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Fluxo do pré-sal afunda o dólar e traz debate sobre Banco Central

28 out 2019, 14:29 - atualizado em 28 out 2019, 14:29
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O real teve o maior ganho entre as moedas emergentes na semana passada com a conclusão da reforma da Previdência e a expectativa para o leilão do pré-sal (Imagem: Reuters/Nick Oxford)

O mercado debate qual o potencial efeito sobre o câmbio do megaleilão da cessão onerosa, em 6 de novembro, que pode arrecadar R$ 106 bilhões em licenças de exploração entre este e o próximo ano. Grande parte deste valor virá do exterior e o fluxo esperado tem potencial de ampliar a queda do dólar. Após cair abaixo de R$ 4,00, o próximo suporte técnico do dólar é R$ 3,94.

O real teve o maior ganho entre as moedas emergentes na semana passada com a conclusão da reforma da Previdência e a expectativa para o leilão do pré-sal. A grande dúvida é sobre qual será o papel do Banco Central diante das entradas de recursos: se fará uma compra maciça, ancorando o dólar, ou se permitirá uma baixa maior da moeda. Atualmente, o BC está vendendo dólares das reservas.

Luiz Eduardo Portella, sócio e fundador da Novus Capital, diz que o BC deve ficar de fora, em linha com o discurso da autoridade monetária de que só atua para fornecer liquidez, e não para defender um nível.

Diante do movimento de pré-pagamento da dívida corporativa externa, embalado pelos juros baixos no Brasil, Portella acredita que haverá compra no mercado para os dólares que entrarem, mas ainda assim a divisa cairia para entre R$ 3,80 e R$ 3,90. “Acho que esse fluxo vai trazer o dólar para um patamar mais condizente com os fundamentos.”

Se depender da maior empresa brasileira por valor de mercado, a pressão originada destes pagamentos de dívida pode ter um alívio. A Petrobras disse semana passada, em conferência com analistas, que vai tentar mitigar o impacto no câmbio por conta da rolagem de sua dívida. “Esse impacto pode ser inclusive negativo”, disse a diretora financeira da estatal, Andrea Almeida.

Banco Central
Mesmo com o discurso de Campos Neto, a possibilidade de intervenção leva parte do mercado a não esperar uma queda muito aguda do dólar mesmo com o fluxo relacionado ao pré-sal (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Discurso do BC

“Nós temos uma perspectiva de ingresso de investimentos estrangeiros significativa”, disse Fernando Rocha, chefe do departamento estatística do Banco Central na semana passada, ao comentar a cessão onerosa. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse durante encontro do FMI em Washington, que a instituição sempre atua no mercado de câmbio se há desfuncionalidade ou uma volatilidade excessiva. Ao mesmo tempo, ele ressaltou que o câmbio é flutuante.

Mesmo com o discurso de Campos Neto, a possibilidade de intervenção leva parte do mercado a não esperar uma queda muito aguda do dólar mesmo com o fluxo relacionado ao pré-sal.

O BC não deve ter “o menor interesse” em deixar o dólar derreter, diz Luis Eduardo Assis, ex-diretor de política monetária do Banco Central. “O BC tem total condição de controlar a oscilação de câmbio, ainda que neste caso isto signifique um aumento, que pode ser temporário, das reservas.”

Para Mariana Guarino, gestora de portfólio da Truxt Investimentos, é possível que os juros baixos também ajudem a reduzir o efeito do fluxo do pré-sal sobre o dólar. “Se de fato estamos caminhando para juro real próximo a zero ou negativo, como acredito, acho difícil vermos apreciação relevante do real no curto prazo.”

Dólar
Mesmo com dúvidas sobre a magnitude do fluxo, o papel do BC e o efeito dos juros baixos, prevalece a ideia de que, ao menos no curto prazo, o megaleilão da cessão onerosa terá um impacto positivo no câmbio (Imagem: Pixabay)

Entradas

O timing da entrada de recursos também pesa na análise do câmbio. O governo arrecadará o equivalente a US$ 27 bilhões caso todos os quatro blocos ofertados sejam arrematados. Nem todos os recursos virão do exterior, mesmo que todos os blocos sejam vendidos. A Petrobras tem direito de preferência em dois blocos e pretende usar um crédito com o governo de R$ 34 bilhões para fazer seus lances.

Apenas em 27 de dezembro, mais de um mês após o leilão, vencerá o prazo para as empresas pagarem a primeira das duas parcelas da compra – a outra será em 26 de junho de 2020.

Além do valor da outorga, grandes petroleiras precisarão negociar uma compensação à Petrobras pelos investimentos já realizados na área e por parte de sua produção corrente. Esses pagamentos podem adicionar o equivalente a outros US$ 25 bilhões a US$ 45 bilhões ao preço, segundo autoridades familiarizadas com planos do governo que pediram para não serem identificadas porque as informações são privadas.

Este valor não necessariamente precisa ser pago em dinheiro. A Petrobras não informa quanto espera receber, mas descartou a possibilidade de ingresso destes recursos neste ano em coletiva na sexta-feira. As regras não estabelecem como o pagamento deve ser feito. Uma possibilidade é a combinação de dinheiro, petróleo e carrego de investimentos, ao longo de muitos anos. Os contratos têm cerca de 30 anos de duração.

Mesmo com dúvidas sobre a magnitude do fluxo, o papel do BC e o efeito dos juros baixos, prevalece a ideia de que, ao menos no curto prazo, o megaleilão da cessão onerosa terá um impacto positivo no câmbio.

“Espera-se fluxo muito forte de dinheiro”, diz Solange Srour, economista da ARX Investimentos. Para ela, o BC só vai atuar se houver “sinal de anomalia” no mercado e não deverá intervir de uma forma a neutralizar todo o eventual fluxo de dólares.

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