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Fiagro: 2024 guarda surpresas; veja o que esperar

17 jan 2024, 15:54 - atualizado em 17 jan 2024, 15:54
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O agro também foi prejudicado pela elevação dos preços de insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Entre 1º de janeiro e 30 de novembro de 2023, o patrimônio líquido dos Fiagros saltou de R$ 12,4 bilhões para R$ 19,1 bilhões, acréscimo de R$ 6,7 bilhões. São os dados mais recentes, até o momento, disponibilizados pela Anbima.

Há um consenso de que o resultado poderia ser melhor, mas também existe a ponderação de que 2023 foi um ano bastante desafiador, o que torna o desempenho muito satisfatório diante das dificuldades. Sendo assim, as expectativas em relação aos Fiagros ao longo de 2024 são positivas.

Antes de falar do futuro, porém, convém lembrar de alguns acontecimentos do ano anterior. Começamos 2023 com um novo governo, muitas dúvidas e taxa básica de juros de 13,75%, muito alta para uma economia que já dava sinais de entrar em recessão.

Selic alta, como todos sabemos, costuma favorecer investimentos de renda fixa protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito, em detrimento de ativos de maior risco.

As pessoas correm para títulos do governo, entre outros papéis com rendimento atrativo e que contam com tal proteção, esvaziando o mercado de renda variável. Só em setembro o cenário começou a mudar com a primeira redução para 12,75% seguida de outras até chegar no patamar atual de 11,75%.

Tivemos também com problemas climáticos, em parte culpa do El Niño, em parte culpa da ação humana. Os Estados do Sul do Brasil, principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sofreram com chuvas torrenciais provocadas por tempestades extratropicais, que causaram enchentes, destruição e prejuízos às plantações e à agropecuária.

O agro também foi prejudicado pela elevação dos preços de insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas. O Brasil é grande importador desses produtos e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio contribuíram para a elevação dos preços diminuindo a margem de lucro dos produtores.

Tudo isso impacta na rentabilidade dos ativos que compõem os Fiagros e inibe o surgimento de novos fundos, reduzindo o nível de captação. Mesmo assim, o patrimônio dos Fiagros só fez crescer. E é por esta razão que a maioria dos especialistas estão otimistas.

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Problemas sempre existirão, mas alguns deles estão sendo resolvidos e vão atrapalhar menos daqui para frente. A taxa Selic é uma delas. Sua diminuição tende a destravar a economia. Projetos de interesse do agronegócio que estavam parados tendem a ser destravados e isso é bom para os fundos voltados à cadeia agroindustrial e a seus investidores.

A criação por parte da CVM de uma legislação específica para o Fiagro – hoje este tipo de fundo se apoia provisoriamente nas regras dos Fundos Imobiliários – também é um ponto positivo a ser considerado. A nova regra, que está em fase de consulta pública até o final do mês, prevê a possibilidade de maior diversificação do portfólio, além da originação de fundos com ativos que atendam aos conceitos ESG, o que deve atrair novos investidores.

E como o Fiagro não está ligado apenas a propriedades rurais, plantações e pecuária, pelo contrário, envolve a indústria relacionada ao setor, a decisão do governo de aumentar a produção local de fertilizantes é uma das melhores notícias que poderíamos ter. Os projetos para produzir esses insumos por aqui vão necessitar de financiamentos gerando oportunidades para a criação de novos Fiagros.

Não dá para concluir este artigo sem voltar a citar a questão climática. É por causa do clima que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima queda de 4,2% na produção brasileira de grãos durante a safra 2023/2024 em comparação com a safra 2022/2023. A expectativa é de que o Brasil alcance produção de 306,37 milhões de toneladas ante 319,86 milhões da safra anterior.

Por outro lado, o IPEA, prevê aumento de 13,5% na produção de cana-de-açúcar e de 10% no ritmo de abate de bovinos, desarmando um pouco os mais alarmistas.

Como se vê, uma cultura, de certa forma, compensa a outra. Além disso, produção menor, dependendo das circunstâncias da economia mundial, pode significar preços melhores e margens de lucro maiores, favorecendo a cadeia e de quebra a rentabilidade dos Fiagros.

Finalizando, acredito que somando os prós e contras, 2024 será um ótimo ano para os Fiagros.

O patrimônio continuará a crescer, novos fundos surgirão e o processo de consolidação deste tipo de investimento como oportunidade de crédito aos produtores e de rentabilidade para os investidores vai se manter, assim como aconteceu em 2023.