Fiagros: Inadimplência de produtores traz insegurança e acende alerta; ‘Fundos não são filé mignon do agro’
A alta das commodities agrícolas no mercado internacional, em função principalmente do clima mais seco nos Estados Unidos e do avanço do conflito no Mar Negro entre Rússia e Ucrânia, resultou em avanço para soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT), trazendo um cenário de preocupação para os Fundos de Investimento do Agronegócio, os chamados fiagros.
Na semana passada, o impasse em torno do fundo imobiliário BTG Pactual Terras Agrícolas (BRTA11) e a inadimplência do Grupo Bergamasco ganhou destaque após a empresa suspender os pagamentos alegando que o acordo se tornou impagável com a nova dinâmica de preços dos grãos.
Com isso, surge a questão: existe um sinal de alerta para os fiagros?
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Situação atual dos fiagros
Assim, para Caio Nabuco de Araujo, analista de fundos imobiliários da Empiricus Research, existe sim uma insegurança quanto à volatilidade nos preços das commodities desde meados do primeiro semestre de 2023.
“Olhamos com ceticismo para as teses de investimento para os fiagros, que são muito pautadas em créditos com garantias. São CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) que trazem um reforço de segurança. Porém, quando olhamos os devedores, muitos deles não estão posicionados como ‘premiums’ do setor, são tomadores de dívidas que muitas vezes estão em restruturação ou estão em crescimento, e podem ter dificuldade de solvência de curto prazo”, explica.
Segundo Nabuco, os fiagros não são o “filé mignon do agronegócio” no momento, com os fundos sendo mais sensíveis à mudanças de ciclos e dinâmicas.
“Desde o semestre passado, com a queda das commodities e principalmente dos grãos, algumas safras ficam bastante prejudicadas. Para alguns indicadores, pensando no Brasil, existe certa preocupação, com o nível de comercialização no primeiro semestre deste ano abaixo da média dos últimos anos, gerando estoques mais elevados e sem perspectivas para recuperação nos preços das commodities no curto prazo”, diz.
O analista ressalta que a Empiricus Research não conta com recomendação de compra para nenhum fiagro.
Queda da Selic e El Niño
Pensando em uma possível queda na Selic, projetada pelo mercado para esta quarta-feira (2), o analista explica que as carteiras dos fiagros são compostas por CRAs, que contam majoritariamente com rentabilidade CDI + taxa prefixada, o que pode gerar impactos aos fundos.
“Uma queda da Selic e, consequentemente, do CDI, resultaria em redução no rendimento das carteiras, sendo esse um ponto a se considerar. Porém, a queda da taxa básica de juros resulta em uma queda no risco de inadimplência. O devedor que pode estar com uma rentabilidade menor na operação, com a queda da Selic, paga menos serviço de dívida, reduzindo o risco de inadimplência, mas, como efeito imediato, é mais perceptível uma queda na rentabilidade das carteiras,” discorre.
Quanto ao El Niño, fenômeno climático que provoca o aquecimento nas águas do Oceano Pacífico e aumenta o volume de chuvas no Sul, enquanto traz seca ao Norte/Nordeste, há um cenário de incerteza.
“Existem riscos, mas vimos fenômenos semelhantes em anos anteriores. Com isso, acho que o mercado está mais acostumado e tem menor influência da preços”, comenta.
Por fim, na visão de Nabuco, as maiores exposições dos fiagros no curto prazo ficam para os fundos atrelados a grãos, sucroenergia, insumos e cooperativas.