Fitch corta nota dos EUA: Veja as 7 razões para rating baixar de AAA para AA+(e um alento)
A Fitch rebaixou a nota dos EUA nesta terça-feira (1) de AAA para AA+. Já a perspectiva do rating foi elevada de negativa para estável, sinalizando que a agência de classificação de risco, uma das três maiores do mundo, não pretende revisar a situação tão rápido.
No comunicado da decisão, a Fitch afirmou que o rebaixamento da nota americana “reflete a esperada deterioração fiscal nos próximos três anos, um elevado e crescente endividamento geral do governo, e a erosão da governança em comparação a pares com notas AA e AAA, nas últimas duas décadas, que se manifesta em repetidos impasses sobre o limite da dívida e decisões em cima da hora.”
A agência prossegue, listando sete argumentos para sustentar sua decisão de puxar a orelha da maior economia do mundo. Veja quais são:
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1. Erosão da governança dos EUA
Segundo a Fitch, a capacidade dos EUA de administrarem suas contas públicas está se deteriorando nos últimos 20 anos. Para a agência, as evidências dessa corrosão da governança são os constantes embates políticos sobre temas fiscais e as decisões tomadas de última hora.
A Fitch acrescenta que essa situação “erodiu a confiança na gestão fiscal”. Pesam contra os americanos, também, a falta de uma estrutura fiscal de médio prazo, e a complexidade do processo de elaboração do orçamento.
2. Déficits públicos crescentes
A Fitch estima que o déficit público do governo central seja de 6,3% do PIB neste ano, ante os 3,7% do ano passado. O aumento do rombo será impulsionado por fatores cíclicos de redução das receitas, bem como ao aumento das despesas e ao impacto dos juros mais altos sobre as dívidas. Em 2024, o buraco deve ser de 6,6% do PIB, chegando a 6,9% em 2025.
Para a agência, a lei de responsabilidade fiscal dos EUA terá apenas um impacto “modesto” sobre a evolução do déficit fiscal. Em 2024, por exemplo, a agência calcula que a lei gere uma economia de US$ 70 bilhões, subindo para US$ 112 bilhões em 2025. “Não esperamos novas medidas substanciais de consolidação fiscal antes das eleições de novembro de 2024”, adverte.
3. Aumento da dívida pública
Os pequenos déficits e o elevado crescimento nominal do PIB reduziram a relação Dívida/PIB dos EUA para 112,9% neste ano, ante o pico de 122,3% em 2020. Embora positiva, a queda está longe dos níveis pré-pandemia, de acordo com a Fitch. Em 2019, por exemplo, a relação era de 100,1%.
Para piorar, a perspectiva é de alta nos próximos anos, alcançando 118,4% do PIB em 2025. A Fitch lembra que a relação Dívida/PIB americana é mais que 2,5 vez maior que a de outros países com nota AAA (39,3% do PIB) e AA (44,7%). Além disso, à medida que essa relação sobe, os EUA se tornam cada vez mais vulneráveis a eventuais choques econômicos.
4. Falta de política fiscal de médio prazo
Para a Fitch, os EUA não estão atacando problemas estruturais que comprometem sua saúde fiscal. Na próxima década, os cofres americanos serão pressionados, de um lado, por juros maiores e pelo aumento da dívida pública que elevarão os custos do serviço da dívida, e, de outro, pelo envelhecimento da população, que pressionará os gastos com saúde e seguro social. O Congresso projeta que os custos com juros da dívida dobrarão até 2033 para 3,6% do PIB, bem como um aumento com gastos de saúde e seguro social que chegará a 1,5% do PIB no mesmo período.
5. Recessão no horizonte, alerta Fitch
O aperto dos juros, a queda dos investimentos privados e a desaceleração do consumo arrastarão os americanos para uma “leve recessão” entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro trimestre de 2024, projeta a Fitch. O crescimento do PIB deve recuar para 1,2% em 2023, ante os 2,1% do ano passado. No ano que vem, os EUA devem crescer apenas 0,5%.
6. Alta dos juros
A Fitch lembra que o Federal Reserve aumentou a taxa básica de juros dos EUA em 0,25 ponto percentual nas reuniões de março, maio e julho. A agência espera uma nova alta em setembro, que levaria a taxa dos atuais 5,5% ao ano para 5,75%.
O problema, de acordo com a agência, é que a resiliência da economia e o mercado de trabalho ainda aquecido complicam a tarefa do Fed de trazer a inflação para a meta de 2%. A Fitch destaca que, apesar da queda da inflação em junho para uma taxa acumulada de 3%, seu núcleo permanece “teimosamente” alto de 4,1% nos últimos 12 meses. “Isso provavelmente impedirá cortes na taxa de juros até março de 2024”, avalia.
7. O alento da Fitch
Nem tudo é um desastre no cenário desenhado pela Fitch, que destaca “diversas forças estruturais que sustentam os ratings dos EUA”. Entre elas, está a “grande, avançada, bem diversificada economia de alta renda, apoiada por um dinâmico ambiente de negócios”. Além disso, o fato de o dólar ser a principal moeda que compõem as reservas do mundo ao governo americano “uma extraordinária flexibilidade de financiamento”.