Fim da linha? BTG não vê mais espaço para corte de juros em 2024 e projeta Selic terminal a 10,50%
Para o BTG Pactual, o ciclo de flexibilização da política monetária brasileira chegou ao fim. Os economistas do banco esperam que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a Selic em 10,50% pelas próximas cinco reuniões até o final de 2024.
Na ata do encontro de maio, todos os membros do comitê já concordaram em adotar uma política monetária mais contracionista e cautelosa, sem orientação futura, devido ao cenário global incerto, à atividade doméstica resiliente e às expectativas de inflação não ancoradas.
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“Acreditamos que as notícias desde a última reunião deverão reforçar a postura cautelosa do Comitê à margem”, avaliam Claudio Ferraz, Bruno Balassiano e Bruno Martins.
Os economistas acreditam ainda que, com a “evidente deterioração das expectativas de inflação e das condições de mercado”, a probabilidade de uma decisão unânime do Copom na próxima reunião aumentou.
“A falta de unanimidade, mesmo que não tão generalizada como em maio, teria um efeito consideravelmente negativo sobre as expectativas. Acreditamos também que o Comitê deveria evitar mencionar abertamente que a decisão representa uma pausa neste ciclo”, explicam.
Probabilidade de cenários alternativos para a Selic é baixa
Os economistas do BTG atribuem, por enquanto, uma probabilidade baixa de cenários alternativos para a taxa Selic neste ano.
Ainda assim, Ferraz, Balassiano e Martins seguem atentos a uma desancoragem mais substancial das expectativas de inflação e à deterioração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em si, considerando uma nova piora do preço dos ativos ligada às inconsistências da política fiscal.
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Decisões unânimes nas próximas reuniões do Copom, a publicação do decreto que fixa as regras do arcabouço, mantendo a meta em 3%, e, principalmente, uma orientação conservadora da política orçamental seriam fundamentais para evitar futuros cenários alternativos desfavoráveis para a política monetária.
“Ainda será necessário um maior apoio à política orçamental para garantir que a desancoragem das expectativas não se aprofunde ainda mais”, avaliam.
Falas de Campos Neto e Galípolo acedem sinal amarelo
Os economistas do BTG destacam o tom mais conservador dos membros do Copom nas últimas semanas, após a reunião de maio. “Provavelmente, estão preocupados com o risco de perder credibilidade no compromisso de combater a inflação e ancorar as expectativas”, afirmam.
Sobre o ambiente externo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou dúvidas sobre “como e quando” ocorrerá a desinflação global, destacando a possibilidade de um cenário de desaceleração com inflação ainda elevada.
Ele também disse que “apesar das altas taxas de juros nos Estados Unidos, as condições financeiras permanecem relativamente flexíveis” e que “os cortes nas taxas globais podem ser modestos”.
Quanto ao ambiente doméstico, Campos Neto indicou que o IPCA está “em processo de convergência”. Por outro lado, afirmou que “se o BC conduzisse a política monetária utilizando a inflação corrente, seria como dirigir um carro olhando pelo retrovisor”.
O diretor Gabriel Galípolo, por sua vez, demonstrou preocupação com a desancoragem das expectativas, sendo “o principal ponto de desconforto do Comitê”. Além disso, disse que vê “grande valor em um consenso” nas decisões.