Coluna da Priscilla Mendonça

Fim de ano: a época em que o dinheiro prova que é emocional

01 dez 2022, 9:28 - atualizado em 01 dez 2022, 9:28

 

Pessoa segurando cartão em frente a um computador, com decorações de Natal ao redor
Fim de ano é época em que ato de comprar tem efeito exponenciado, seja pelo Nata ou pela passagem para o ano novo, sendo que decisão tomada com o dinheiro é emocial (Imagem: Freepik)

Luzes por toda parte, brilho nos olhos, os abraços mais verdadeiros, as reconciliações, as fartas mesas e os desejos sinceros pela paz abrem a temporada mais bela e fraterna do ano: o fim de ano.

Seja pelo Natal ou pela passagem para o novo ano, é uma época onde repensamos a nossa trajetória, e naturalmente entramos em um processo de auto julgamento do que não queremos repetir como erros e fazer melhor para o ano que segue. O novo é capaz de trazer para nós uma “segunda chance”.

Nesse mar de emoções, batem à nossa porta a necessidade de reconhecer amizades, de compensar ausências, de validar relacionamentos e tantos outros personagens que vêm falar diretamente com o nosso “coração” – lê-se nosso lado emocional – antes de virar para o novo momento.

Baseado em nosso repertório, dentro do contexto em que crescemos voltado ao consumo, esses sentimentos nos levam a uma ação quase que involuntária: comprar! Comprar para agradar, para compensar, para validar, para relembrar, para ser feliz!

Você provavelmente já deve ter comprado algo para agradar alguém, compensar uma ausência, conquistar uma nova relação ou ser aceito por uma pessoa importante ou um grupo, ou mesmo se mimar. E percebe que este efeito é exponenciado no fim de ano?

A nossa bagagem

Ano após ano, as memórias que construímos dos natais desde a nossa infância determinam como tomamos decisões nesta época, o que valorizamos e o que não é tão relevante (seja por não ter feito parte do nosso repertório ou por não trazer boas lembranças). Para alguns, ganhar presentes e presentear é algo indispensável, que traz alegria e realização, enquanto para outros o mesmo ato não traz grandes prazeres.

Partindo desse ponto, começamos a entender que as decisões que tomamos com o nosso dinheiro nesta época é predominantemente emocional e que a memória afetiva tem um forte peso nessa equação, deixando o fator racionalidade ser um mero figurante.

Nos bastidores da mente

Tomamos decisões a todo tempo buscando duas coisas: bem-estar e poupar energia. Com isto dito, imagina um contexto com muitos compromissos, confraternizações, presentes para comprar, lembranças para clientes, comidas para ceia, e acrescente a este pacote a rotina normal de trabalho e as tarefas corriqueiras de casa e da vida pessoal. Um verdadeiro caos na terra!

Todas as decisões acabam sendo tomadas debaixo de muito atropelo pois a vida está acontecendo intensamente e com uma boa dose da emoção que já faz parte da nossa natureza.

O nosso corpo é tão perfeito que para poupar a nossa energia em meio a esse caos, a nossa mente se utiliza de atalhos na hora de decidir, também chamados de vieses cognitivos. No entanto, essa poupança de energia pode nos conduzir a decisões rápidas e pouco deliberadas e que podem ser não tão saudáveis do ponto de vista financeiro (acontece quando nos arrependemos por ter comprado algo porque estávamos apressados, por exemplo).

Do ponto de vista financeiro, vale elencar dois vieses bem atuantes em nosso repertório nesta época para que você tome decisões mais conscientes:

  • confiança excessiva: quando confiamos demasiadamente na nossa capacidade de decisão, subestimando os riscos de não planejar e acompanhar as finanças. Confiar que tudo vai dar certo;
  • contabilidade mental: tendemos a organizar mentalmente os nossos recursos, no entanto, devido à racionalidade limitada nossas decisões conflitam com a realidade financeira.

O cartão de crédito é um campo perfeito para se perder nas contas, uma vez que a dor do pagamento é mínima e demanda uma menor necessidade de checagem do saldo em conta. Com a quantidade de lançamentos (compras) que realizamos, muitas vezes há uma dificuldade de encaixar na rotina a tarefa de atualizar e confrontar com os recursos disponíveis.

O resultado: um ano novo com parcelas do velho ano. Um looping eterno que acontece ano após ano pela falta de planejamento e de conhecimento como funcionamos debaixo de determinados estímulos.

Uma saída: a lista de desejos e a racionalização das emoções

E como tornar mais racional esse momento emocional?

Devemos partir do grande desejo de iniciar um novo ano leve financeiramente, utilizando o incômodo de levar dívidas e parcelas para o ano seguinte como uma força propulsora para fazer sentido a mudança. Repensar sobre o que reproduzimos como consumo também é um caminho interessante para entender se nossas compras podem estar refletindo as necessidades de terceiros e não as nossas.

Este artigo não é uma crítica ao consumo, mas um convite para que as compras “emocionais” não te leve a sentimentos ruins como frustração, culpa e ansiedade.

Para isso, vale um passo a passo para que você aplique desde já, com direito a colocar para tocar uma playlist de Natal para você se inspirar enquanto faz:

  • Liste os eventos que você irá participar e o que demanda financeiramente esta participação: devo comprar roupa, existe um valor de entrada, presentes para levar?;
  • Relacione as pessoas que você quer presentear e estipule valores para cada presente;
  • Pesquise preços na internet antes mesmo de efetuar a compra em lojas físicas. Ancorar valores baseado em pesquisa prévia nos ajuda a decidir de forma mais assertiva;
  • Ao final, encaixe esses valores dentro do seu orçamento. Não coube? É hora de rever prioridades e repensar a participação em “todos” os eventos.

O mais importante: a reconciliação com o seu orçamento será sua maior meta para terminar seu ano!

*Priscilla Mendonça é Educadora Financeira e diretora de Fomento Econômico e Social na Prefeitura Municipal de João Pessoa

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