagam dívidas contraídas de forma insensível e insustentável”, disse Francisco, acrescentando que a política de dívida de um país “pode ​​se tornar um fator que prejudica o tecido social”.

Na sexta-feira passada, o presidente argentino, Alberto Fernández, encontrou-se com o Papa, e o pontífice, que passou por uma crise de dívida anterior quando era arcebispo de Buenos Aires, prometeu que faria tudo o que pudesse para ajudar com o problema atual.

Alberto Fernández encontrou-se com o Papa na sexta-feira passada (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

Fernández já prometeu reduzir as divisões sociais e implantar um sistema de crédito massivo com taxas baixas para fortalecer a demanda doméstica e aumentar os gastos para combater a fome e a pobreza.

Guzmán disse na conferência que viu uma abordagem “muito construtiva” do FMI e que precisará de cooperação dos credores para reestruturar sua dívida soberana.

O ministro reafirmou o prazo de fim de março para a conclusão da reestruturação dos bônus.

Uma missão técnica do FMI é aguardada em Buenos Aires na próxima semana para discutir obrigações de dívida do país com o Fundo.

A conferência do Vaticano na Pontifícia Academia de Ciências Sociais reuniu mais de 25 autoridades governamentais, religiosas e economistas, incluindo Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001.

Stiglitz disse na conferência que a atual crise da dívida argentina deu ao mundo a oportunidade “de mostrar que existe uma abordagem alternativa em relação àquela que falhou persistentemente no passado”.

O economista defendeu “uma estrutura que simultaneamente deveria apelar às noções de racionalidade econômica e ao nosso senso de solidariedade social, uma humanidade comum, que neste momento da história parece tão sob ataque”.