Economia

Financiar dívida no curto prazo alimenta risco, diz Brasilprev

22 set 2020, 14:59 - atualizado em 22 set 2020, 14:59
Real
Em janeiro, quando a Selic estava em 4,25%, a curva longa apontava juros de cerca de 6,5% (Imagem: Marcello Casal JrAgência Brasil)

A estratégia de refinanciar a dívida pública com títulos de vencimento mais curto não pode se tornar recorrente, já que realimenta o prêmio da curva de juros, diz a nova economista-chefe da Brasilprev, Laiz Carvalho, primeira mulher negra a assumir o cargo.

“Em janeiro, quando a Selic estava em 4,25%, a curva longa apontava juros de cerca de 6,5%. Hoje, com Selic a 2%, essa taxa está em 7,5%, 8%. Isso se dá pelo risco fiscal”, afirma Laiz.

O aumento dos gastos públicos para combater a pandemia do coronavírus levou o Tesouro a ampliar a emissão de títulos para rolagem da dívida, o que reforçou o receio dos investidores sobre o déficit do governo central — estimado pelo governo em R$ 866,4 bilhões neste ano, segundo dados divulgados em 4 de setembro.

Esse temor se reflete na curva futura, que precifica alta da Selic apesar de o Banco Central já ter sinalizado que não irá elevar os juros.

A cautela prevalece mesmo depois de o BC ter transferido R$ 325 bilhões de lucros para reforçar o colchão de liquidez do Tesouro.

Para Laiz, o encurtamento da dívida deve funcionar neste momento de vencimentos elevados. Depois dos R$ 362,5 bilhões vencidos no terceiro trimestre, o Tesouro tem obrigações de R$ 152,7 bilhões no quarto trimestre e de R$ 437,2 bilhões nos três primeiros meses de 2021.

Entretanto, a economista-chefe diz que a volta da agenda de reformas é crucial para domar a incerteza e fazer com que o Tesouro possa se refinanciar novamente com dívida longa.

A cautela prevalece mesmo depois de o BC ter transferido R$ 325 bilhões de lucros para reforçar o colchão de liquidez do Tesouro (Imagem: Agência Brasil)

“O risco maior para a Selic subir antes do esperado é a de não manutenção do teto de gastos, o que pode gerar mudança na trajetória da economia, fazendo com que a atividade demore mais para se recuperar, além de poder impulsionar o nível do câmbio e desencadear repasses de preços”, afirma.

Por ora, ela considera que a inflação está bastante comportada e, apesar da pressão de alta dos alimentos, os núcleos seguem controlados.

A dúvida é se os reajustes postergados e os descontos dados durante a pandemia, como em mensalidades escolares, serão revertidos no próximo ano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Carreira

Após passagens pelo BTG Pactual e Santander Brasil, Laiz assumiu em julho o cargo na Brasilprev, empresa de previdência privada que tem mais de R$ 300 bilhões de ativos sob gestão.

Ela faz parte de um quadro onde 43% dos 600 colaboradores são mulheres. Como mulher negra, Laiz ultrapassou duas barreiras ao alcançar o cargo de economista-chefe da instituição.

“Pela cor da minha pele, nunca presenciei nenhum tipo de dificuldade. Mas por ser mulher, sim”, diz, citando que ao longo da carreira foi bombardeada por perguntas quando se manifestava em reuniões diferentemente de colegas do sexo masculino.