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Fim de acordo do Mar Negro implica em pico de preços e maiores impactos no trigo, diz Cogo

18 jul 2023, 10:39 - atualizado em 18 jul 2023, 10:39
Ucrânia mar negro grãos
Tratado entre Rússia e Ucrânia que permitia as exportações de grãos ucranianos terminou nesta segunda-feira (17) e deve impactar o mercado (Imagem: REUTERS/Igor Tkachenko/File Photo)

O pacto que permitia o escoamento de grãos da Ucrânia pelo Mar Negro expirou nesta segunda-feira (17), após a Rússia suspender sua participação.

O acordo visava aliviar uma crise global de alimentos, permitindo que os grãos ucranianos bloqueados pelo conflito Rússia-Ucrânia fossem exportados com segurança.

Sobre o tema e os seus impactos para a economia global, o Agro Times conversou com Carlos Cogo, sócio-diretor de consultoria da Cogo Inteligência em Agronegócio.

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Impactos do fim do acordo do Mar Negro

Cogo ressalta que o acordo foi negociado inicialmente em julho de 2022, em meio a um cenário de alta nos preços globais de alimentos, depois que a invasão russa à Ucrânia interrompeu as exportações pelo Mar Negro.

“A Rússia anunciou sua retirada do acordo após meses de ameaças, mas informou que pode retomar o pacto se suas exigências forem atendidas. O país tem usado o acordo como moeda de troca, pedindo que sejam facilitadas as exportações russas de fertilizantes e alimentos”, explica.

Na visão de Cogo, a não renovação do acordo de grãos entre a Rússia e Ucrânia pode provocar um novo pico nos preços dos alimentos, que deve perdurar por tempo indeterminado.

“O acordo de grãos do Mar Negro permitiu que 36,2 milhões de toneladas de alimentos fossem exportados da Ucrânia desde agosto de 2022, com mais da metade desse volume destinado para países em desenvolvimento, incluindo aqueles que receberam ajuda do Programa Mundial de Alimentos (PMA)”, comenta.

Problemas para o trigo

O especialista ressalta ainda que os efeitos da suspensão são potencialmente maiores para o trigo do que para o milho, em função do cenário macroeconômico atual das duas commodities.

“O mercado global de trigo está mais apertado do que o de milho e, portanto, é mais sensível e propenso a aumentos de preços, a desenvolvimentos negativos na oferta. O efeito da não renovação, caso persista, deverá ser maior no curto prazo. Nos médio e longo prazos, temos que considerar que os volumes exportados pela Ucrânia já vêm diminuindo, bem como a capacidade do país de produzir grãos, já que há problemas com infraestrutura de armazenagem e logística no país”, discorre.

A produção de grãos da Ucrânia caiu de uma média de 91,5 milhões de toneladas antes da guerra, para 69,2 milhões de toneladas (projeção para a safra 2023/2024).

Já as exportações de trigo caíram de 21 milhões de toneladas, antes do início da guerra, para 10,5 milhões de toneladas (projeção para 2023/2024).

As exportações de milho, por outro lado, caíram de 30 milhões de toneladas antes do início da guerra, para 19 milhões de toneladas (projeção para 2023/2024).

“Dessa forma, o Brasil ganhou espaços deixados pela Ucrânia no comércio global de milho e em carne de frango (a Ucrânia é uma supridora do mercado europeu)”, finaliza.