Fiagros: Selic em 13,25% ajuda rentabilidade, mas pesa sobre dívidas e custos; ‘despesas podem atingir 19%’
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu na semana passada elevar a Selic para o patamar de 13,25%, uma alta de 1 ponto percentual (p.p.)
Segundo Caio Nabuco, analista da Empiricus Research, em termos de rendimento dos Fiagros, a Selic mais alta pode significar um aumento em fundos específicos, já que alguns deles são indexados ao CDI, como CRIs, CRA’s e CDI+.
“No entanto, essa elevação da Selic, atingindo quase 15%, encarece a dívida dos devedores, dos produtores da cadeia como um todo. E dado que temos um nível de margem mais comprimida, com um cenário ainda de recuperação em partes da cadeia do agronegócio, poderemos ver alguns players com dificuldades para honrar as suas obrigações no que diz respeito a pagamento e amortização e juros”, explica.
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O ano de 2024 ficou marcado por desafios para os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócios (Fiagros), em um cenário de margens comprimidas, principalmente para soja e milho. Fora isso, o setor foi afetado por problemas com crédito e um recorde para os pedidos de recuperação judicial.
Vale lembrar que o risco de crédito nas carteiras de Fiagros aumenta à medida que os devedores enfrentam dificuldades em pagar suas dívidas.
Selic elevada e os efeitos ao produtor
Para 2025, Tarik Thome, sócio e analista de Renda Fixa da Arton Advisors, não acredita em uma melhora dos Fiagros, apesar do forte crescimento dessa indústria entre 2021 e 2022, com os fundos já superando R$ 40 bilhões sob custódia.
“Muitos Fiagros tiveram em 2024 pedidos de recuperação judicial e reestruturação de dívida, o que levou a uma queda mais brusca nos preços dos fundos e contaminou os Fiagros que não tiveram eventos de créditos, um efeito manada. Com essa sinalização de juros alto, acima de 15% em boa parte das operações, operações pagando CDI+5 e CDI+6 ficam muito custosas para empresas e para os produtores rurais principalmente pagarem esse custo da dívida”, explica.
Raphael Vieira, co-head de investimentos da Arton Advisors, também enxerga um cenário desafiador para as despesas do produtor
“Pensa que o produtor rural que se financia a CDI+3 e CDI+4, se as expectativas de juros que estão na curva se concretizarem, estamos falando de uma despesa financeira de 18% a 19% ao ano, bastante elevado”.
Quanto a possível tributação dos fundos, Vieira acredita que essa questão será derrubada.
“O próprio Haddad disse na semana passada que o governo não tem interesse em taxar os fundos imobiliários, que inclui os Fiagros, então não é algo que temos visto com preocupação, mesmo porque a incidência do imposto se daria muito nos ativos que são de terras ou de tijolo. Como os Fiagros na sua maioria são carteiras de créditos, de ativos recebíveis, você não teria essa incidência do IVA (Imposto sobre Valor Agregado)”.