Fim dos leilões de biodiesel. Se prepare, porque a concentração pode encarecer tudo
E menos de dois meses começará uma nova confusão no mercado de biodiesel. Como se já fosse pouca a que sempre vivenciou esse segmento em 15 anos de existência do programa de mistura ao diesel de origem do petróleo.
E o consumidor vai acabar pagando mais essa conta, diretamente ao encher o tanque, e, indiretamente, comprando coisas que circulam nos caminhões, segundo o setor.
Deixará de existir a regulação da oferta por meio dos leilões, a partir de 1º de janeiro, e passará a viger a negociação direta entre produtores e distribuidoras.
O que já era difícil de haver previsibilidade sobre o montante a cada leilão pelas interferências do governo sobre a proporção da mistura ao diesel, em relação a oferta válida para os dois meses seguintes, agora ficará condicionado também ao poder dos agentes.
Na União Brasileira do Biodiesel e Bioqueresone (Ubrabio) não há dúvidas quanto ao risco da grande capacidade de compra por parte das grandes distribuidoras de enxugar boa parte do disponível e usar isso como fator de pressão sobre os preços ofertados.
“A concentração será grande e o poder de imposição de preços será muito maior que hoje, além do que vai ser quebrado o equilíbrio do mercado que hoje as pequenas empresas conseguem”, diz Donizete Tokarski, diretor superintendente da entidade que reúne as empresas produtoras.
Nas refinarias, o diesel acumulou, até outubro, 65,5% de aumento. No litro que chega ao consumidor, o diesel B, a formação de preço chegou a 56%% até agora, com acréscimo de 9% em 2021, contra a participação de 13%,7% do biodiesel, cujo aumento desde janeiro foi de 0,1%, nas contas da Ubrabio.
Em paralelo, pode-se dizer que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que ratificou o novo modelo no último dia 20, deixou uma porta aberta para um potencial desequilíbrio no abastecimento em algumas regiões.
Não por parte da oferta de biodiesel especificamente, uma vez que a capacidade instalada é de 12 bilhões de litros ano e a produção, até dezembro, acumulará déficit de 6 bilhões, segundo o executivo.
O mercado distribuidor pode conseguir empurrar seu poder de preços sobre regiões com forte demanda, mas não em todos os lugares. O desvio da oferta será, logicamente, onde há mais poder de compra.
Quanto ao teor de mistura, o órgão colegiado do Ministério de Minas Energia (MME) reduziu de 13% para 10%, desde o leilão de março, a quantidade de biodiesel no óleo diesel consumido. E não confirmou a volta para a meta estabelecida de 13%, o B13.
“Com a safra de soja andando e faltando menos de 60 dias para o início do novo modelo, não sabemos quanto teremos que adquirir de matéria-prima, quanto vamos produzir e quanto vamos vender”, enfatiza Tokarski, lembrando as empresas do setor não conseguem virar a chave para outro produto. Na comparação com as usinas de etanol, o mix entre açúcar e biocombustível oferece opção ao produtor.
As constantes reduções da mistura foram decididas ante o argumento da menor disponibilidade da oleaginosa, a matéria-prima que responde pelo volume mais maciço de biodiesel, porém sempre sob contestação das empresas do setor.
Para completar o risco ao meio-ambiente, o diretor da Ubrabio adiciona o maior risco à saúde. O novo modelo vai ainda deixar com menor margem de controle os níveis de inconformidade no combustível.