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Fintechs se tornam mais rígidas para liberar crédito nos EUA

16 dez 2019, 14:12 - atualizado em 16 dez 2019, 14:12
No último ano, instituições como a LendingClub começaram a fechar a torneira, após a revolta de investidores diante de anos de perdas inesperadas (Imagem: Unsplash/@jonasleupe)

Lara Briehl tinha um cliente desesperado e prestes a aceitar uma oferta.

O homem estava com dificuldades para pagar as contas e uma instituição financeira online ofereceu a ele um empréstimo pessoal para quitar dívidas contraídas em 10 cartões de créditos. Ele pensou que aceitar a proposta o ajudaria a se livrar de dívidas esmagadoras. No entanto, a taxa de juros oferecida era cerca de 10 pontos percentuais acima da praticada por seus cartões de crédito.

“Eu o orientei a não topar de jeito nenhum”, disse Briehl, conselheira de crédito em Bremerton, no Estado de Washington, que trabalha com a American Financial Solutions, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas endividadas a sanar suas finanças.

Por anos, empréstimos pessoais online foram fáceis de encontrar nos EUA, permitindo que milhões de pessoas contraíssem crédito barato para quitar dívidas onerosas no cartão de crédito. No último ano, instituições como a LendingClub começaram a fechar a torneira, após a revolta de investidores diante de anos de perdas inesperadas. O crédito fácil deu lugar à cautela e startups de tecnologia financeira agora miram em famílias de maior renda, notas de crédito acima da média e uma proporção menor entre dívida e salário.

“Nós, juntamente com outros, estamos cada vez mais exigentes em relação aos empréstimos que registramos”, disse Scott Sanborn, presidente da LendingClub, durante a teleconferência com investidores para discutir os resultados da firma sediada em São Francisco. “Em toda parte se vê agentes, a LendingClub incluída, prudentemente recuando e apertando o crédito oferecido.”

No último trimestre, o empréstimo pessoal médio nos EUA foi para um tomador com pontuação de crédito de 717, o nível mais alto em registro, de acordo com dados preliminares da provedora de dados de crédito PeerIQ. O tomador típico tem renda relatada superior a US$ 100.000, o que é outro recorde. As fintechs agora estão tão focadas em tomadores com crédito intocado que apenas cerca de um quarto dos empréstimos não garantidos este ano foi para famílias com nota de crédito não excelente. Com isso, as fintechs ficaram mais conservadoras que as uniões de crédito, segundo a TransUnion.

As primeiras instituições financeiras online, que surgiram após a crise de crédito da década passada, prometeram revolucionar o segmento ao liberar empréstimos para quem os bancos evitavam. Em vez disso, as firmas online estão cada vez mais parecidas com a concorrência tradicional. Os analistas que estudam o segmento não decidiram ainda se essa prudência recém-adotada reflete preocupações com os rumos da economia ou uma evolução desses modelos de negócio.

Ninguém exemplifica melhor essa tendência do que a LendingClub, a líder em empréstimos pela internet.

Fundada em 2006, a empresa começou como uma plataforma que juntava gente em busca de crédito com pessoas físicas dispostas a fornecer empréstimo. Sem custos com filiais ou agentes, as plataformas ofereciam a promessa de empréstimos mais baratos enquanto os maiores bancos dos EUA se recuperavam da crise financeira. O crescimento dos empréstimos disparou após a Grande Recessão, quando os juros pairavam perto dos menores níveis históricos e os bancos escolhiam seus devedores a dedo.

Território livre

“Os bancos deixaram o território livre”, disse Nat Hoopes, diretor executivo da Associação de Mercados de Empréstimos.

Instituições como a LendingClub se promoviam argumentando que julgavam melhor os riscos, usando dados de todo tipo para oferecer aos clientes as menores taxas possíveis.

Uma empresa que investe nessas plataformas, a Theorem Partners, calcula que motoristas de ônibus têm probabilidade 25% menor de inadimplência que assistentes administrativos (porque têm maior estabilidade no emprego) e que empréstimos para realização de casamentos têm 10% mais chance de pagamento que os empréstimos comerciais (porque casamento significa estabilidade financeira).

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