Fitch: plano de desmatamento eleva custo, mas é neutro para rating de frigoríficos
O plano de desmatamento da COP-26 é neutro para as classificações dos frigoríficos brasileiros, mas tende a encarecer a produção por um período determinado, de acordo com a agência de classificação Fitch.
A empresa também cita o risco de diminuição das exportações agropecuárias por causa do fim do uso de terras com vegetação natural para a produção de alimentos.
“O acordo de mais de 100 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, para acabar com o desmatamento até 2030 na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26) em Glasgow, Escócia poderia elevar temporariamente os custos das matérias-primas e levar a investimentos na cadeia de suprimentos dos frigoríficos brasileiros”.
Segundo a agência, quantificar os efeitos do fim do desmatamento sobre a oferta, preços e margens de gado é difícil, mas os efeitos do crédito de curto prazo são provavelmente neutros devido ao longo tempo antes da implementação.
A menor alavancagem e a maior flexibilidade financeira também mitigarão os efeitos do crédito, conforme a Fitch.
A agência lembra que os preços do gado no Brasil já estão altos e podem aumentar ainda mais se a oferta diminuir devido ao fim do desmatamento. A maioria das empresas de carnes brasileiras, incluindo JBS (JBSS3)(BBB-/Estável), Marfrig Global Foods (BB/positivo) (MRFG3) e Minerva (BEEF3)(BB /estável), tem alguma proteção contra a difícil obtenção de gado no Brasil, devido à diversificação fornecida por operações estrangeiras. A inovação em carne vegetal também reduz a exposição ao risco de abastecimento de gado, segundo a agência.
A Fitch lembrou que cerca de 85% das florestas do mundo estão localizadas nos países que participam do acordo para acabar com o desmatamento, pois ter menos árvores para absorver CO2 contribui para as mudanças climáticas.
Além disso, a empresa citou o comprometimento de US$ 19,2 bilhões de fundos públicos e privados que deverão ajudar os países em desenvolvimento a restaurar terras danificadas e prevenir incêndios florestais.
Risco de diminuir exportação – O desmatamento entre os países não será mais usado para dar espaço para que animais e plantações envolvidos no comércio global pastem ou cresçam, o que poderia reduzir o fornecimento desses itens e levar ao risco de exportação, conforme a agência. “As exportações agrícolas podem diminuir devido à oferta reduzida”, alertou.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos, exportando cerca de 25% da produção em 2020, de acordo com o Serviço de Agricultura Estrangeira do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. “A pecuária é um vetor de desmatamento na Amazônia, com cerca de um terço das pastagens de gado na floresta tropical. Frigoríficos brasileiros enfrentam risco de reputação climático devido a esse desmatamento, que pode fazer com que os países anunciem restrições às importações de carne bovina do Brasil”, comentou a Fitch, salientando que já existem exemplos sobre esse tipo de restrição.
A agência ressaltou que o Brasil suspendeu recentemente as exportações de carne bovina para a China devido à confirmação de dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina Atípica.
A Fitch diz esperar que o episódio seja temporário, já que o Brasil é um grande fornecedor de carne bovina para a China e os frigoríficos estão usando fábricas fora do País para abastecer o mercado chinês. “Além disso, alguns países europeus classificaram os incêndios na Amazônia como uma crise internacional e propuseram banir as importações de carne bovina brasileira”, recordou.
As exportações de carne bovina para a Europa representaram cerca de 10% da divisão brasileira do Minerva e 8% da receita de exportação da Athena Foods, 6% da receita de exportação da JBS e 1% da receita da Marfrig em 2020.
A Ásia é o principal destino da carne brasileira com quase 65% de volume de exportação indo para a China e Hong Kong no ano passado.
“Acreditamos que altos padrões ambientais melhoram o perfil de crédito dessas empresas. O desmatamento está ganhando maior atenção devido às mudanças climáticas, devido à liberação de dióxido de carbono quando as árvores queimam. A maioria das empresas de proteína tem metas públicas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE)”, pontuou a empresa.
Frigoríficos brasileiros – A Fitch lembrou ainda que a JBS se comprometeu a atingir a emissão líquida zero de GEE até 2040, para eliminar a aquisição de gado de fornecedores indiretos envolvidos no desmatamento ilegal nos biomas amazônicos até 2025, e assinou uma parceria com a holandesa Royal DSM para trazer um suplemento alimentar que reduza o metano emitido pelo gado à sua cadeia de abastecimento.
Já a Marfrig, citou a agência, se comprometeu a reduzir as emissões de GEE até 2035 e garantir que 100% de sua cadeia de suprimentos seja sustentável e livre de desmatamento até 2030, eliminando o desmatamento do bioma Amazônia até 2025.
O frigorífico Minerva, por sua vez, visa a reduzir a intensidade das emissões de GEE de escopo 1 e 2 em 30% em 2030, e ter desmatamento ilegal zero em toda a cadeia de abastecimento para todas as suas operações na América do Sul até 2030.