Economia

FGV/Icomex: guerra se traduz em um novo choque de custos para inflação no Brasil

21 mar 2022, 9:15 - atualizado em 21 mar 2022, 10:11
O Icomex lembra que os preços das commodities já aumentavam desde 2021, um dos fatores de pressão sobre a inflação no País (Imagem: REUTERS/Diego Vara)

A invasão da Ucrânia pela Rússia se traduz em um novo choque de custos para a inflação no Brasil, apontou a Fundação Getulio Vargas (FGV) na divulgação do Indicador de Comércio Exterior (Icomex). “Para o Brasil, o principal efeito no mapeamento dos efeitos diretos da guerra se refere à oferta de fertilizantes e ao aumento no preço das commodities agrícolas e de petróleo”, afirma a nota da FGV.

Segundo o Icomex, a Rússia respondeu por 23,3% das importações brasileiras de produtos classificados como fertilizantes em 2021, seguida pela China (13,7%), Marrocos (10,5%), Canadá (9,8%) e Estados Unidos (5,7%).

O impacto da redução das vendas russas sobre a produção agrícola brasileira vai depender dos estoques de fertilizantes no Brasil, cronograma do plantio das safras, potencial de diversificação da pauta de importações e duração da guerra, enumerou a FGV.

O boletim do Icomex lembra que os preços das commodities já aumentavam desde 2021, um dos fatores de pressão sobre a inflação no País no ano passado.

“Além da elevação do preço do trigo, a questão do aumento do preço do petróleo tem prioridade na agenda da política econômica brasileira”, ressalta o documento. “Para o Brasil, um país com interesses comercias com a China e o Ocidente, fica o desafio de construir uma estratégia que atenda aos interesses dos setores domésticos que operam na economia mundial”, avaliou.

A balança comercial acumulou um superávit de US$ 3,9 bilhões no primeiro bimestre de 2022. O valor exportado cresceu 36,1% no primeiro bimestre ante o mesmo período do ano anterior, e o importado aumentou 30,3%. O volume exportado subiu 16,9%, enquanto o volume importado caiu 2,8%. Os preços das exportações aumentaram 15,9%, e os das importações saltaram 33,9%.

A China manteve a liderança no ranking de maiores compradores de produtos brasileiros, com participação de 24% na pauta do País. Em volume, as exportações brasileiras para a China cresceram 4,1% no primeiro bimestre de 2022 ante o primeiro bimestre de 2021, puxadas pela soja. As importações de produtos chineses aumentaram 8,3% no período.

Os Estados Unidos elevaram em 17,3% o volume de compras de produtos brasileiros no primeiro bimestre. Já o volume importado dos Estados Unidos pelo Brasil cresceu 1,8%.

Nas trocas com os demais principais parceiros comerciais do Brasil, houve aumento no volume exportado, mas redução nas importações: União Europeia (volume exportado cresceu 22,9% no primeiro bimestre, enquanto importações recuaram 2,5%); Argentina (volume exportado subiu 12,0%, importações recuaram 19,3%).

Demais países da América do Sul (alta de 20,5% nas exportações, queda de 19,3% nas importações); Ásia, exceto China e Oriente Médio (alta de 23,6% nas exportações, queda de 13,0% nas importações).

No primeiro bimestre, o comércio com a China foi superavitário em US$ 590 milhões, enquanto que com os Estados Unidos foi deficitário em US$ 2,8 bilhões.

“Os resultados para o primeiro bimestre do ano mostram que a guerra reforça a tendência, já em vigor, do aumento dos preços das commodities e deixa, por enquanto, incertezas quanto aos efeitos sobre a queda do comércio mundial e da oferta de suprimentos, em especial dos fertilizantes, para um dos líderes das exportações brasileiras, o setor agrícola”, concluiu a FGV.

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