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Fernando Carvalho: o Duplo Hedge – criptoativos como estratégia de proteção

21 maio 2020, 13:00 - atualizado em 22 maio 2020, 9:30
Como se proteger da queda de mercado durante a pandemia do coronavírus? A resposta é: criptoativos (Imagem: Freepik/master1305)

A recente valorização do dólar frente ao real, acelerada pela redução das taxas básicas de juros pelo banco central, atraiu a atenção de investidores brasileiros para ativos dolarizados e fez com que muitos alocassem parte de seus portfólios em fundos cambiais, ações internacionais e outros ativos indexados ao dólar.

Além disso, o cenário de instabilidade política e econômica do Brasil trouxe um grau adicional de risco para os ativos locais, fazendo com que os investidores apostassem que, além da própria necessidade de proteção cambial, há uma possibilidade de que ativos de economias mais sólidas e desenvolvidas se recuperem a passos mais rápidos do que a brasileira. Podemos chamar essa estratégia de “duplo hedge”.

Uma opção de investimento que vem se destacando nesse cenário, desde o início da crise global provocada pela COVID-19, são os criptoativos, em especial o bitcoin.

Por terem preços referenciados em dólar, a variação de preço destes ativos em reais é a soma de dois fatores: a variação cambial e a variação de preços em dólar dos próprios criptoativos.

Com uma queda do real superior a 40% frente ao dólar, até esse momento do ano, muitos brasileiros têm repensado seu portfólio de investimentos.

Afinal, de que vale a renda fixa com juros em níveis historicamente baixos? Vale apostar numa retomada do Ibovespa ainda neste ano, se a mais otimista das valorizações for em reais, moeda em franca desvalorização?

A tabela e o gráfico abaixo comparam a performance em reais do bitcoin, com relação a outros ativos de renda variável. Enquanto as Bolsas globais acumulam desvalorizações na casa de dois dígitos no ano, no mesmo período, o bitcoin apresentou excelente retorno em reais:

A proteção do portfólio de investimentos durante crises econômicas não é uma novidade no Brasil, nem nos países vizinhos da América Latina.

Em termos per capita, Buenos Aires tem quase 30% mais negócios, aceitando criptoativos como meio de pagamento do que Nova York, centro financeiro de proporções globais.

O que explica essa diferença é uma conjuntura macroeconômica que resultou numa forte desvalorização da moeda local e incerteza no mercado de câmbio, assim como vem ocorrendo nos últimos meses no mercado brasileiro.

Os argentinos foram uma das populações mais pioneiras no campo de criptoativos, já que os primeiros anos de desenvolvimento do bitcoin (de 2009, quando foi lançado, a 2013, quando passou por sua primeira onda de popularização) coincidiram com um período de intensa desvalorização cambial no país.

A crise financeira também veio acompanhada por controles e restrições que dificultavam a vida de quem queria mover ou preservar valores, justamente o que as moedas digitais podem fazer de melhor.

Em vez de ser apenas “ouro digital”, o Bitcoin provavelmente se tornou a rede de informação e de dados mais resiliente e valiosa do mundo (Imagem: Freepik/lcd2020)

O bitcoin, comumente citado por entusiastas e conhecedores como “ouro digital”, é um criptoativo escasso e com forte rigidez monetária.

Novas unidades são geradas pela rede a uma taxa já conhecida, a qual decresce pela metade a cada 210 mil blocos confirmados na rede, ou quatro anos aproximadamente, num ajuste denominado halving.

Sua emissão não depende de governos ou entidades centralizadas. As regras da rede têm níveis altos de transparência e previsibilidade, o que têm atraído cada vez mais investidores.

No momento atual de crise, quando a incerteza global se junta a uma realidade negativa para a economia nacional, com reflexos claros nas taxas de câmbio, alocar parte do portfólio de investimentos em ativos de proteção vem se demonstrando como uma estratégia eficaz.

Mais do que uma revolução tecnológica, os criptoativos são uma das mais poderosas ferramentas de diversificação à disposição dos mercados hoje.

Fernando Carvalho é administrador de empresas, com 18 anos de experiência em multinacionais em cargos de alta liderança. Possui MBA na University of Pittsburgh (USA), é Certified Bitcoin Professional pelo Crypto Consortium e possui formação no Oxford Blockchain Program da Said Business School (Reino Unido). Estuda e investe na área de criptoativos e blockchain desde 2016, sendo o idealizador e fundador da QR Capital, gestora de recursos especializada nesse nicho de mercado.