Coluna do João Baptista Peixoto Neto

FIDCs serão a alavanca para o novo crédito consignado privado

14 fev 2025, 11:43 - atualizado em 14 fev 2025, 11:43
renda fixa - anbima
Alguns FIDCs desse tipo já vêm sendo lançados, independentemente da aprovação da mudança do consignado (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O novo consignado privado provocará uma expansão do crédito por todo o país. Espera-se que a carteira do produto seja multiplicada por cinco nos próximos anos, com um efeito similar ao que o Pix teve no mercado de pagamentos.

O projeto do governo envolve o uso da base de dados do eSocial, sistema por intermédio do qual as empresas informam à Receita os dados dos contratos de trabalho dos seus empregados.

Hoje, somente R$ 40 bilhões correspondem ao estoque nessa modalidade de crédito, mas o potencial de crescimento com a mudança é gigante.

Segundo a projeção da Techfin Oneblinc, que trabalha com dados alternativos para a concessão de crédito, o montante movimentado pelo consignado privado deve superar os R$ 700 bilhões até 2030.

A conta leva em consideração os cerca de 45 milhões de trabalhadores do regime CLT que passarão a ter acesso facilitado a esta modalidade de crédito. 

No modelo atual de consignado privado, o processo não é centralizado. Para oferecer o produto, os bancos precisam firmar convênios com as empresas. A pulverização dos trabalhadores formais no País aumenta os custos e reduz o alcance, o que o setor e o governo veem como o principal entrave para o crescimento.

De acordo com um estudo do Banco Central, 70% dos trabalhadores trocariam de empresa caso o novo empregador oferecesse essa modalidade de crédito como benefício.

No entanto, menos de 10% das pequenas e médias empresas (PMEs) conseguem disponibilizar essa opção para seus funcionários.

Atualmente, a modalidade de crédito consignado é muito forte para os funcionários do setor público, sendo uma das melhores opções de linha de crédito disponíveis no mercado.

Os cerca de 10 milhões de funcionários públicos e 40 milhões de aposentados e pensionistas do INSS já movimentam uma carteira de R$ 600 bilhões, que é a segunda maior carteira no setor bancário, abaixo apenas da carteira de crédito imobiliário. 

A mudança no consignado privado, prestes a ser realizada, traz grandes oportunidades para as gestoras de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs), que poderão atuar fortemente nesse segmento.

Os FIDCs são fundos que têm como objetivo adquirir créditos originados em diversas operações.

Novos FIDCs poderão ser estruturados para adquirir as carteiras de bancos médios e de financeiras, pois as gestoras têm capacidade de atrair capital muito além dos limites que os bancos médios podem conceder em seus balanços por causas das regras do Banco Central e do Acordo de Basiléia.  

Vale lembrar que o cenário do crédito no Brasil tem passado por transformações, com uma crescente migração do tradicional mercado bancário para o mercado de capitais.

Essa mudança tem permitido a redução de custos nas operações de crédito, diminuição do spread, a oportunidade para inúmeras fintechs e pode tornar o consignado privado uma das maiores carteiras de crédito tanto nos bancos como nos fundos de crédito privado. 

Alguns FIDCs desse tipo já vêm sendo lançados, independentemente da aprovação da mudança do consignado.

Um exemplo é o da fintech GooRoo Crédito, que desenvolveu uma plataforma que permite que empresas de qualquer porte, a partir de um único colaborador, ofereçam crédito consignado direto na folha de pagamento.

O novo fundo, no valor de R$ 200 milhões já comprometidos, é uma solução financeira inovadora para um mercado que ainda enfrenta desafios de acessibilidade e inclusão financeira e vem crescendo exponencialmente. 

O FIDC é o produto ideal para financiar esse grande volume de crédito que está por vir, possibilitando o atendimento de um número cada vez maior de empresas e trabalhadores, e promovendo uma transformação no mercado de crédito consignado privado.

Esse será um marco no setor financeiro, redefinindo a forma como pequenas e médias empresas acessam esse tipo de benefício para seus colaboradores.

Do lado do investidor, as cotas seniores desses fundos oferecem uma rentabilidade superior àquela dos ativos tradicionais de renda fixa, o que tem levado à popularização deste tipo de investimento.

A previsão é que em poucos anos, o número de investidores pessoas físicas em FIDCs superará os 2,5 milhões que atualmente aplicam em Fundos Imobiliários (FIIs).

Fundador e Diretor Presidente da Ouro Preto Investimentos
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.
joao.neto@moneytimes.com.br
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.