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Flávio Augusto: ‘Mundo acadêmico deixa muito a desejar na área de tecnologia’

29 ago 2022, 14:40 - atualizado em 29 ago 2022, 15:08
Flavio Augusto
Uma certificação do Google, na minha visão, tem mais importância hoje do que um diploma no mercado (Imagem: Flavio Augusto/Geração de Valor)

O CEO da Wiser Educação, Flávio Augusto, se coloca atualmente como empresário de dois ramos: educação e tecnologia.

Com a digitalização, o grupo decidiu investir fortemente no desenvolvimento de tecnologia. Antes, a empresa estava presente em pontos físicos, com a Wise Up.

Agora o foco está na educação a distância, com a Wise Up Online, lançada em 2019.

Com o isolamento social e os lockdowns, houve uma aceleração da digitalização que demandou tanto estrutura como profissionais de tecnologia. “A partir da covid-19, a necessidade por esses especialistas cresceu em uma velocidade muito maior do que o mercado poderia produzir”, destaca ele.

Mas existe fator importante a ser considerado nessa equação. As demandas surgem e mudam em velocidades muito rápidas. Augusto ressalta que houve um boom na demanda em 2020, em meio à pandemia, por causa da digitalização de muitas empresas, que se estendeu para 2021.

Mas, neste ano, já não está na mesma velocidade. “Muitas startups estão demitindo, por exemplo. O movimento não é exatamente o mesmo. E isso também significa mais gente disponível no mercado do que havia nos últimos dois anos.”

Outro ponto avaliado pelo executivo é que as graduações tradicionais não têm sido o melhor caminho para quem quer entrar neste ramo. “Certificações valem mais.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como a pandemia afetou os negócios da Wiser Educação?

Já vínhamos investindo em tecnologia, tanto que lançamos a Wise Up online antes da pandemia. O que foi muito bom, porque, quando a covid-19 chegou, tivemos como nos defender.

Mas aceleramos a digitalização na crise. E, com essa aceleração, a demanda por profissionais de tecnologia cresceu muito, em uma velocidade maior que o mercado poderia suprir.

Vagas home office
Pode ser um pouco cruel, mas, na minha opinião, infelizmente, a área de Tecnologia é uma das áreas em que a academia deixa muito a desejar (Imagem: Tyler Franta/Unsplash)

O que acabou sendo um momento muito positivo para quem atua nessa área. Salários dispararam e, com o home office, as empresas brasileiras passaram a competir com companhias de Londres, Austrália e África do Sul, por exemplo.

Esse choque de demanda ainda existe em 2022?

Essa foi uma realidade de 2020. Que se estendeu para 2021. Eu não diria que, em 2022, nós estejamos vivendo o mesmo boom. Tanto que estamos vendo muitas startups demitindo.

Ou seja, você tem mais gente disponível hoje no mercado do que você vinha tendo nos últimos dois anos. Ainda existe o choque de demanda. A necessidade por digitalização ainda existe, mas deu uma reduzida.

Mesmo assim, ainda está bem maior do que era em 2019.

Dentro desse cenário, a demanda sofreu alterações significativas em cerca de dois anos. Para pessoas que queiram entrar nesse mercado, ingressando em uma universidade, por exemplo, com quatro ou cinco anos de duração, o momento a ser encontrado pode ser bem diferente quando se formar. Como isso pode afetar o desenvolvimento dos novos entrantes?

Pode ser um pouco cruel, mas, na minha opinião, infelizmente, a área de Tecnologia é uma das áreas em que a academia deixa muito a desejar.

Porque o mundo acadêmico tem uma velocidade diferente do mercado. Linguagens de programação e soluções do mercado de tecnologia são tão velozes que um curso de bacharel não consegue alcançar.

Eu acho que a pessoa que quer entrar na área de tecnologia deveria seguir um caminho diferente do acadêmico, algo como certificações, por exemplo. Uma certificação do Google, na minha visão, tem mais importância hoje do que um diploma no mercado.

Porque tem de saber fazer as coisas. Eu não sou um grande especialista nisso, mas, se eu fosse um jovem de 18 anos, se quisesse começar na área de tecnologia, eu iria buscar uma certificação, com alguma experiência prática.

Esse choque de demanda deve demorar ainda para se equilibrar?

Eu acho que vai levar uns dois anos ainda para poder atingir esse equilíbrio entre oferta e demanda. Claro, se não tivermos mais nenhum evento fora da curva, como foi a pandemia.

E isso deve acontecer naturalmente, com ações que o próprio mercado vem tomando, como projetos de retenção de talentos, adaptação de plataformas e “categorias de base”, por exemplo.

Na Wiser, quais são as alternativas em relação à falta de profissionais qualificados?

Nós desenvolvemos uma plataforma dentro da nossa metodologia. E, atualmente, eu busco adaptar qualquer desenvolvimento de novo produto a essa plataforma já existente.

Justamente para não demandar tecnologia, desenvolvimento, já que é sempre ou mais difícil ou mais caro. E uma outra alternativa é a gente ter uma linha de produção de profissionais juniores.

Como se fosse uma categoria de base. Começa a formar novos profissionais, mesmo sabendo que essa pessoa vai crescer e entrar no radar do mundo inteiro – que faz parte do jogo.

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