Economia

Fim da Selic a 13,75%? O que está levando Campos Neto e o mercado a reduzirem as projeções de inflação

30 maio 2023, 10:52 - atualizado em 30 maio 2023, 10:52
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Ontem, as projeções de inflação passaram de 6,80% para 5,71%. Trata-se da menor previsão desde o Focus de 23 de janeiro. (Imagem: Mehaniq)

Nas últimas semanas, o mercado e o Banco Central estão revisando as suas projeções para a trajetória da inflação. As expectativas estão levando em conta tanto a queda da prévia do Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA-15) para maio, quanto a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.

Os economistas já reduziram pela segunda semana seguida as projeções de inflação, segundo dados do Relatório Focus. A primeira foi no dia 22 de maio, quando as projeções de inflação passaram de 6,03% para 5,80%.

Na época, a Petrobras (PETR3PETR4) anunciou uma mudança na sua política de preços, deixando a paridade internacional de lado. A empresa aproveitou para anunciar cortes relevantes nos combustíveis vendidos em suas distribuidoras.

O litro do diesel A nas distribuidoras passou de R$ 3,46 para R$ 3,02. Trata-se de uma redução de R$ 0,44, ou 12,71%. Já o litro da gasolina A ficou R$ 0,40 mais barato (-12,57%), passando de R$ 3,18 para R$ 2,78. Por fim, o botijão de gás passou de R$ 3,2256 para R$ 2,5356 por kg, equivalente a R$ 32,96 por botijão de 13kg.

Já na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta do arcabouço fiscal com um placar favorável para o governo. Agora, o texto está para análise no Senado. Além disso, prévia da inflação, subiu 0,51% em maio, desacelerando-se em relação à alta de 0,57% apurada em abril. O indicador acumulada alta em 12 meses de +4,07%, de +4,16% no mês anterior.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, ainda lembra que o programa de valorização dos carros populares também afetam as expectativas inflacionárias.

“A medida do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, que afirmou que o imposto incidente sobre automóveis será reduzido com potencial impacto sobre o preço entre 1,5% e 10,9%, no qual, avaliamos que o impacto efetivo sobre a inflação não deverá superar os -10bps”, afirma.

Com isso, as projeções de inflação passaram de 6,80% para 5,71%. Trata-se da menor previsão desde o Focus de 23 de janeiro.

Selic em 13,75%

Apesar das melhoras, as apostas em relação ao início da queda da Selic seguem apontando para mudanças apenas no segundo semestre, entre agosto e setembro. A taxa básica de juros está sendo mantida no patamar de 13,75% ao ano desde agosto do ano passado.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 20 e 21 de junho. Até lá, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco que votar o arcabouço fiscal na Casa. Caso ele seja aprovado, seria mais uma sinalização do governo em direção à responsabilidade fiscal, o que poderia ajudar a derrubar ainda mais as expectativas de inflação a longo prazo.

Também já são sete semanas seguidas que o mercado projeta que o ano de 2023 termina com Selic em 12,50%.

Inflação para o Banco Central

Ontem, durante a Prêmio Inovação para o Desenvolvimento Econômico, Roberto Campos Neto destacou que, pela primeira vez na história, o mundo passa por um surto de inflação e o Brasil registra índices de preços abaixo da média internacional.

Segundo ele, esse resultado se deu, em parte, à decisão da autoridade monetária brasileira de começar a subir os juros antes das demais economias.

Campos Neto também apontou que a inflação cheia no Brasil foi a que mais caiu entre os países emergentes, mas que os núcleos ainda demandam atenção. “Vemos que a média de núcleos está caindo, o que é bom, mas mais lentamente que o esperado”, disse. “Ainda temos expectativas de inflação de longo prazo elevadas”, completou.

Para ele, o país entrou em uma “janela” na qual os núcleos da inflação devem continuar em queda.

O presidente do Banco Central também acenou para o governo ao dizer que parte das incertezas fiscais já estão endereçadas com o arcabouço fiscal e que a redução dos riscos com a gestão das contas públicas deve ajudar na melhora das expectativas de inflação.

Rafael Passos, analista da Ajax Capital, aponta que Campos Neto mudou o tom sobre a economia, principalmente em relação à inflação cheia cedendo – ainda que em ritmo mais lento. “Ele ainda reforçou que as expectativas de inflação vêm caindo nas últimas semanas, mas a de longo prazo ainda permanecem em 4% em meio aos ruídos envolvendo a meta de inflação”, diz.

No entanto, em sua última ata, o Copom destacou que, para o segundo trimestre, é, sim, esperada uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses em função do efeito base do ano anterior.

Em maio e junho de 2022, o IPCA mensal se encontrava abaixo do 1% e isso vai influenciar nos números acumulados dos próximos meses. Além disso, entre julho e setembro, o país registro deflação. Por outro lado, o segundo semestre deve ser marcado por uma volta na alta dos preços.

“No segundo semestre, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, aponta o texto.

Além disso, as expectativas de inflação do Banco Central seguem desancoradas das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

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